Azul aponta risco no Serrinha
Como etapa de investigação preliminar instaurada pelo Ministério Público Estadual (MPE) sobre a suspensão dos voos da Azul Linhas Aéreas no Aeroporto Francisco Álvares de Assis foi realizada ontem audiência com representantes da empresa, da Prefeitura e do Procon para tratar do assunto. A empresa aérea reforçou que a decisão de cancelar as operações em Juiz de Fora deve-se prioritariamente a questões de segurança. No entendimento da companhia, fatores, como tráfego aéreo, obstáculos, meteorologia e medidas de mitigação de risco implementadas, inviabilizam, do ponto de vista técnico, as atividades com o equipamento atual (ATR72-600) no aeroporto com as características do Serrinha. Os voos regulares estão suspensos desde abril do ano passado.
O gerente da Azul, comandante Rufino Ferreira, comenta que, em função de características como a inclinação da pista, a altitude, o relevo, a comunicação via rádio e a falta de área da escape, a operação no Serrinha era considerada especial. Por conta disso, várias medidas foram adotadas para mitigar riscos, como operação restrita a comandantes experientes e recomendações no início da descida, alertando para a condição visual e o alcance da comunicação via rádio, que poderia ser comprometida em função dos obstáculos, além da prática de escola de aviação.
Apesar dos cuidados adotados para a operação, diz o gerente, a empresa começou a receber reportes, pela tripulação técnica, de pequenas ocorrências relacionadas às operações, que alertavam para potencial de risco. Foram citados o risco de colisão com aeronave de pequeno porte e o evento considerado mais grave, em que um comandante precisou arremeter duas vezes, antes de conseguir pousar, por conta de turbulência na aproximação das cabeceiras. O entendimento foi que poderia haver um incidente ou acidente. “Este tipo de aeronave e as características do Serrinha nos colocam em um risco de operação que não é aceitável.”
O comandante destacou, porém, que o Serrinha sempre foi referência para instrução aérea e prática aeroesportiva, como o paraquedismo, e é considerado “espetacular” para operação executiva. Reforçou, ainda, que não há motivos para desabonar a infraestrutura do aeródromo. “Uma coisa é realizar um pouso eventual, outra é uma operação contínua.” Ferreira disse, ainda, que não se trata de falta investimento, nem de comprometimento por parte do Poder Público. Sobre uma possível mudança de aeronave que possibilitasse a oferta de voos no aeroporto, a avaliação é que o ATR-42, utilizado anteriormente pela Trip, não é um equipamento viável economicamente para a empresa, principalmente em função dos custos de manutenção.
O assessor da Presidência da Azul, Ronaldo Veras, ressaltou que a decisão de suspender as operações não foi motivada por fato isolado, mas a uma série de processos relacionados à estrutura do aeroporto. “Nada grave, logicamente tudo solucionável.” Veras não considera o Serrinha perigoso e disse que não é problema de falta de investimento, mas de características que precisariam ser ajustadas ao tipo de aeronave utilizado pela empresa. Questionado se haveria a possibilidade de a Azul retomar as operações no Serrinha, Veras afirmou que “não”, do jeito que o aeroporto está hoje e com o tipo de aeronave utilizado companhia. “Não seria confortável operarmos para cancelar o voo de vez em quando.”
O secretário de Transportes e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, comentou que não cabe a ele discordar de uma avaliação técnica da empresa. “O que cabe dizer é que o Serrinha está aprovado pela Anac, pelo Decea e pelos órgãos reguladores da aviação civil que aprovam as questões de segurança.” Para Tortoriello, o fato de a Azul não atuar no aeródromo não inviabiliza a operação de outra empresa. “Já conversei com outras companhias aéreas que demonstraram interesse.” Segundo ele, a retomada dos voos comerciais ainda não foi viabilizada por questões de ordem econômica e operacional, como falta de aeronaves. O secretário destacou, ainda, que o Serrinha não necessita de reforma para retomar os voos regulares. Contemplado no Programa de Investimentos em Logística: Aeroportos, que visa a ampliar 270 terminais regionais no país, o aeródromo aguarda a licitação do anteprojeto para receber melhorias pelo Governo federal.
Presente ao encontro, a deputada federal Margarida Salomão (PT) destacou a importância do Serrinha e o empenho para que seja retomado o funcionamento pleno e se colocou à disposição para obter informações concretas sobre o andamento do programa do Governo federal. O representante do Grupo Pró-Aeroportos, Eduardo Lucas, destacou a importância da operação regular para fomentar investimentos e considerou que o desenvolvimento local está comprometido em função da falta de voos regulares. Eduardo disse, ainda, que a Passaredo teria interesse em voltar a operar na cidade. Em consulta realizada pela Tribuna à empresa este mês, a Passaredo informou que “não consta no planejamento atual voltar a operar na cidade”, no entanto, “não descarta essa possibilidade no futuro”.
O promotor Plínio Lacerda considerou o Serrinha um patrimônio da cidade. Ele destacou a necessidade de retomar as operações comerciais e de a comunidade ter conhecimento do real motivo pelo qual o aeroporto não está atuando em sua potencialidade. Plínio agendou para o dia 17 de março novo encontro entre as partes. O promotor espera que seja possível formular uma proposta de viabilidade de pleno funcionamento, sempre levando em conta a qualidade dos serviços e a segurança do usuário.