EXEMPLO DE SIMON
Na sua passagem por Juiz de Fora, onde veio para palestra a convite do Instituto Itamar Franco, o ex-senador Pedro Simon defendeu a continuidade da operação Lava Jato a despeito do desfecho do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. No seu entendimento, trata-se de uma operação em defesa do país, da moralidade, e que não se esgota nas instâncias do Governo. Na trincheira da oposição, também há investigados, e, por ser uma ação de Estado e não de Governo, ela tem que ir adiante. Simon fala com propriedade. Com histórico de probidade, típico de uma geração de políticos que via no mandato um sacerdócio, e não um atalho para causas próprias, citou Itamar Franco nas diversas vezes em que foi instado a prestar seu depoimento. O ex-prefeito de Juiz de Fora ocupou a Presidência da República também numa quadra difícil do país, quando o titular, Fernando Collor, foi apeado pelo Congresso. Nos seus dois anos, mostrou que é possível governar sem se comprometer com questões menores. Itamar não transigia com o ilícito.
Simon lembrou também o “modus” de governar que se tornou rotina na instância de poder, inaugurado por José Sarney, único vice que exerceu o mandato em sua plenitude, já que Tancredo Neves morreu antes da posse. Para ficar à frente do Governo, fez acordos de toda sorte com os partidos, algo comum, hoje, no presidencialismo de coalizão. E o resultado é o que se vê: presidentes acuados por partidos com largo apetite e um Congresso de joelhos em busca de cargos e vantagens. Nesse jogo, não há garantias, bastando o primeiro impasse para as relações se comprometerem. A presidente Dilma, que nunca foi afeita ao diálogo com os parlamentares, mudou seu estilo, transigiu nos acordos e, mesmo assim, viu sua base ruir na votação do relatório do impeachment na Câmara Federal.
Não há previsões de mudança, bastando ver os atos iniciais de Michel Temer, que sequer se sentou na cadeira presidencial. São nomes indicados por diversos partidos e articulações para ocupação de espaços. Tudo, pois, continuará como dantes, embora todos saibam que não se trata do melhor caminho. O pior desse enredo, porém, é que ainda não se encontrou o meio ideal, pois o parlamentarismo, que poderia amortizar tais crises, não é aceito pela opinião pública.