Jorge Hallack expõe arte abstrata no Sensorial
Nesta sexta-feira, o artista apresenta ao público 50 telas; evento também vai contar com um jantar de gastronomia árabe e uma apresentação do grupo Carol Alzei

Nesta sexta-feira (31), Jorge Hallack vai fazer uma exposição no espaço cultural do Sensorial, trazendo para o público 50 obras que foram construídas nos últimos quatro anos. O percurso que ele segue no mundo da arte, no entanto, é mais antigo – o artista tem formação na área, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e pinta desde os 20 anos. Quando descobriu o ramo das obras abstratas, nesse processo, percebeu que sua arte poderia ser ainda mais livre, mesclada e sensível do que imaginava, e desde então tem seguido esse caminho buscando explorar diversas emoções. O evento também conta com um jantar de gastronomia árabe e uma apresentação do grupo Carol Alzei. As entradas, incluindo a refeição, custam R$140.
Apesar de entender que a exposição traz diversos quadros abstratos, o pintor afirma que suas obras não são totalmente enquadradas em nomenclaturas. “Escolhi uma variedade, ainda que sutil em muitos momentos, justamente pra contar sobre essa transição para uma arte mais abstrata. Muitas obras são uma mescla entre o abstrato e o figurativo”, explica. Essa diferenciação, para ele, é marcada inclusive com o uso da tinta acrílica, que seca rápido, e por isso faz com que ele possa trabalhar várias camadas com facilidade. A tinta a óleo, usada no início de sua carreira, demora a secar e por isso possibilita que a figura seja bem retocada, algo que ele não busca neste momento. “Existe uma fuga do objeto para a abstração. Acho que essa é a chave, você busca algo mais livre, em que você possa captar mais elementos para compor a sua visão daquele momento. A arte expressa uma emoção, não é só uma ideia, não é algo que a gente consegue colocar em um sistema cartesiano, e a arte abstrata facilita essa liberdade”, diz.
Para ele, o processo de um artista está relacionado com a possibilidade de responder a grandes questões humanas, como quem somos, para onde vamos e o que devemos fazer. “Quando você faz um quadro, vai pintando e descobrindo o que responde melhor às suas perguntas. Você busca fazer algo novo, sempre existe esse impulso”, explica. Do que ele gosta mais gosta em seu trabalho, por isso mesmo, é da liberdade ao olhar de quem observa a obra para interpretar essas questões. “Deixar que as associações que você vê na tela entre as cores, as formas e o jeito que elas foram reunidas passem a ter uma correlação com o nosso interior, nossos pensamentos e o jeito com que olhamos as coisas. O mesmo trabalho pode mostrar uma faceta de uma emoção mais triste, enquanto para outros aquilo pode trazer alegria e felicidade”, revela. O que o atrai, também nesse sentido, é o fazer com a mão, a descoberta das cores com as tintas e a forma pela qual aquilo chega à tela, criando relações e composições.
Ao longo da carreira, Jorge foi percebendo que gosta de poder trabalhar em telas maiores, mesmo que sem abandonar telas pequenas – algo que também vai ser possível constatar na exposição em que resgata parte da sua história pessoal com a pintura. “Me satisfaço mais assim, porque esses formatos e essa tinta, com movimentos rápidos, é algo menos contido. É algo gestual”, explica. Além do gosto, percebe esse movimento entre suas inspirações, vindas do expressionismo abstrato, principalmente com o pintor estadunidense Jackson Pollock, que também utilizava telas grandes para desenvolver seus trabalhos. A diferença, para ele, se dá também por sua relação com o entorno. “Moramos em um país com uma diversidade de biomas, elogiado pelas pessoas do mundo todo pelas suas belezas. Você sai pra dar uma voltinha e é bombardeado de percepções, e isso tudo te chama atenção e de alguma forma aparece no seu trabalho”, explica.
Uso da tecnologia
A maioria das obras escolhidas para essa exposição foi feita quando ele deixou a área do comércio, onde trabalhava, e se dedicou, totalmente, ao mundo das artes plásticas. O processo pessoal coincidiu com o período da pandemia, e isso também impactou os caminhos que seu trabalho tomou. “Foi uma época em que os questionamentos eram mundiais, e muito fortes, então sempre reflete. O trabalho do artista sempre é baseado em toda a história, não só da gente, mas da humanidade, da terra, da própria arte”, diz. Para buscar se aprofundar em cenários diferentes, ele explica que a tecnologia teve um papel bastante interessante, e que continua presente mesmo com o fim do distanciamento social.
Nesse processo, Jorge passou a assistir a programas sobre a natureza, a pesquisar imagens feitas por drones e a se dedicar a elementos que via em diferentes perfis nas redes sociais. “Nós estamos em uma época de pleno desenvolvimento da tecnologia, e isso traz muita coisa nova. Parece que o campo que a gente tem de viver é infinito, aumenta cada vez mais as nossas possibilidades, e acho isso muito legal. A gente fica com a impressão de que sempre tem algo a mais, e é legal quando você consegue manter isso fluindo”, conta. A individualidade de cada experiência compartilhada também acaba atraindo o artista. “Cada um tem uma visão específica, própria e única, e demonstra na internet. Com isso, você também capta muitas imagens e abstrai algo”, comenta.
Seleção dos trabalhos
Por ter se dedicado intensamente à sua arte nos últimos anos, há poucos trabalhos, entre os selecionados, que são mais antigos. Cada um dos escolhidos para a exposição, no entanto, tomou um tempo diferente para ser finalizado. “Às vezes, você começa um trabalho hoje e termina amanhã, em outros você demora mais pela dificuldade técnica. Tem também aqueles aos quais você volta, porque caminha até um ponto e quer questionar mais aquele trabalho”, explica. As próprias decisões que toma enquanto pinta também variam. “As cores têm características diferentes, então busco variar. Já reparei que se estou trabalhando muito em tons, tenho vontade de trabalhar nos opostos. Quando trabalho com muito contraste, tenho vontade de ir para os tons que têm limites bem parecidos”, explica.
Para ele, a ideia de um trabalho abstrato pode surgir de diversas fontes, e por isso continua se fascinando com o que essa arte proporciona. “Às vezes, vem de uma cor que você está com vontade de pintar, ou até de um som que você está escutando, que é muito ligado às formas e às cores, porque tem uma vibração e um tom. Então, nesse sentido, é possível buscar trabalhos que têm alguma coerência, mas que nem sempre a gente vê na hora. Vão adquirindo uma certa linha”, reflete. As obras escolhidas, em sua visão, respondem a questionamentos que vieram e também expressam o que ele pensa sobre a arte, a vida e todas essas possibilidades que se encontram ao longo desse caminho.