Mais de mil produtores rurais de JF ficam sem assistĂȘncia da Emater-MG
PJF e a empresa nĂŁo renovaram convĂȘnio; Atividades de capacitação, qualificação e trabalho social na ĂĄrea rural foram encerrados no Ășltimo dia 3
Cerca de 1.100 produtores rurais de Juiz de Fora nĂŁo terĂŁo mais assistĂȘncia profissional e social da Empresa de AssistĂȘncia TĂ©cnica e ExtensĂŁo Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). No ano em que a empresa pĂșblica completa 60 anos de atuação na cidade, o convĂȘnio junto com a Prefeitura (PJF) nĂŁo foi renovado. O trabalho realizado em outras 31 cidades vizinhas atendidas pela unidade regional serĂĄ mantido, visto que os municĂpios seguem com os respectivos convĂȘnios. Os funcionĂĄrios serĂŁo realocados para estes atendimentos.
De acordo com o Secretario de AgropecuĂĄria e Abastecimento, Bebeto Faria, a ruptura da parceria entre a PJF e a Emater aconteceu por conta da dĂvida do Estado com o MunicĂpio. Na ausĂȘncia do repasse de verbas por parte do Governo de Minas – alguns constitucionais, como ICMS, IPVA e Fundeb -, a Prefeitura tentou “abater” os valores no convĂȘnio com a empresa, que Ă© vinculada Ă Secretaria de Estado de Agricultura, PecuĂĄria e Abastecimento. No entanto, as partes nĂŁo entraram em acordo. “O Estado deve R$ 200 milhĂ”es ao municĂpio, e nĂłs temos uma dĂvida de cerca de R$ 160 mil com a empresa, tentamos fazer um acerto de contas que nĂŁo foi aceito.” Ele afirma que pretende reabrir as negociaçÔes com o novo Governo.
Ă Tribuna, a Emater declarou que encerrou as atividades em Juiz de Fora no Ășltimo dia 3. “O convĂȘnio terminou em setembro, mas em respeito aos produtores rurais mantemos o trabalho atĂ© dezembro. No entanto, nĂŁo Ă© possĂvel continuarmos oferecendo assistĂȘncia sem os recursos da Prefeitura”, explicou o gerente regional da empresa, Idelbrando Marcelo Campos. Segundo ele, os problemas financeiros para a manutenção da parceria estavam ocorrendo desde março do ano passado. “Houve uma dificuldade de o MunicĂpio em cumprir o que havia sido acordado, e nĂłs iniciamos uma negociação em julho junto com a Secretaria de AgropecuĂĄria e Abastecimento (SAA). Infelizmente, em setembro, nĂŁo houve a renovação.”
Idelbrando lamentou a situação. “Ă uma pena receber este tipo de presente no ano em que a Emater completa 60 anos de trabalho na cidade.” A empresa oferece desde capacitação profissional e qualificação tĂ©cnica atĂ© atendimento social para os produtores, como auxĂlio para obtenção de financiamento, emissĂŁo de documentos, disseminação de informaçÔes sobre qualidade de vida e projetos externos para promover a agricultura familiar. “Prestamos serviços aos produtores, com prioridade Ă agricultura familiar. A nossa proposta Ă© assisti-los de forma que eles possam ter acesso aos direitos nas trĂȘs esferas: municipal, estadual e federal.”
Dentre os projetos externos da Emater em Juiz de Fora estavam o programa “CinturĂŁo Verde”, que incentivava o cultivo de verduras e hortaliças; o “Dia de Campo”, que promovia a visita tĂ©cnica Ă ĂĄrea rural para a realização de diferentes trabalhos de extensĂŁo; a organização da Feira da Agricultura Familiar, realizada Ă s quintas-feiras no Parque Halfeld; e o apoio Ă s outras 17 feiras realizadas na cidade.
Para Sindicato Rural, perda Ă© “incalculĂĄvel”
Embora ainda nĂŁo tenha sido comunicado oficialmente sobre o fim do convĂȘnio entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e a Emater-MG, o Sindicato Rural lamentou a decisĂŁo, que deixarĂĄ muitas famĂlias desassistidas. “Ă uma perda incalculĂĄvel, pois o trabalho que a Emater realiza Ă© de extrema importĂąncia para os produtores, faz uma diferença imensa na vida das pessoas assistidas.AlĂ©m da parte tĂ©cnica, existe um lado social que vai fazer muita falta. Ficamos de pĂ©s e mĂŁos quebrados”, disse o presidente do sindicato, Domingos Frederico Netto.
Ele explica que Juiz de Fora concentra um grande nĂșmero de pequenos produtores. “Deste total de 1.100 produtores, pelo menos, a metade Ă© de pequeno porte. O trabalho da Emater Ă© fundamental para eles”, destaca. “Ă a oportunidade de ter assistĂȘncia tĂ©cnica, crescer como profissional e dar mais qualidade aos produtos. A Emater realiza um trabalho de fiscalização da produção que Ă© educativa, nĂŁo punitiva, o produtor estĂĄ sempre aprendendo. AlĂ©m disso, tem um lado social, pois ensina atĂ© mesmo como se alimentar melhor, prevenir doenças. Tem tambĂ©m o aspecto econĂŽmico, pois auxilia na hora de conseguir financiamento mais barato e realiza projetos para melhorar o nosso trabalho e, consequentemente, aumentar as vendas.”
Lamentando o encerramento das atividades da empresa, Domingos destacou que, num momento de dificuldade financeira, o MunicĂpio deveria priorizar o trabalho que promove a renda para os produtores. “Faltou sensibilidade por parte da Prefeitura. As cidades vizinhas, muito menores, nĂŁo abriram mĂŁo da assistĂȘncia da Emater.”
PJF afirma que produtores nĂŁo ficarĂŁo desassistidos
Em entrevista Ă Tribuna, o Secretario de AgropecuĂĄria e Abastecimento, Bebeto Faria, assegurou que os produtores da cidade nĂŁo ficarĂŁo desassistidos. “As feiras irĂŁo continuar normalmente. O apoio tĂ©cnico aos produtores de leite tambĂ©m serĂĄ mantido. NĂłs entendemos que a agricultura familiar Ă© primordial, e estamos ao lado do produtor”, informou. Segundo ele, a assistĂȘncia oferecida pela Emater aos produtores estĂĄ suspensa, mas hĂĄ outros meios de manter o apoio Ă ĂĄrea rural. “Apesar de toda a dificuldade financeira, a intenção do prefeito Ă© manter todas as atividades, e vamos trabalhar para isso.”
De acordo com Bebeto, a ruptura do convĂȘnio se deu por uma questĂŁo financeira. “O Estado deve o MunicĂpio, que tem uma dĂvida com a Emater. Tentamos fazer um acerto de contas que nĂŁo foi aceito. A empresa alegou que tem administração separada e nĂŁo poderia aceitar este tipo de acordo. Como nĂŁo chegamos a um consenso, o ComitĂȘ de Gerenciamento de Crise da Prefeitura achou melhor esperar o novo Governo para negociar. Temos total interesse, e nĂŁo queremos abrir mĂŁo do trabalho da empresa.”