Pressionado por juros altos, financiamento de veículos cai em relação a 2024
Estado acompanha tendência nacional; alta da Taxa Selic é apontada como causa
O número de financiamentos de todos os tipos de veículos (leves, pesados e motos) diminuiu no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, cerca de 303.700 veículos, somando novos e usados, foram financiados em Minas Gerais, o que representa redução de 3,3% em comparação aos primeiros seis meses de 2024.
Segundo a B3, o número de financiamentos de automóveis leves no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2024, diminuiu em 4,1%. No caso de veículos pesados, a redução foi ainda maior e chegou a 6%. Nas motos, a quantidade de financiamentos retraiu em 0,5%.
Os dados mineiros acompanham a tendência nacional. De acordo com a B3, 3,4 milhões de veículos, novos e usados, foram financiados no primeiro semestre de 2025. O número é 0,7% inferior ao do mesmo período do ano passado, ou seja, 24 mil unidades financiadas a menos. Os números referentes a Juiz de Fora foram solicitados, mas não foram disponibilizados.
No primeiro semestre do ano, a quantidade de carros financiados no Brasil diminuiu em 2,6%. O número de veículos pesados caiu 4,6%. Por outro lado, o financiamento de motos cresceu em 4,4% com relação aos primeiros seis meses de 2024.
Taxa Selic é responsável por queda
Atualmente, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, está estabelecida em 15% ao ano, maior patamar desde 2006. O índice foi definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em junho e permanece até hoje. Ela referencia todas as taxas de juros praticadas no país – como empréstimos, financiamentos e cartões de crédito – e serve para conter ou estimular a atividade econômica.
Para o economista da Fundação Ipead, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo Casaca, as elevações em sequência da Selic explicam a diminuição dos financiamentos no estado e no Brasil. “Quando a Selic sobe, todas as outras taxas subsequentes, que são cobradas dos clientes, também sobem. Por isso, o custo de financiamento de carro hoje é muito maior do que um ano atrás, por conta dos juros maiores. Obviamente, isso afasta compradores, porque fica muito mais caro para financiar”, analisa.

Para Paulo, o financiamento não deve ser a primeira opção do consumidor diante do cenário atual de juros no Brasil. “Vale a pena buscar um financiamento se o consumidor realmente precisa fazer esse financiamento e se possuir recursos para arcar com essa taxa de juros mais elevada”, afirma.
O economista destaca que a queda do número de financiamentos acontece em um momento em que o Brasil apresenta diminuição na taxa de desemprego. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice no país caiu para 5,8% no segundo trimestre de 2025, o menor desde 2012. “Temos uma população atualmente mais empregada, com uma renda maior e, ainda assim, o financiamento caiu. A razão principal para isso, sem dúvida nenhuma, é o custo do financiamento que subiu”, aponta.
Concessionárias utilizam alternativas para driblar juros
Por conta da alta taxa de juros aplicada sobre os financiamentos no Brasil, as concessionárias optam por criar linhas de crédito próprias que amortecem o preço final dos produtos, conforme explica o diretor da Planeta Chevrolet, Gleidson Santanna. “Isso é uma forma de manter o aquecimento da indústria e do mercado. (…) As marcas que têm criado alternativas de taxa promocionais não têm sentido impacto na queda de financiamentos, e as marcas que têm lançado novos produtos também não têm sentido queda de vendas”, afirma.
Gleidson explica que as alternativas ao financiamento tradicional são diferentes para carros novos e seminovos. No segmento de veículos usados, a opção foi trabalhar com juros inferiores à Selic. “A montadora, através do seu banco, intermedia na taxa. Com isso, consigo trabalhar com uma taxa de 0,99% ao mês, inferior à Selic. Graças a esse estímulo, não há tanta interferência”, analisa.

Programa Carro Sustentável
O Governo federal lançou, no mês passado, o programa “Carro Sustentável”, que consiste em um pacote que zera o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos produzidos no Brasil que cumpram regras ligadas à eficiência energética e segurança, entre outras. O decreto tem validade até dezembro de 2026. O programa possui três regras para adesão: produção completa realizada no Brasil, motor flexível de baixa emissão de poluentes e até 80% de materiais recicláveis na composição do automóvel.
Para Paulo, a medida pode fazer com que a quantidade de financiamentos volte a crescer no Brasil. “A redução do IPI causa uma queda brusca no preço dos carros, e isso é bastante positivo. Mesmo com uma taxa de juros mais elevada, uma queda de R$ 10 mil no preço do carro zero para ser adquirido é ótima”, afirma.
Apesar de destacar que o impacto será positivo para veículos novos, o economista pondera que o programa pode afetar de forma negativa os usados. “Veículos com dois ou mais anos de uso, em relação aos novos que foram comercializados no Brasil a um preço menor, vão perder valor, e isso é ruim para quem tem esse carro”, analisa.
Tópicos: carro sustentável / carros / financiamento / ipi / motos / selic