Sobe e desce de preços impedem que trabalhador sinta alívio no bolso
Apesar de ano começar sem altas expressivas, desemprego retém a demanda de consumo
Apesar de a inflação dos alimentos sinalizar estar sob controle neste início de 2018, a percepção dos consumidores nem sempre segue a mesma direção. Motivos concretos existem. A cesta básica regional subiu 3% em Juiz de Fora de um ano para o outro. Dos 22 itens analisados, 14 apresentaram baixa, um permaneceu inalterado e sete tiveram alta. Apesar de a maior parte dos alimentos ter apresentado recuo de preço, houve altas significativas em itens permanentes na mesa do consumidor, como arroz (354%), açúcar (219,7%), cebola (61,4%) e frango (23,07%). Este é o resultado de comparação feita pela Tribuna tendo por base as pesquisas realizadas pela Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA) no dias 5 de abril deste ano e 6 de abril de 2017 (ver quadro).
Para o assessor da SAA, Dalton José Abud, a variação verificada na cesta básica regional acompanha o movimento inflacionário, havendo “casos pontuais” de produtos que subiram mais. A expectativa, no entanto, é que exista ajuste nas próximas semanas dos itens que apareceram como pontos fora da curva. Para ele, é preciso ficar atento ao comportamento dos produtos derivados do milho e da soja. Apesar de a safra ter sido satisfatória no país, na vizinha Argentina, importante exportadora das commodities, o resultado foi inverso por conta da seca. As sobretaxas trocadas entre Estados Unidos e China também afetam o cenário mundial, aumentando a pressão de importação sobre o Brasil.
“A procura será grande no mercado internacional comprador, e a oferta razoavelmente reduzida no mercado interno.” Com isso, explica Abud, a tendência é que exista elevação de preços, rápida, em toda uma cadeia, que inclui as carnes, em especial a de frango, e os derivados de leite, também impactados pela entressafra que se avizinha. “Como os preços ao produtor estiveram extremamente desfavoráveis no ano passado, houve uma redução de matrizes de oferta de leite, com queda na oferta e aumento no preço final.”
Em entrevista à Tribuna, o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), avalia que os alimentos continuam em “boa fase” este ano, a exemplo do verificado em 2017. “A gente imaginava que o clima não fosse tão gentil conosco esse ano, mas ocorreram boas safras de alimentos”, disse. Segundo ele, produtos como arroz, feijão, carne e açúcar apresentam taxas negativas no curto prazo, fazendo com que a pressão inflacionária nas famílias de baixa renda seja menor este ano.
Conforme o economista, como a inflação esteve abaixo das expectativas neste primeiro trimestre (o IPCA ficou em 0,09% em março e 0,70% ao ano), põe em cheque a capacidade de crescimento do país. Ele lembra que a inflação não tem sido puxada pela recuperação da demanda, o que só pode acontecer se houver melhora no mercado de trabalho. O índice de desemprego atingiu 12,6% no trimestre encerrado em fevereiro de 2018. Isso significa que 13,1 milhões de pessoas estão desempregadas no país, conforme o IBGE divulgou em março. Para Braz, com o desemprego em alta, não há como a demanda se fortalecer, mesmo com a redução sistemática da taxa de juros e o aumento da oferta de crédito. “Para que as famílias voltem a consumir, é preciso ter emprego.” Na sua avaliação, o próprio mercado não tem praticado juros tão alinhados à Selic para compensar o risco provocado pelo mercado de trabalho restrito.
Varejo faz ajustes de custos
Para o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Antônio Claret Nametala, o setor começa o ano com preços baixos, a exemplo do que aconteceu em 2017. Apesar do cenário mais favorável, avalia, com a renda mais apertada e o aumento do desemprego, o consumidor tem feito o seu papel, buscando preços menores. “E isso ele tem encontrado nos supermercados.” Segundo Claret, o varejo supermercadista tem aprendido a trabalhar no cenário de mudança de comportamento do consumidor e de deflação. “O setor tem atuado com muita atenção aos custos, de forma contínua, e promovendo ajustes no mix. Se o consumidor quer uma marca nova, um produto substituto com qualidade e preço, o varejo, em parceria com o fornecedor, tem que agir para atender essa demanda.”
Na avaliação do superintendente, não há fatores iminentes que possam impactar o comportamento de preços no setor, como clima, câmbio e pressão do consumo. “Os itens com preços mais altos estão ligados aos hortigranjeiros, o que é normal devido a entressafras.” As projeções para 2018, segundo a Amis, estão mantidas: crescimento de 2,8% nas vendas; geração de 6.800 empregos e abertura de 60 lojas no estado.
Alta das frutas impacta inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, divulgado na terça-feira (10), apontou que as frutas apresentaram o maior impacto individual no índice (5,32%). O grupo alimentação e bebidas, do qual as frutas fazem parte, após cair 0,33% em fevereiro, teve alta de 0,07% em março. O mamão liderou as altas, com avanço de 21,54% no preço no cenário nacional.
Na CeasaMinas, o grupo dos hortigranjeiros, que inclui hortaliças, frutas e ovos, apresentou alta no preço médio de 6,6% no comparativo de março com fevereiro. As frutas ficaram, em média, 10,4% mais caras no balanço, influenciadas principalmente pelos aumentos do mamão formosa (56,1%), manga (27,5%), laranja (16%) e banana prata (14,6%).
O mamão foi afetado por problemas climáticos em regiões produtoras do Sul do Bahia e do Norte do Espírito Santo. O preço maior da laranja está ligado, entre outros fatores, à menor oferta de variedades, o que reduz a concorrência. Já a banana prata, além de estar em entressafra, teve a produção afetada por problemas climáticos em São Paulo e Santa Catarina. Já a manga entrou em entressafra, após passar por um período de preços mais baixos.
O chefe substituto da Seção de Informação de Mercado da CeasaMinas, Douglas Costa, explica que, de modo geral, a situação de preços fica melhor para o consumidor a partir de maio, por conta da melhoria do clima nas regiões produtoras. “A recomendação é a de sempre pesquisar e ficar atento às dicas de consumo próprias de cada época”. Entre as hortaliças, cujo preço foi, em média, 1,9% maior, os destaques das altas foram beterraba (13,2%), cenoura (12,1%) e moranga (11,3%).
Entre as quedas, estão chuchu (-34,8%), batata (-7,5%) e tomate (-8,7%). Apesar da redução de preço em março, o especialista avalia que a batata poderá apresentar altas a partir deste mês por conta da redução na oferta. Já o tomate, apesar de ter ficado 8,7% mais barato em março, deve exigir atenção do consumidor, já que problemas climáticos ainda podem contribuir para alta de preço.
Dentro e fora de casa
Apesar da aceleração no preço das frutas, o grupamento dos alimentos para consumo no domicílio, apurado no IPCA, registrou deflação em março (-0,18%), menos intensa do que a de fevereiro (-0,61%). Os destaques nas quedas foram carnes (-1,18%), tomate (-5,31%) e frango inteiro (-2,85%). Já a alimentação fora de casa acelerou de fevereiro (0,18%) para março (0,52%). No Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), os produtos alimentícios tiveram queda de 0,17% em março, enquanto no mês anterior o recuo havia sido de 0,36%. O grupamento dos não alimentícios ficou com variação de 0,17%. Em fevereiro,o grupo havia registrado alta de 0,41%.