Ă preciso transparĂȘncia
As emendas sĂŁo uma prerrogativa do mandato, mas suas distribuição deve ocorrer sob critĂ©rios republicanos, o que sempre ocorre, especialmente em perĂodos de campanha
Durante a campanha eleitoral, o entĂŁo candidato Luiz InĂĄcio Lula da Silva dizia que, se eleito (como de fato foi), iria estabelecer critĂ©rios mais rĂgidos para a liberação de recursos frutos de emendas parlamentares por nĂŁo haver transparĂȘncia em diversas situaçÔes, especialmente na ĂĄrea da saĂșde. As emendas Pix tĂȘm sido feitas sem vinculação de projetos especĂficos, caindo direto no caixa do recebedor e impedindo a fiscalização dos organismos de controle.
Por depender de maioria na CĂąmara Federal, especialmente, o presidente, apĂłs a posse, nĂŁo tocou no assunto, mas seu ex-ministro da Justiça, FlĂĄvio Dino, agora no Supremo Tribunal Federal, por indicação do presidente, determinou, na Ășltima quinta-feira, que as emendas individuais dos parlamentares ao Orçamento da UniĂŁo devem seguir critĂ©rios de transparĂȘncia e de rastreabilidade, para garantir a sua execução de forma republicana.
Fazer emendas faz parte da prerrogativa parlamentar em todas as instĂąncias de poder, mas Ă© necessĂĄrio, como destacou o ministro, que se saiba como ela foi estabelecida e, principalmente, para onde foi encaminhada. Em perĂodos eleitorais, elas se tornam uma ferramenta utilizadas pelos polĂticos e, em boa parte das vezes, contemplam projetos apartados do interesse coletivo. Ao fim e ao cabo, se transformaram em objeto de barganha.
O ministro, que teve atĂ© o inĂcio do ano mandato de senador, nĂŁo Ă© contra as emendas, mas tem razĂŁo ao cobrar transparĂȘncia para garantir sua execução dentro dos preceitos que beneficiem a população. Sua decisĂŁo foi motivada por uma ação protocolada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo que apontou o uso inadequado das emendas.
A decisĂŁo vai causar ruĂdos no Congresso e ressuscitarĂĄ o velho discurso de ingerĂȘncia de um poder nas atividades do outro, sobretudo por ocorrer num perĂodo de sucessĂŁo nos comandos da CĂąmara e do Senado. NĂŁo Ă© desconhecido que os membros das mesas diretoras tĂȘm poder para contemplar deputados aliados, o que faz da emenda um instrumento de campanha.
Uma expressiva parcela de municĂpios brasileiros tem nas emendas uma fonte de recursos para implementar seus projetos, jĂĄ que o Fundo de Participação nem sempre tem sobras para investimentos, que acabam sendo executados por emendas de senadores, deputados (federais e estaduais) e vereadores. Ă do jogo, mas Ă© preciso transparĂȘncia em homenagem aos prĂłprios parlamentares que jogam com as regras.
Por tratar-se de uma decisĂŁo polĂȘmica, o caminho ideal Ă© discutir um modelo que continue garantindo as emendas, mas tambĂ©m assegurando que elas serĂŁo executadas sem o jogo de interesses que sĂł beneficia os polĂticos prĂłximos Ă s mesas diretoras. HĂĄ casos de parlamentares que sĂł conseguem emendas por meio de bancadas. Isso ocorre quando estĂŁo fora da lista dos afilhados dos dirigentes. Especialmente no Congresso, nem todos sĂŁo prĂłximos dos lĂderes e acabam ficando no final da fila.