‘Tarifaço do Trump’ mira Minas Gerais: sem recuo em tarifas sobre aço e alumínio
Brasil é um dos maiores exportadores de produtos para os Estados Unidos; grande parte é produzida em Minas Gerais
Apesar do alarde, houve o recuo. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspendeu a taxação imediata na ordem de 25% de produtos importados do Canadá e do México. Para estes países, as novas tarifas de importação passarão a ser cobradas a partir do dia 2 de abril. Porém, ainda não houve uma decisão sobre o adiamento das tarifas sobre aço e alumínio, podendo afetar diretamente a economia brasileira, principalmente Minas Gerais.
Na terça-feira (4), em discurso no Congresso americano, o presidente citou o Brasil entre os países que cobram taxas altas às importações de produtos brasileiros e declarou a intenção de aplicar “tarifas recíprocas”. “Outros países têm usado tarifas contra nós há décadas e agora é a nossa vez de começar a usá-las contra esses outros países”, disse Trump.
Em uma tentativa de estabelecer diálogo com o Governo americano, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, se reuniu, por meio de videoconferência, com o secretário de comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA (USTR), Jamieson Greer, na quinta-feira (6). A conversa abordou o comércio bilateral entre os países e as políticas tarifárias dos EUA, e ambos teriam concordado em realizar novas reuniões para discutir a temática. Porém, não houve uma decisão sobre o adiamento das tarifas ou um novo acordo sobre a relação comercial dos países.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em nota à imprensa publicada na sexta-feira (7), informou que “o vice-presidente considerou positiva a conversa e acredita que, através do diálogo, será possível chegar a um bom entendimento sobre a política tarifária e outras questões que envolvam a política comercial entre os países”.
De acordo com Verônica Ribeiro Winter, analista de negócios internacionais do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiemg, como o Brasil é um dos países que mais exportam aço e alumínio aos Estados Unidos, o aumento da tarifa sobre estes produtos pode diminuir a demanda e, consequentemente, reduzir as exportações. A medida também pode provocar impacto indireto ao desencadear uma possível guerra comercial com outros países, afetando a economia global.
Verônica explica que as tarifas mais altas, mencionadas pelo presidente, são para produtos industriais, uma medida utilizada para proteger e desenvolver as indústrias brasileiras. A analista cita que 48% das exportações dos EUA entram no Brasil com tarifa zero e ainda outros 15% entram a uma alíquota de, no máximo, 2%. “Ao anunciar as tarifas, Trump mencionou especificamente a tarifa brasileira ao etanol. Para o etanol, enquanto os EUA cobram uma tarifa de 2,5%, a tarifa brasileira é de 18%. O Brasil cobra tarifas mais altas para produtos não agriculturais em geral, mas alguns como o etanol são mais protegidos por serem estratégicos”, explica.
Como explica Weslem Faria, professor da Faculdade de Economia da UFJF, o Brasil é um dos países com tarifas mais altas aplicadas às importações, uma medida para proteger a economia interna, assim como agora os Estados Unidos o fazem. “A principal motivação do Trump é uma questão puramente política-econômica. É direcionada ao setor de ferro e alumínio, pois o ‘Cinturão do Ferrugem’ nos Estados Unidos é muito forte entre os republicanos, e foi uma promessa de campanha favorecer este setor. Com os produtos estrangeiros mais caros, esse setor fica estimulado e fica relativamente mais barato comprar domesticamente.”
O professor afirma que a medida pode afetar a economia brasileira de forma generalizada ao reduzir a demanda de exportação destes produtos, mas também pode deixar produtos que usam o insumo com preços mais altos aos consumidores finais nos Estados Unidos. “No geral, o PIB de todos os países reduz, como Brasil, Canadá, México e o próprio Estados Unidos, porque fica mais caro produzir;. O efeito geral fica negativo sobre a economia.”
Segundo Alisson Batista, administrador, contador e professor dos Cursos de Gestão da Estácio de Belo Horizonte, o intuito do presidente norte-americano ao aplicar tarifas sobre produtos importados seria atrair empresas para o país, priorizando os EUA em suas relações. No entanto, aponta a imprevisibilidade das ações: “Em um primeiro momento, existe certa incerteza nas ações, uma vez que diversas medidas estão sendo suspensas pelo próprio presidente Trump”.
Minas Gerais na mira das tarifas americanas
Conforme a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o Brasil é o quarto maior fornecedor de aço para os Estados Unidos. Dentre as exportações de Minas Gerais para os norte-americanos em 2024, o aço totalizou 30,13% do valor total, com aquele país liderando como o destino que mais recebeu o produto mineiro. Já o alumínio totalizou 5,52%, tornando o país o sexto maior destino do produto.
Como explica a analista do CIN da Fiemg, Verônica Ribeiro Winter, a taxação destes produtos pode trazer impacto para os setores siderúrgico e metalúrgico em Minas. A medida também pode fazer com que a China redirecione parte da oferta para o Brasil e prejudique ainda mais a indústria siderúrgica nacional.
Verônica também aponta algumas medidas compensatórias que o Governo brasileiro pode adotar, como negociação com os Estados Unidos para obter isenção das tarifas ou redução das alíquotas e diversificação de mercados de exportação por empresas brasileiras, buscando novos clientes em outros países e ampliando sua cartela de mercados externos. “É preciso ter cautela na análise dos impactos. O Governo e os setores produtivos devem acompanhar as políticas comerciais dos EUA e agir rapidamente para mitigar impactos negativos e explorar possíveis oportunidades dessa nova administração norte-americana.”