Skate ganha adesão entre mulheres juiz-foranas
Esporte tem se popularizado em Juiz de Fora, e associação trabalha para dar visibilidade à modalidade
Skate é mais do que um esporte, para muitos, é um estilo de vida, capaz de unir diferentes gerações e conectar pessoas. Nos últimos anos, em Juiz de Fora, essa prática tem conseguido alcançar cada vez mais mulheres, inspiradas de diferentes maneiras, principalmente depois que a modalidade foi incluída como esporte olímpico e o Brasil viu despontar a prodígio Rayssa Leal, que com apenas 15 anos já é medalhista olímpica com o skate.
Skate é coisa de mulher, sim, e quem nota o crescente interesse delas pela modalidade é a presidente da Associação Juizforana de Skate (AJS), Nicole Faria. Ela afirma que a constante presença de meninas nas pistas também é um fator importante para dar visibilidade ao esporte, tendo, muitas vezes, a maior influência.
Diante disso, Nicole afirma que a AJS organiza um evento para novembro, que pretende potencializar o envolvimento das mulheres na produção audiovisual voltada para a divulgação do esporte na cidade e na região. Além disso, ela destaca que, atualmente, em Juiz de Fora, existem projetos que dão visibilidade à modalidade, como a “Rua de Brincar”, o “Skate Day”, “Carrefas Skate Day”. “Essas iniciativas promovem um espaço confortável para jovens interessados na modalidade”, diz.
Quebra de estigma
Influenciado pelo estilo de vida norte-americano, o Brasil adotou o skate nos anos de 1960. O esporte, que começou nos Estados Unidos como alternativa para os surfistas enfrentarem a maré baixa, foi ganhando seu espaço com o tempo, porém, por muitos anos, foi visto de forma marginalizada.
Essa visão negativa da prática foi um dos desafios enfrentados por Elisa Condé, de 23 anos. Seu interesse pelo skate começou aos 8 anos de idade e, segundo ela, por ser um esporte majoritariamente praticado por homens e ser associado a consumo de drogas, além de outros preconceitos, sua família foi resistente em apoiá-la. Porém, por ser parte de seu sonho, ela nunca se desconectou dessa paixão. Atualmente, a jovem trabalha na Confederação Brasileira de Skateboarding, no setor de comunicação, na área audiovisual e gráfica.
“Hoje vivo do skate e pretendo viver até quando eu puder. O skate é igual uma faculdade, quando você entra de cara no assunto, você vê que é muito além de quatro rodinhas, dois trucks e um shape. Muitas mulheres me inspiraram para que eu chegasse até aqui e espero inspirar outras pessoas também” afirma.
Na visão da skatista, atualmente, os principais impasses enfrentados por mulheres no esporte são em relação aos próprios skatistas, que têm resistência em enxergar legitimidade na presença feminina e respeitar seu espaço. Elisa acredita que a mudança tem que começar de dentro da modalidade para fora. “Quando isso acontecer, as coisas realmente vão melhorar.”
Mais do que viver, ela recomenda a prática. “O skate foi o meu melhor descobrimento. Foi onde aprendi muitas coisas na vida, principalmente a me conhecer. Se você tem vontade de andar de skate, aproveite esse momento, independente da idade. Skate te traz liberdade e um novo jeito de ver o mundo. Acredite no seu potencial e vai que vai.”
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Novas adeptas
Apesar das dificuldades, a jornalista Ruth Flores, 28 anos, movida pela curiosidade, começou a fazer aulas para aprender a praticar o esporte. Ela afirma que sempre achou interessante, mas nunca teve a oportunidade, pois durante sua infância viveu com a determinada separação entre as brincadeiras ditas de meninas e de meninos. Ainda que suas aulas sejam repletas de meninas que se apoiam e estimulam umas às outras, Ruth ainda tem questões pessoais que está trabalhando. “Acho que ainda ficam os resquícios de sentimentos como me sentir muito ‘velha’ pra estar começando a aprender agora, uma vergonha e timidez vez ou outra”, expõe.
Vilmara Aline, praticante de skate e conselheira da AJS, entende que sentimentos como esses vem principalmente de um fator chamado “etarismo”, que tem prejudicado a inserção das mulheres maiores de 30 anos na prática do esporte. Nesse contexto, diante da vontade de se ter um lugar onde meninas pudessem se sentir à vontade para aprender e andar de skate, Vilmara sugeriu a criação de um encontro, para que elas começassem a se encontrar e se fortalecer. A ideia foi levada para a Associação Juizforana de Skate e aceita, de forma que o primeiro encontro foi realizado em março e contou com a presença de crianças, adolescentes e mulheres de todas idades.
Rolê das Minas
Dentro da ideia de garantir mais visibilidade e adesão ao skate, surgiu o “Rolê das Minas”, um grupo organizado pela AJS com a proposta de inspirar as meninas que estavam com o skate parado em casa ou que tinham vontade de começar a praticar o esporte. Entre 2022 e 2023 foram feitas sete edições e o público tem crescido cada vez mais. Vilmara explica que os skatistas também participam, e que isso é interessante para que as mulheres criem coragem para andar onde elas quiserem e que os homens entendam e aprendam a lidar com sua presença constante nas pistas e ruas da cidade.
A conselheira da AJS conta que subiu em um skate pela primeira vez aos 7 anos, após pegar emprestado de um dos netos do patrão de sua mãe. Com o tempo, ela tentou andar pegando emprestado de alguns moradores, mas não teve muito apoio. Foi somente quando ganhou seu patins que teve a oportunidade de começar a praticar esportes sobre rodinhas. Foi andando de patins, sozinha, durante a pandemia que a jovem foi convidada a conhecer a AJS, naquele momento com as atividades paradas. “Hoje estamos indo para a 8ª edição do Rolê das Minas, é um movimento muito gratificante de participar e realizar como patinadora e skatista”. Para o grupo, o skate é mais do que uma prática esportiva e, a partir dos encontros, forma-se uma família que vibra e apoia a conquista e liberdade uma das outras.