Ministros do STF e TSE criticam interferĂȘncias em universidades
Para Marco AurĂ©lio, ‘universidade Ă© campo do saber” e “o saber pressupĂ”e liberdade”
O ministro Marco AurĂ©lio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira (26), que toda interferĂȘncia na autonomia das universidades Ă©, de inĂcio, “incabĂvel”, ao comentar sobre decisĂ”es judiciais que coibiram supostas propagandas eleitorais irregulares em instituiçÔes de ensino pelo paĂs. Marco AurĂ©lio ressaltou que a universidade Ă© “campo do saber”, caracterĂstica que pressupĂ”e liberdade “no pensar” e de “expressar ideias”.
Apesar de ressalvar que seu pronunciamento nĂŁo se refere especificamente sobre a atuação da Justiça Eleitoral nos casos, Marco AurĂ©lio destacou que a “quadra Ă© de extremos” e “perigosa” Para o ministro, Ă© preciso que a Justiça tenha cautela, para que a situação nĂŁo chegue a extremos.
“Universidade Ă© campo do saber. O saber pressupĂ”e liberdade, liberdade no pensar, liberdade de expressar ideias. InterferĂȘncia externa Ă©, de regra, indevida. Vinga a autonomia universitĂĄria. Toda interferĂȘncia Ă©, de inĂcio, incabĂvel. Essa Ă© a Ăłtica a ser observada. Falo de uma forma geral. NĂŁo me pronuncio especificamente sobre a atuação da Justiça Eleitoral. Mas reconheço que a quadra Ă© de extremos. Por isso Ă© perigosa, em termos de Estado DemocrĂĄtico de Direito. Esse Ă© o meu pensamento”, afirmou Marco AurĂ©lio.
Um outro ministro do STF ouvido em carĂĄter reservado pela reportagem definiu os episĂłdios como um “um horror”. Um integrante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que preferiu nĂŁo ser identificado destacou Ă reportagem que manifestaçÔes partidĂĄrias em prĂ©dios pĂșblicos sĂŁo proibidas, mas lembrou que isso nĂŁo se aplica a atos genĂ©ricos, sem conteĂșdo partidĂĄrio, que discutam polĂtica. Para este ministro, a atuação de Tribunais Regionais Eleitorais nestes casos apresenta um “rigor excessivo”. Ele tambĂ©m destacou, por outro lado, que Ă© preciso entender se hĂĄ alguma ação organizada, o que pode ensejar algum rigor maior da Justiça. Por sua vez, um outro ministro da Corte Eleitoral acredita que houve abuso de autoridade.
A Procuradoria Federal dos Direitos do CidadĂŁo, ĂłrgĂŁo do MinistĂ©rio PĂșblico Federal, lançou nota pĂșblica em que ressalta que a vedação de uso de bens pĂșblicos para propaganda eleitoral nĂŁo se confunde com a proibição do debate de ideias. “Nem mesmo a maior ou menor conexĂŁo ou antagonismo de determinada agremiação polĂtica ou candidatura com alguns dos valores constitucionais pode servir de fundamento para que esses valores deixem de ser manifestados e discutidos publicamente”. Questionado se seria responsĂĄvel por algum tipo de orientação ou direcionamento nos casos, o TSE apenas destacou em nota que tais decisĂ”es nĂŁo partiram da Corte Eleitoral.
O ministro do Supremo Gilmar Mendes afirmou que Ă© preciso “ter cautela” em açÔes em universidades pĂșblicas por conta de manifestaçÔes a favor ou contra os candidatos Ă PresidĂȘncia. “Em geral (as universidades) tĂȘm uma ebulição que Ă© positiva, que nĂŁo necessariamente estĂŁo afeitos ao perĂodo eleitoral”, afirmou o ministro.
PF fez ação em 17 universidades
Pelo menos duas universidades â a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na ParaĂba, e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Campus de Serrinha (a 175 km de Salvador) â foram alvo nesta quinta-feira (25), de açÔes da Justiça Eleitoral ou do MinistĂ©rio PĂșblico Eleitoral por suposta propaganda eleitoral irregular a favor do candidato do PT ao PalĂĄcio do Planalto, Fernando Haddad, que disputa o segundo turno das eleiçÔes presidenciais com Jair Bolsonaro (PSL).
JĂĄ na Universidade Federal de Grandes Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul, a PolĂcia Federal impediu, na manhĂŁ desta quinta, a mando do juiz eleitoral Rubens Witzel Filho, a realização de uma palestra sobre fascismo marcada para acontecer na instituição de ensino. Na decisĂŁo, o magistrado alegou que o prĂ©dio, por ser pĂșblico, nĂŁo poderia ser usado para campanha polĂtica, jĂĄ que Bolsonaro era citado nos materiais de divulgação da aula. Em uma dessas peças, compartilhada nas redes sociais, os estudantes alertavam para “o perigo da candidatura de Bolsonaro” para o paĂs.
A Justiça Eleitoral fez outras interferĂȘncias em universidades pĂșblicas nesta semana. Na Ășltima terça (23), uma faixa contra o fascismo pendurada no campus de NiterĂłi da Universidade Federal Fluminense (UFF) foi retirada por agentes da PF, a pedido do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). A ação gerou uma manifestação dos estudantes na quarta-feira (24). Eles alegam que a atuação da corporação foi arbitrĂĄria e que a faixa, com a inscrição “Direito UFF Antifascistas”, nĂŁo fazia referĂȘncia a nenhum candidato.
TambĂ©m na quarta, em Minas Gerais, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) exigiu que a Universidade Federal de SĂŁo JoĂŁo Del Rei retirasse uma nota publicada do site oficial, em que a instituição reafirma “seu compromisso com os princĂpios democrĂĄticos”, mencionando que a Universidade sempre adotou as cotas no vestibular e o uso do nome social para pessoas trans.
Tópicos: eleiçÔes 2018