Pacto pela sobrevivĂȘncia
Embora seja prematuro, prĂ©-candidatos jĂĄ buscam acordos para garantirem espaço numa eleição que se mostra, antecipadamente, difĂcil para a PresidĂȘncia da RepĂșblica
O governador de SĂŁo Paulo, JoĂŁo Doria, candidato Ă PresidĂȘncia da RepĂșblica, apĂłs vencer a prĂ©via do PSDB, encontrou-se com o ex-ministro SĂ©rgio Moro, tambĂ©m prĂ©-candidato Ă sucessĂŁo do presidente Jair Bolsonaro, e com ele firmou um pacto de nĂŁo agressĂŁo. âTemos que nos protegerâ, justificou. Ambos tentam romper a polarização entre o atual presidente e o ex-presidente Lula, considerando a terceira via a opção viĂĄvel para os eleitores. HĂĄ outros atores tambĂ©m buscando o caminho do meio, o que pode levar ao que o ex-presidente Michel Temer considera um problema: candidatos em demasia na mesma trilha podem se anular.
Temer tem razĂŁo, sobretudo ante o jogo ora jogado nos extremos. Bolsonaro e Lula tĂȘm mĂștuo interesse em se enfrentarem e nĂŁo medirĂŁo esforços para cooptar os adversĂĄrios ou tirĂĄ-los do pĂĄreo, dependendo das circunstĂąncias. TrazĂȘ-los para sua trincheira se faz com ofertas do posto de vice, que Ă© uma cadeira fruto de acordos, e nem sempre de parceria ideolĂłgica. As conversas do petista com o ex-governador Geraldo Alckmin sĂŁo a prova material desse processo. O lĂder tucano, em fase de desembarque do seu partido, sempre foi oposição ao PT, mas estĂĄ sendo cortejado para com ele fazer aliança.
O presidente da RepĂșblica adota a mesma estratĂ©gia. Gostaria de ter um vice evangĂ©lico, mas pode ser um mineiro ou atĂ© mesmo um general, que nĂŁo seja Hamilton MourĂŁo. Se for mineiro, o nome mais cotado Ă© o do senador Rodrigo Pacheco, PSD, tambĂ©m na mira de Lula, que ensaia uma candidatura, mas primeiro mede a extensĂŁo de seu projeto. Em busca do voto de Minas – o segundo maior colĂ©gio eleitoral do partido, tanto Lula quanto Bolsonaro podem fazer concessĂ”es.
O centro Ă© estratĂ©gico para formatação do processo eleitoral de 2022, mas ainda hĂĄ dĂșvidas sobre quem irĂĄ, de fato, representĂĄ-lo, embora seja prematuro fazer especulaçÔes por conta dos prĂłprios prazos. Os partidos poderĂŁo passar por profundas mudanças em março, quando for aberta a janela de migração autorizada pelo TSE. Aliados de hoje podem mudar de trincheira, assim como adversĂĄrios de hoje podem ficar no mesmo barco. Por isso, todas as fichas sĂŁo colocadas em abril, um mĂȘs emblemĂĄtico para a montagem das chapas.
Ademais, com tantos partidos, um dos entraves passa pela formação de palanques nos estados. As candidaturas a governador sĂŁo estratĂ©gicas para os projetos dos presidenciĂĄveis. Em Minas, por exemplo, o ex-presidente Lula admite apoiar a candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), mas os petistas tĂȘm planos de candidatura prĂłpria. ToparĂŁo indicar um vice para o prefeito de Belo Horizonte?
O presidente Jair Bolsonaro tem no governador Romeu Zema um aliado incerto. O dirigente mineiro Ă© prĂłximo do Planalto, estava na comitiva do presidente na visita ao Oriente MĂ©dio, mas seu partido tem candidatura prĂłpria, do cientista polĂtico Felipe dâĂvila, que pode nĂŁo ser um problema, mas dĂĄ margem para o governador, de olho nas pesquisas, ficar num palanque neutro. A conferir.