Editora Macondo reabre seu espaço com apresentação de ‘Tatear os destroços depois do acidente’

Casa fica no Alto dos Passos e abre suas portas a partir das 19h, em evento gratuito


Por Renato Knopp*

29/05/2025 às 07h00

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Espaço volta ao funcionamento neste sábado (Foto: Divulgação)

Neste sábado (31), a editora Macondo reabre seu espaço, em Juiz de Fora, para receber os leitores, na Rua Dom Silvério 290 – Altos dos Passos. Na ocasião, acontece também a performance do livro do poeta Otávio Campos, “Tatear os destroços depois do acidente”. A apresentação, que é gratuita, começa às 19h.

Reabertura do espaço

A Macondo surge em Juiz de Fora em 2014. Focada principalmente em poesia, a editora publica pequenas tiragens de livros de autores contemporâneos escrevendo em língua portuguesa, e faz algumas incursões na prosa e na tradução. Em seus mais de dez anos de existência, a casa editorial já publicou mais de 100 título e esteve presente nos maiores prêmios literários do país, como o Oceanos, o Prêmio São Paulo de Literatura e o Jabuti, bem como nos mais importantes eventos de literatura, com seus autores convidados para a programação oficial da Flip.

De acordo com Otávio, que além de poeta atua como editor e é o fundador da Macondo, os últimos anos foram de reestruturação da casa, ocasionada por mudanças no mercado editorial brasileiro e o surgimento de um mercado de poesia, que fez com que editoras menores, como a Macondo, tivessem que se reorganizar. Agora, em 2025, Otávio entende que reabrir fisicamente o espaço é uma possibilidade, além de gerar trocas e discussões sobre livros, de ser um espaço para concepção, debate e criação de novos livros.

“Tenho pensado nesse espaço também para isso: não só para se reunir, para fazer eventos de leitura, de clube do livro, mas também propor lugares para pensarmos a criação de livros. Acho que isso acaba sendo deixado um pouco de lado. Já existem iniciativas grandes, até na cidade vejo essas iniciativas de pessoas que organizam clubes, que fazem essa leitura conjunta, mas penso também em lugares de criação, em aproveitar uma prática editorial, tentar pensar nesse lugar da edição, que é uma coisa que me atrai também. Não somos apenas uma livraria, somos também uma editora”, destaca Otávio.

O poeta também ressalta que com o surgimento de muitas editoras no mercado que publicam em pequenas escalas, a figura do editor acabou se perdendo, devido a grande produção. Dessa forma, a Macondo realiza um trabalho que desacelera esse processo de publicação, para além do de criação de leitores. “É importante se criar leitores, até porque se lê muito menos do que se publica. Olha quantos livros saem por dia no Brasil, e não dá para todo mundo ler. Pessoas querem ser lidas, mas não querem ler. Creio que é importante fazer mesmo esse movimento de leitura.”

‘Tatear os destroços depois do acidente’

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Otávio, editor e poeta, apresenta a performance de ‘Tatear os destroços depois do acidente’ (Foto: Divulgação)

A performance de “Tatear os destroços depois do acidente” será feita por Otávio, que lerá em completude seu livro. O autor o entende como um grande poema, feito de corte e repetição, como costuma ser a poesia e o cinema. “Nele me proponho a analisar algumas coisas referentes à construção da loucura, que foi realmente o meu trabalho na defesa de tese de doutorado. Como que se monta uma imagem de loucura, como é criada a ideia de loucura, né? Que tem a ver também com a própria imagem das loucas que foram criadas na França. Tem muito a ver com a fotografia. E isso já entra também no âmbito do corte lacaniano.”

 

A história perpassa o assassinato do estudante Jun Lin, cometido pelo canadense Luka Magnotta em 2012. O caso foi filmado e disponibilizado on-line para milhões de espectadores, que puderam perceber uma semelhança entre a sequência de imagens e aquela em que a personagem de Sharon Stone assassina seu parceiro no filme “Instinto
selvagem”. Essa é uma das cenas do livro, o qual toma o corte e a montagem como procedimentos para se contar uma história, refletindo também sobre o true crime e como a morte chega até nós.

Ao olhar, como conta Otávio, citando o filósofo Didi-Huberman, o que vemos nos olha de volta. Assim, ao ver uma morte, uma montagem e cenas eróticas, quem ou o que é observado encara novamente o observador. O olho pode ser da máquina, como pode ser um “olho desejante”. Ao denunciar a montagem, Otávio Campos apresenta uma narrativa ambígua, construída a partir de recortes entre cenas de filmes, corpos, análises, entre outras coisas.

*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

Tópicos: Macondo

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