Encontro marcado
O encontro entre o juiz Sérgio Moro e o ex-presidente Lula, amanhã, em Curitiba, no qual o ex-chefe de Governo será interrogado, extrapolou a instância judicial e tornou-se, pelo menos do lado do ex-presidente, a oportunidade para mobilizar a militância, mostrar ao país a sua “condição de vítima de um longo processo de desqualificação” e, ao mesmo tempo, reforçar sua ideia de disputar a presidência em 2018.
O juiz não caiu na armadilha. Em tese, trata o caso como tantos outros, chegando a pedir aos adversários de Lula, que também têm a pretensão de ir ao Paraná, para que fiquem em casa. O confronto só beneficia o ex-presidente, que chegou a pedir a transmissão ao vivo da sessão para falar, além de Moro, ao país.
A atitude do ex-presidente já era esperada, mas é fundamental que a questão fique restrita ao âmbito da Justiça. Como os demais interrogados, ele terá que esclarecer o que está nos autos e não fazer comício num momento em que o país espera serenidade de suas lideranças. Fazer de uma audiência um evento para falar mais para o público externo do que ao magistrado é um exercício que só aumenta a crise política do país, e não é isso que se espera de um personagem que já ocupou a presidência por oito anos consecutivos.
Sérgio Moro terá também o seu grande teste, mas não deve fazer da audiência um momento para mostrar a sua força. Ao contrário, a serenidade que tem marcado sua presença nas investigações da Lava jato será fundamental para levar o evento a bom termo. Certamente haverá até provocação para que chegue ao extremo de uma prisão do ex-presidente. Pode ser mera especulação, mas em havendo esse tipo de provocação, o melhor a fazer é ir adiante, reservando para a sentença a sua posição definitiva, quando todos os prós e contras já terão sido investigados.