Entidades de assistĂȘncia social podem paralisar atividades em JF
Manifestação deve acontecer no prĂłximo dia 22 se refere a polĂȘmicas envolvendo 16 editais de chamamento da Prefeitura
Os serviços de assistĂȘncia social prestados por organizaçÔes da sociedade civil (OSC), mantidos com recursos repassados pela Prefeitura, podem ser paralisados no prĂłximo dia 22 de fevereiro, uma quinta-feira. De acordo com informaçÔes do Sindicato dos Servidores PĂșblicos de Juiz de Fora (Sinserpu) a deliberação foi tomada em reuniĂŁo realizada na Ășltima quarta-feira (7), com representantes das entidades que, hoje, sĂŁo responsĂĄveis pela prestação dos serviços. A paralisação Ă© um protesto contra a polĂȘmica envolvendo os 16 editais de chamamento pĂșblico para a seleção OSCs que assumirĂŁo as açÔes assistenciais na cidade a partir deste ano. No mesmo dia, pela manhĂŁ, uma manifestação deve ocorrer em frente Ă s escadarias da CĂąmara Municipal.
A escolha da data da paralisação Ă© simbĂłlica. Um fĂłrum formado por representantes das entidades sociais e movimentos sindicais e sociais cobra da CĂąmara a definição de agenda para a realização de uma audiĂȘncia pĂșblica para debater o imbrĂłglio em que se tornou o andamento dos chamamentos pĂșblicos. Integrantes do fĂłrum alegam que o debate chegou a ser agendado para o dia 22, mas nĂŁo teria sido confirmado pelo que chamam de “pressĂŁo polĂtica”. “JĂĄ que a CĂąmara nĂŁo abre espaço para a discussĂŁo, vamos atĂ© lĂĄ para protestar”, afirmou o presidente do Sinserpu, Amarildo Romanazzi.
Proponente da audiĂȘncia, o vereador Roberto Cupolillo (BetĂŁo, PT), confirmou, na Ășltima terça-feira, que o dia 22 teria sido aventado para a realização da audiĂȘncia pĂșblica. O martelo, no entanto, ainda nĂŁo foi batido, e a agenda segue em banho-maria atĂ© uma decisĂŁo oficial da Mesa Diretora da Casa. De acordo com a assessoria de imprensa da Legislativo, a audiĂȘncia Ă© pertinente, mas hĂĄ outras 33 solicitaçÔes para serem agendadas, e, por isso, o encontro foi desmarcado. Uma posição mais clara deve ser conhecida no prĂłximo dia 15.
Aqueles que questionam os chamamentos pĂșblicos em andamento, entendem que a audiĂȘncia pĂșblica Ă© um esforço polĂtico importante para sensibilizar o Poder Executivo sobre os pontos atacados pelas entidades nos 16 editais, alguns deles com resultado jĂĄ conhecido. O principal questionamento Ă© de que possĂveis falhas no processo de seleção poderia resultar na possibilidade de uma entidade de fora do municĂpio assumir boa parte do sistema, o que poderia comprometer a continuidade dos trabalhos realizados por organizaçÔes locais tradicionais como a Associação de Apoio ComunitĂĄrio (Amac), o Instituto Jesus, o Grupo Semente, o Instituto Dom Orione e o Abrigo Santa Helena.
PolĂȘmica
Na edição da Ășltima terça-feira, a Prefeitura publicou o resultado do edital de chamamento pĂșblico para a prestação de serviços na ĂĄrea da assistĂȘncia social de nĂșmero 3, com valor definido em R$ 8,2 milhĂ”es por 15 meses para desenvolvimento de açÔes de convivĂȘncia e fortalecimento de vĂnculos. A primeira colocada foi a Adra, braço da Igreja Adventista com participação em 130 paĂses.
Um dos pontos polĂȘmicos reside no fato de a Adra – que participa de dez das 16 seleçÔes pĂșblicas – ainda nĂŁo possuir credenciamento junto ao Conselho Municipal de AssistĂȘncia Social (CMAS). Para a prefeitura e a prĂłpria OSC, tal obrigação deve ser exigida com o inĂcio da prestação. Por outro lado, a inscrição Ă© vista como obrigatĂłria para participar do chamamento, tanto no entendimento do CMAS como no do MinistĂ©rio de Desenvolvimento Social (MDS), em entendimento encaminhado Ă reportagem na semana passada.
A entidade ainda nĂŁo foi homologada como vencedora, visto a possibilidade de haver recursos e questionamentos administrativos.
A realização dos chamamentos pĂșblicos Ă© uma adequação da realidade juiz-forana Ă legislação federal. Isto porque, sancionada em 2014, a Lei 13.019 – conhecida como Marco RegulatĂłrio do Terceiro Setor – determina a realização de procedimento isonĂŽmico destinado a selecionar organizaçÔes da sociedade civil no momento em que forem firmadas parcerias entre estas organizaçÔes e o poder pĂșblico. Tais regras se tornam obrigatĂłrias para os municĂpios a partir de 1Âș de janeiro de 2017.
MP monitora desdobramento de editais
Outra informação repassada pelo Sinserpu foi a de que a Promotoria de Justiça do PatrimĂŽnio PĂșblico de Juiz de Fora do MinistĂ©rio PĂșblico de Minas Gerais (MPMG) deu andamento em questionamento aos editais de chamamento pĂșblicos para a seleção de organizaçÔes da sociedade civil protocolado pelo sindicato ainda em novembro do ano passado.
Segundo o presidente do Sinserpu, Amarildo Romanazzi, o MP teria aberto apuraçÔes para cada um dos 16 editais realizados. “Ă algo satisfatĂłrio, uma vez que, agora, a Prefeitura terĂĄ que se manifestar novamente sobre os chamamentos pĂșblicos”, pontuou o sindicalista. Ainda de acordo com Amarildo, a Prefeitura jĂĄ teria sido notificada e instada a se manifestar sobre o tema junto ao MP.
Em contato mantido com a reportagem na tarde desta quinta-feira (8), a Promotoria de Justiça do PatrimĂŽnio PĂșblico de Juiz de Fora confirmou a instauração de 16 inquĂ©ritos civis para apurar a existĂȘncias de possĂveis problemas apontados pelo Sinserpu. Na denĂșncia feita em novembro, o sindicato alegou, entre outros pontos, que o modelo inviabilizaria a Amac, que teria o acesso a recursos reduzidos, gerando demissĂ”es na associação.
A reportagem ainda acionou a Prefeitura para comentar sobre os inquéritos, mas não obteve respostas até o fechamento desta edição.