Fortes evidĂȘncias
Acordo entre Legislativo e Governo em torno dos repasses de indenização da Vale não encerra impasses entre as duas casas, que devem se repetir em ano eleitoral
O comunicado feito pelo presidente da Assembleia, Agostinho Patrus, de que o acordo entre o Governo de Minas e a Vale nĂŁo teria mais resistĂȘncia na Assembleia Ă© um avanço. O parlamentar revelou que, apĂłs reuniĂŁo entre as partes, ficou acertado que o repasse para as prefeituras, fonte de todo o imbrĂłglio entre as duas casas, nĂŁo careceria mais de qualquer tipo de convĂȘnio, indo direto para o caixa municipal para ser utilizado nos termos firmados com a mineradora e sob mediação do Tribunal de Justiça.
Falta ainda um pronunciamento do Governo, mas o simples fato de a Assembleia ir para a votação jĂĄ apresenta perspectivas positivas para as partes envolvidas. No caso de Juiz de Fora, o repasse para conclusĂŁo das obras do Hospital Regional Ă© fundamental, mesmo diante de discussĂ”es ainda pendentes de como ele vai funcionar. AlĂ©m disso, como o critĂ©rio de transferĂȘncia de verbas para os municĂpios vai se dar com base em Ăndices populacionais, Juiz de Fora, com cerca de 600 mil habitantes, deve receber uma parcela expressiva.
Oficialmente nĂŁo hĂĄ declaraçÔes, mas sĂŁo fortes as evidĂȘncias eleitorais envolvendo os recentemente enfrentamentos entre Executivo e Legislativo em Minas Gerais. Com o segundo semestre de 2021 jĂĄ em curso, a agenda da Assembleia e do PalĂĄcio se volta claramente para o pleito de 2022, quando o governador – que certamente buscarĂĄ a reeleição – e os deputados estarĂŁo se submetendo ao crivo das urnas.
No caso da Vale, que se espera estar de fato superado, o discurso dos bastidores Ă© emblemĂĄtico: os deputados sinalizam que o governador Romeu Zema quer monitorar os repasses para se aproximar dos prefeitos e, ao mesmo tempo, nĂŁo dar verba para o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, possivelmente o seu principal rival nas urnas. JĂĄ no PalĂĄcio, a leitura Ă© a mesma, sĂł que em sentido inverso.
Quando a corda estava esticada entre o Governo e a mineradora, o Tribunal de Justiça teve importante papel na mediação de conflitos. Seu presidente, desembargador Gilson Lemes, aproximou as partes, e a negociação avançou. No impasse com a Assembleia, ele não esteve presente, pois tratava-se de um embate entre dois poderes, mas fica cada vez mais claro que a razoabilidade é a forma mais adequada para solução de pontos de vistas conflitantes.
O enfrentamento, porĂ©m, nĂŁo deve cessar, apĂłs esse armistĂcio para repasse Ă s prefeituras. A agenda do Governo passa, ainda, por questĂ”es mais crĂticas, como a privatização de ativos do Estado que encontram resistĂȘncia na Assembleia, como a Cemig e a Copasa. O governador disse que um dos motivos de buscar a reeleição Ă© a conclusĂŁo desse projeto, admitindo que dificilmente ele vai avançar na atual legislatura, na qual nĂŁo tem maioria na Assembleia. Mesmo em futuro mandato, terĂĄ que construir uma base capaz de mudar a resistĂȘncia que nĂŁo se esgota no Parlamento.