Com chuvas, moradores do entorno de Chapéu D’Uvas estão apreensivos
Barragem está com 92,5% da capacidade; Cesama diz que cheia do Paraibuna não tem relação com descargas do manancial
O clima entre os moradores da região da barragem da Represa de Chapéu D’Uvas é de extrema apreensão. Após as fortes chuvas de terça-feira (2), a estrutura atingiu 92,5% da capacidade. Nesta quarta-feira (3), o percentual aumentou para 92,5%. Em 4 de março de 2019, por exemplo, o volume de água correspondia a 48,1% da estrutura. Temendo a possibilidade de transbordamento e alegando falta de orientação sobre como proceder em uma situação de emergência, moradores relatam que há famílias de malas prontas e prestes a abandonar suas casas em Chapéu D’Uvas e Paula Lima, em Juiz de Fora, e na Colônia de São Firmino, em Ewbank da Câmara. Entretanto, em entrevista à Tribuna, o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, garante a segurança da barragem, negando quaisquer riscos de transbordamento, vazamento e rompimento da estrutura.
Uma moradora, que preferiu não se identificar, relatou que não conseguiu dormir à noite. “Eu fiquei monitorando da janela o volume da água. Meu marido está de cama, e estou com muito medo do que possa acontecer. Não há nenhuma informação sobre a real situação da barragem, e o perigo que corremos. Não sabemos se existe sirene, nem como devemos proceder em caso de emergência. É uma angústia muito grande.” Outra moradora da região disse que a família irá abandonar a casa onde vive. “Dói o coração, pois é tudo o que construímos. A nossa história está aqui, mas nada vale mais do que nossas vidas”, desabafou. “Meus pais são idosos, e não podemos esperar uma catástrofe acontecer. Iremos para casa de parentes até que as autoridades se lembrem de nós e deem algum parecer sobre a barragem.” As comunidades de Chapéu D’Uvas e Paula Lima localizam-se abaixo da barragem.
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O diretor Mello do Amaral, no entanto, garante que os moradores cujas residências estão situadas abaixo da estrutura não precisam deixar suas casas. “Fazemos um monitoramento constante da região (de Chapéu D’Uvas). Eu, particularmente, estive lá nesta quarta, por exemplo. A gente observou que, por conta da operação da represa, não existe qualquer tipo de risco para as pessoas que moram abaixo. O que a gente pôde observar é que a mesma chuva que caiu na represa aconteceu de maneira muito intensa abaixo dela. Comunidades como Chapéu D’Uvas e Paula Lima foram atingidas fortemente por uma chuva na terça, que independe da condição da barragem. A gente conversou com os moradores no local e pôde constatar isso. A chuva foi muito forte, mas na localidade e em comunidades próximas. Isso contribuiu para a cheia dos próprios córregos e do Paraibuna.”
Já na Colônia de São Firmino, em Ewbank da Câmara, a incerteza é ainda maior. Após as chuvas de terça-feira, um córrego transbordou e inundou a localidade. Por conta do volume das águas, um casal de idosos e seus netos ficaram presos em casa e precisaram ser socorridos. Não houve registro de vítimas. “Muitas ruas foram alagadas, e várias famílias perderam tudo. Foi muito triste”, contou um morador. “Agora a nossa preocupação é com o volume da represa. Ninguém dá uma orientação, e estamos nos sentindo abandonados com medo de que a imensidão da água leve todo mundo”, afirmou outra moradora. A Colônia de São Firmino, por sua vez, está situada no entorno do lago.
Variações normais
Questionado sobre os riscos aos quais são submetidos os moradores próximos às margens da represa, Mello do Amaral garante que não há recomendações emergenciais a serem feitas, já que o nível do lago sofre variações normais e previstas no projeto da represa. “É importante deixar claro que o lago sofre variações normais em função das chuvas. Se acontece uma forte chuva no lago, a tendência é que ele represe a água e o seu nível suba. Do contrário, se há um período de seca, o lago desce. O que é muito comum e observamos na bacia é que algumas pessoas invadem a área prevista para a inundação da represa. Então, quando o nível da água sobe em determinado ponto, eventualmente atinge a casa dessas pessoas. Temos que deixar claro que essas pessoas não deveriam estar nesse local. Esse local é previsto para ser inundado pela represa até níveis superiores. Só que, ao longo do tempo, as pessoas, ao observar que, eventualmente, a água não chegava a determinados locais, passaram a ocupá-los.”
À época da construção de Chapéu D’Uvas, segundo Marcelo, foram desapropriadas áreas até cinco metros acima do nível máximo da barragem.
‘Nada demonstra que há risco’
A Barragem de Chapéu D’Uvas tem 12 quilômetros quadrados de espelho d’água e volume de 146 milhões de metros cúbicos. O diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, garante que, mesmo com as chuvas, a operação da barragem segue a mesma, uma vez que nada alerta a companhia para quaisquer tipos de risco, como vazamento, transbordamento, rompimento e inundação do Rio Paraibuna. Conforme cálculos conservadores, a vazão média da barragem de Chapéu D’Uvas é de 15 metros cúbicos por segundo, índice correspondente a apenas 5,7% da vazão atualmente em curso no Paraibuna. Conforme Mello do Amaral, o nível da represa subiu em razão das precipitações registradas também nos municípios de Antônio Carlos, Ewbank da Câmara e Santos Dumont, situados acima da barragem.
“Não há nada de extraordinário em relação à operação da Barragem de Chapéu D’Uvas. Está sendo feita como vinha nos meses anteriores. A gente vem operando e monitorando a represa, e não há nada que nos alerte em relação a qualquer tipo de risco. O que está sendo divulgado me parece uma boataria. Com relação à uma eventual percepção dos moradores no entorno do lago, que moram na região acima da barragem e percebem uma subida da água, isso realmente ocorreu em função das fortes chuvas para cima da represa. As chuvas em outros municípios acabam convergindo para o lago. E, se não fosse a represa, a água chegaria imediatamente a Juiz de Fora. Então, a represa de Chapéu D’Uvas cumpriu, ao longo destes meses todos, a função de represar a água das chuvas, e, com isso, certamente o seu nível sobe, mas não há nada que demonstre para a gente que exista um risco de rompimento, muito menos de transbordamento”, assegura o diretor.
De acordo com Mello do Amaral, a Cesama tem uma “certa folga” em níveis operacionais, pois há ainda mais de cinco metros do nível da barragem para um eventual transbordamento. “Temos certa folga, porque consideramos os níveis operacionais, o que representa uma margem de segurança além dos 100% que acompanhamos no nosso site. A capacidade máxima de 100% é operacional. O projeto da represa prevê, inclusive, uma folga além dos 100%. As pessoas podem ficar tranquilas, porque, dentro da capacidade máxima, não existe nenhuma evidência de qualquer risco de rompimento e alagamento. É muito importante deixar claro que o que se solta de água para controle operacional da barragem pouco influencia na vazão do rio na região central de Juiz de Fora. A contribuição da barragem para o nível do rio é muito pequena percentualmente. Não cria qualquer motivo para as pessoas acharem que o rio subiu por conta de Chapéu D’Uvas. Na verdade, é o contrário: se não existisse Chapéu D’Uvas, o Rio Paraibuna teria passado e muito do nível que ele se encontrou ontem e hoje.”
Sem alteração
Segundo o diretor da Cesama, a cheia do Rio Paraibuna nada tem a ver com a vazão de descarga da Barragem de Chapéu D’Uvas, que continuará funcionando normalmente. “A gente percebe que variar a descarga na represa pouco influencia no nível do Paraibuna. Então, por uma questão de regra operacional da represa, a gente não pretende fazer alteração nessas regras. A barragem vai continuar funcionando normalmente e cumprindo o seu papel, ou seja, quando houver uma chuva acima dela, ela faz o processo de acumulação. Por conta da represa, não há nenhum perigo de inundação na região central. Só por conta de chuva.” Em condição de cheia, a vazão do Paraibuna ultrapassa 230 metros cúbicos por segundo.
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