Juiz de Fora tem potencial de consumo de R$ 27,4 bilhões
Projeção cresce 8,3% em comparação com 2024, mas cidade cai três posições no ranking nacional, passando a ocupar a 37ª colocação

Juiz de Fora deve movimentar R$ 27,4 bilhões em consumo ao longo de 2025, segundo levantamento do IPC Maps, empresa especializada em estudos na área. O valor representa aumento de 8,3% em comparação com 2024, quando a projeção foi de R$ 25,3 bilhões. Apesar do crescimento, o município caiu três posições no ranking nacional, passando do 37º lugar, no ano passado, para o 40º este ano. Em Minas Gerais, a cidade manteve a quarta colocação, a mesma dos últimos dois anos. O estado é o segundo com maior potencial de consumo no país, cerca de R$ 110,8 bilhões, atrás apenas de São Paulo, com R$ 259,5 bilhões.
Segundo o coordenador do estudo, Marcos Pazzini, a queda no ranking nacional está ligada ao processo de migração social. “Entre 2024 e 2025, houve um processo de migração social mais negativa do que positiva, ou seja, os domicílios deixaram classes mais bem posicionadas na pirâmide e migraram para classes inferiores”, explica.
O levantamento dividido em 22 categorias de consumo aponta que, este ano, os juiz-foranos devem gastar mais com habitação, veículo próprio, alimentação em domicílio, alimentação fora do lar, materiais de construção, plano de saúde e tratamento dentário, medicamentos, higiene e cuidados pessoais, educação e vestuário, nesta ordem,.
Para Pazzini, os dados indicam uma reconfiguração do consumo urbano, com ênfase em autocuidado, conforto doméstico e saúde. “O orçamento doméstico e as despesas básicas são o que mais pesa no bolso do juiz-forano. O comprometimento do orçamento mensal com despesas básicas nas classes mais baixas é muito maior. Quanto menor a renda, maior o comprometimento com itens básicos, sobrando menos para outras categorias”, afirma.
A pesquisa é baseada na análise e no cruzamento de dados de órgãos oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), e divulgada anualmente, com margem de erro entre 2% e 3%.
Juiz-foranos devem gastar R$ 6,1 bi com habitação
A habitação concentra o maior volume de gastos previstos em Juiz de Fora este ano, com R$ 6,1 bilhões, o que representa 22,2% do total projetado para a cidade. A categoria inclui despesas com aluguel, condomínio, IPTU, contas de água e esgoto, energia elétrica, telefone fixo e celular, TV por assinatura, gás (encanado ou botijão), coleta de lixo, além de serviços como diaristas, dedetização e conserto de aparelhos domésticos e móveis.
Em comparação com o estudo anterior, a expectativa é de alta de 7,8% das despesas com habitação. No recorte por classes sociais, a categoria representa o maior potencial de consumo entre todas elas, embora as participações sejam bem diferentes.
A classe C deve ser responsável por 42,6% do consumo total previsto, o que para Pazzini reflete o quanto os gastos essenciais representam para essa parcela da população. Em seguida está a classe B (34,4%) que, apesar do maior poder de consumo para esse tipo de despesa, detém menor participação, pois direciona a renda para outras categorias.
Na sequência estão as classes A (12,3%) e D/E (10,7%) com percentuais próximos, mas razões muito diferentes que justificam a participação. Enquanto a primeira direciona a renda para outras categorias de consumo, a outra tem uma participação menor por conta do poder aquisitivo reduzido.
Despesas com veículo próprio
As despesas dos juiz-foranos com veículo próprio devem alcançar mais de R$ 3,2 bilhões em 2025. A categoria de consumo é a segunda prioridade para as classes A e B, atrás apenas da habitação; a terceira para a classe C, logo após habitação e alimentação em domicílio; e a quarta para a D/E, que terá como os três principais pilares a habitação, a alimentação em domicílio e a alimentação fora do lar, nesta ordem.
Pazzini atribui esse aumento das despesas com o veículo próprio ao impacto da pandemia da Covid-19 e à maior oferta de serviços por aplicativo. “A população mudou hábitos de consumo, como o aumento das compras on-line e do uso do transporte por aplicativo. O que era uma necessidade urgente, durante a pandemia, se consolidou, elevando o valor investido em veículos próprios, que também representam uma busca por renda”, explica.
Classe C lidera em nº de domicílios, mas perde espaço em consumo
Com 50,1% dos domicílios urbanos, a classe C é majoritária em número de lares, mas não em volume de consumo. Em 2025, essa faixa deve responder por 35,3% do consumo total, queda de 0,9 ponto percentual em relação ao ano anterior (36,2%).
De acordo com Pazzini, o movimento também é reflexo da migração social negativa. “A classe C2, com renda média domiciliar de R$ 2.403,04, apresentou queda de 1% no número de domicílios entre 2024 e 2025, enquanto a classe D/E teve aumento de 0,5%. Ou seja, essa perda da classe C migrou para a D/E, indicando piora no rendimento domiciliar.”
Dessa forma, ele analisa que os principais gastos da classe C devem se concentrar em itens essenciais – habitação, alimentação em domicílio e veículo próprio – padrão que reforça o perfil restrito à sobrevivência e à mobilidade, com pouco espaço para educação, lazer ou saúde suplementar.
Disparidade na participação de consumo revela desigualdade
Os dados evidenciam um contraste entre presença numérica e participação no consumo. Apesar de representarem a maioria dos lares na cidade (71,1%), as classes C e D/E detêm menor potencial de consumo (42,6%). Os gastos destinados à categorias como educação, viagens, plano de saúde e tratamento dentário apresentam ainda mais a disparidade.
A classe A representa apenas 3,7% dos domicílios na cidade, mas é responsável por 17,6% do potencial de consumo local. A classe B, com 25,2% dos lares, concentra 39,7% do consumo. A classe C, embora tenha 50,1% dos domicílios, responde por 35,3% dessa participação, enquanto a D/E, com 21% dos lares, corresponde a 7,3%.
Na educação, a disparidade é ainda maior: a classe A deve gastar 22 vezes mais do que a D/E, apesar de possuir quase cinco vezes menos domicílios. Já a classe B, mais do que o dobro em comparação à C, mesmo tendo metade dos lares.
Com relação às despesas com viagens, a classe A deve direcionar oito vezes mais recursos para a área do que a D/E, enquanto a classe B deve consumir mais do que o dobro em relação à C.
Na categoria de plano de saúde e tratamento dentário, as despesas da classe A devem ser quase cinco vezes maior do que o da classe D/E, enquanto os gastos da B devem superar em 41% os da C.
*estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli