Consumidor mantém tradição e faz compra de última hora
De olho no cenário econômico, alguns têm optado pelo pagamento à vista; outros permanecem sem escolha, já que ainda não receberam o extra de final de ano
Às vésperas do Natal, juiz-foranos saíram às ruas, nesta segunda-feira (23), para comprar presentes para amigos e familiares, bem como produtos para a ceia. Apesar da estimativa de injeção de mais de R$ 190 milhões na economia local, referentes à segunda parcela do 13º paga aos celetistas e ao complemento do saque imediato do FGTS, o quadro econômico mantém consumidores receosos quanto às projeções para 2020, sobretudo os servidores vinculados à Administração municipal e estadual, cujo abono natalino ainda não foi integralmente pago. Ao passo que alguns consumidores optam pelo pagamento à vista para não acumular dívidas no crédito, outros permanecem sem escolha, uma vez que não tiveram acesso ao extra de final de ano.
Ana Barone, 40 anos, postergou as compras por estar insegura quanto à economia. “Estou comprando os presentes entre hoje (segunda) e amanhã (terça-feira). Estava aguardando para ver como as coisas caminhariam no final do ano. Além disso, estava analisando o comportamento dos preços. Às vésperas do Natal, começaram a surgir promoções. Então, tenho aproveitado e comprado à vista para não fazer dívidas. Desde o ano passado, quando as coisas se tornaram mais severas, tenho adotado este comportamento de consumo. Sempre pesquiso os preços anteriormente, analiso, aproveito uma promoção e faço o pagamento que dá o maior desconto: débito ou dinheiro. Sempre faço isso e tenho conseguido ganhar entre 10% e 15% de desconto.” Ana, por exemplo, não fez uso do saque imediato do FGTS. “Para mim, o dinheiro do trabalhador é para algum tipo de emergência. Não utilizo para comprar presentes. Como tenho família, sempre guardo esse dinheiro para momentos emergenciais.”
Viviane da Silva, 34, também fez compras às vésperas do Natal. No entanto, por falta de tempo. “Como eu trabalho na jornada de 12×36, não deu tempo de vir ao Centro antes. Tenho que comprar tudo nesta segunda, porque trabalho na terça.” Como Viviane é servidora de saúde do Estado de Minas, está utilizando o dinheiro oriundo do FGTS, além do próprio vencimento regular. “Tive direito somente aos R$ 500 iniciais do FGTS e ainda não recebi o 13º por conta dos problemas do Governo. Estou utilizando o meu pagamento mesmo. Estou comprando com o que dá.” Os pagamentos, conforme Viviane, estão sendo feitos à vista. “Pagar depois não dá. Prefiro pagar tudo agora de uma vez, porque evito um transtorno maior no ano que vem. Passo o ano com alívio na cabeça.”
Embora Elza Ribeiro de Araújo, 52, carregasse algumas sacolas com artigos de vestuário para o filho, confirmou à Tribuna já ter comprado todas as lembranças a familiares e amigos. “O preço é melhor com antecedência ao Natal. Estou achando tudo muito caro. Vi mais promoções antes. E, agora, como o pessoal está pegando o 13º, os lojistas aumentam (o preço) mesmo.” Vinculada ao Município de Juiz de Fora, Elza não teve direito ao saque do FGTS, tampouco recebeu o 13°. “Sou estatutária, então não tenho direito aos saques. E o 13º também não saiu. A Prefeitura ainda não o pagou. Ainda estou no vermelho. Só nos cartões. Quando sair o 13º, vou pagar o que já comprei. Não vou comprar mais nada. Gastei com antecedência.”
Fluxo mais intenso do que em 2018
Conforme lojistas entrevistados pela Tribuna, o fluxo de consumo está mais intenso nestes dias que antecedem o Natal se comparado ao mesmo período de 2018; ao menos desde a última semana. O supervisor da rede de lojas Sr. A Granel, Wilderson de Souza Penido, avalia que a concentração se intensificou desde sexta-feira (20). “Em anos anteriores, reparamos que havia uma demanda maior de 12 de dezembro para frente. Neste ano, o movimento se intensificou a partir do dia 18. O pessoal deixou para a última hora. Acabamos tendo uma demanda maior do que a gente esperava.” O tíquete médio gasto na rede está entre R$ 20 e R$ 30. “Os produtos mais procurados são as castanhas, tanto a de pará quanto a de caju, as nozes – o carro-chefe – e as frutas cristalizadas, como damasco, ameixa e tâmara.”
A gerente da Taco – loja da Rua São João, Débora Chaia de Almeida, também atesta a intensificação das compras à medida em que o Natal se aproxima, o que, para ela, é um comportamento de consumo comum aos brasileiros. “Desde semana passada e a partir desta segunda, já há uma concentração maior de consumidores. Era o que esperávamos. Todo ano nos programamos para este período mesmo, depois de 15 de dezembro.” De acordo com Débora, as vendas, se comparadas a 2018, mesmo as diárias, são maiores. “As medidas econômicas nos levaram a projetar um crescimento maior. O 13º já é característico, mas o saque do FGTS foi importante. O movimento, em 2019, é maior. As vendas diárias já apresentam crescimento de 10% em relação ao ano passado.” O tíquete médio na unidade varia entre R$ 140 e R$ 160, e os produtos com maior saída são as calças jeans e as camisetas básicas.
No entanto, conforme a gerente da Opção – unidade da Rua São João -, Ana Luíza Nunes Lima, o fluxo de compras às vésperas do Natal está abaixo das expectativas, embora se apresente estável desde o último fim de semana. “O movimento está muito dividido. Esperávamos um movimento maior às vésperas do Natal, mas ainda não aconteceu. Não está na intensidade que esperávamos. Crescemos, mas não o tanto que esperávamos.” A esperança de Ana Luíza é esta terça. “As próprias pessoas que trabalham no comércio deixam para comprar de última hora. Esperamos que aumente um pouquinho depois.” Conforme a gerente, as compras mais comuns são de itens cujo preço varia entre R$ 29 e R$ 39. “Muita gente está comprando lembrancinhas. Não são aquelas compras enormes, de muito volume. São produtos, como blusinhas, lembrancinhas mesmo, na faixa de R$ 29 a R$ 39. Quando leva um pouquinho mais caro, é na faixa de R$ 69 a R$ 79.”