Minas Gerais é o estado com mais pontos críticos em rodovias
Ao longo de 15.589 quilômetros, 338 pontos críticos foram registrados ao fim de 2024
Nas rodovias que cortam Minas Gerais, foram identificados 338 pontos críticos, ao final do ano de 2024. Em uma extensão de 15.589 quilômetros pesquisados, isso significa uma média de um ponto crítico a cada 46 quilômetros. Os números são do Painel dos Pontos Críticos nas Rodovias Brasileiras, desenvolvido pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Em 2023, o estado também era o que possuía mais pontos críticos do país , um total de 383. Na comparação entre os dois anos, houve uma diminuição de quase 12% nos registros. Antes, um ponto crítico era encontrado a cada 40 quilômetros. Agora, com a evolução de um ano para o outro, é como se os motoristas pudessem andar seis quilômetros a mais até se depararem com uma dessas ocorrências.
A média é registrada mesmo com o estado tendo a maior malha rodoviária do Brasil, equivalente a cerca de 16% de todo o sistema brasileiro, como destaca o mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Luiz Britto Bastos. “Esses números são números realmente absurdos, não deveriam chegar a esse ponto. Mas por quê? Por falta exclusiva de gestão, manutenção e prevenção”, afirma.
Falta de fiscalização
“A rodovia tem que ser fiscalizada, você tem que estar passando por ela, permanentemente, para manter a impermeabilização. É aquela faixa por onde passam os veículos, a pavimentação, que pode ser asfáltica, de concreto, ou outro material qualquer”, começa a explicar o especialista.
“Com a passagem dos veículos, a tendência é que a faixa asfáltica vá se desgastando. E, com isso, aparecem as trincas, as fissuras. A rodovia não é constituída apenas por uma pavimentação em cima da terra, normalmente. Tem três ou quatro camadas ali que você tem que tratar primeiro, compactar, tirar todos os vazios, todo o ar que tenha, para depois, então, você vir com uma pavimentação”, acrescenta.
Boa parte dos pontos críticos registrados em 2024 é referente a buracos grandes, um total de 123 (36,4%). Próximo a isso, vêm os 111 casos de erosão na pista (32,8%). A CNT verificou, ainda, 84 barreiras caídas, 11 pontes estreitas e duas pontes caídas.
O engenheiro aponta que a predominância dos dois primeiros comprovam a falta de manutenção. “A partir do momento que começa a entrar água pelas rachaduras e pelas fissuras, consequentemente, a base, a sub-base e tudo que diz respeito à formação da pavimentação vão sendo destruídos, e o resultado é esse.”
Já as quedas de barreiras atestam outro problema: a falta de observação dos taludes. “E as barreiras são extremamente problemáticas, até porque, no Brasil, de modo geral, mas principalmente em Minas Gerais, são muito lentos para agirem. Eles não conseguem desobstruir a rodovia num tempo recorde. De jeito nenhum. Porque ali ficam meses e meses, até anos”, completa.
‘As estradas de Minas são extremamente perigosas’
Dos 338 pontos críticos observados, apenas oito estão em locais com gestão concessionada. A jurisdição é praticamente dividida: 173 em estradas federais e 165 em estaduais. Apenas dez pontos estão com obras, e com relação à sinalização, em menos de 5% ela está adequada. Noventa pontos possuem sinalização deficiente, e 232 pontos (68,6%) não estão sinalizados.
Para José Luiz, o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) “é muito displicente na gestão das rodovias”. “Além do mais, uma grande parte das rodovias mineiras é extremamente ruim, perigosa, estreita demais, fora dos padrões normais. Você não vai encontrar uma rodovia com pista de sete metros. Cada pista tem que ter sete metros. Muitas vezes, não tem nem acostamento. Então são extremamente perigosas”, prossegue.
A autarquia estadual tem como competência “assegurar soluções adequadas de transporte rodoviário de pessoas e bens; planejar, projetar, coordenar e executar obras de engenharia; e atuar como entidade executiva rodoviária”.
Acidentes próximos a Juiz de Fora somam 55 ocorrências
Das rodovias que passam por Juiz de Fora, a BR-040 possui um ponto crítico, e a BR-267, oito. Nesta, apenas no trecho entre o entroncamento de acesso a Lima Duarte até a divisa de Juiz de Fora com Bicas (93 quilômetros), foram registrados 55 acidentes, em 2024, sendo 13 graves – o que representa uma média de quase cinco acidentes por mês, sendo um grave. Nove pessoas foram mortas e 79 ficaram feridas. Os dados foram repassados à Tribuna pela Polícia Rodoviária Federal.
No território juiz-forano, há um ponto de erosão na pista, na BR-267, entre os distritos de Penido e Valadares, e uma ponte estreita, no bairro Retiro, que é registrada no levantamento desde 2022. Em 2023, havia um grande buraco na Avenida Pedro Henrique Krambeck, BR-440, no Bairro São Pedro. O ponto foi reparado de um ano para o outro.
Sobre o modo como os motoristas devem proceder ao encontrarem um ponto crítico, “não tem outra solução”, afirma o especialista em transportes. “Às vezes, eles costumam fazer uma variante por onde é possível transpor o obstáculo. Noutras vezes, não tem condição de se fazer isso, então o veículo é obrigado a adotar uma rota alternativa, que é um prejuízo também.”
DER-MG afirma que responsabilidade não é exclusiva
Em resposta ao contato feito pela Tribuna, o DER-MG informou, em nota, que a responsabilidade pela recuperação de pontos críticos não se concentra exclusivamente no órgão, destacando que “nos últimos dois anos, o DER-MG efetuou a recuperação funcional em dois mil quilômetros de rodovias e corrigiu 91 pontos críticos em trechos pavimentados e não pavimentados da malha estadual mineira. O investimento para todos os serviços citados foi de R$1,8 bilhão.”
O texto afirma, ainda, a redução de queixas sobre as rodovias do estado. “Dados da Ouvidoria Geral do Estado de Minas Gerais e, também, do Sindicato das empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais apontam, entre 2023 e 2024, uma queda de 60% no número de reclamações dos usuários das rodovias.”
Segundo o DER-MG, “as pesquisas elaboradas pela Confederação Nacional do Transporte buscam mapear as principais rotas do transporte de carga pesada utilizando um critério único para avaliação das vias em todo o país”e, portanto, “não levam em conta questões como topografia tipo de solo, incidência de chuvas, volume de tráfego, tempo de construção de rodovia, além de outros fatores diretamente ligados a manutenção, ao traçado e a geometria das rodovias”.
O órgão confirma a previsão de mais de R$ 1,2 bilhão em investimentos para as rodovias em 2025. Os recursos do programa Caminhos para Avançar serão direcionados para “recuperação funcional das rodovias, manutenção e conservação rotineira e eliminação de pontos críticos”.
Por fim, esclarece que o período que causa mais situações nas rodovias é o de chuvas, que se estende de novembro a março, “época que as unidades regionais funcionam em regime de plantão permanente para o atendimento de ocorrências”. De acordo com o tDER-MG, “as mais simples são resolvidas de imediato, e as mais complexas, por questões técnicas de engenharia, demandam primeiro elaboração de projetos e contratações para execução de determinados trabalhos”.
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