Conheça Rômulo Vlad, bailarino juiz-forano de renome que atuou em curta local
‘Agora é tempo de adormecer as máquinas’, dirigido por Pedro Carcereri, tem previsão de estrear ainda neste ano
A trajetória do juiz-forano Rômulo Vlad começou quando ele ganhou uma câmera fotográfica. “Na minha primeira infância tive um incentivo muito grande de me ver já belo nas fotografias”, conta. Já com esse entendimento sobre si, começou, aos 9, a dançar jazz e ballet. Depois vieram o sapateado, as danças urbanas e contemporâneas e a vida foi indo. Ele se mudou de Juiz de Fora, e, nesse meio tempo, adicionou ao substantivo de bailarino os de performer, ator, coreógrafo, pesquisador de danças urbanas e modernas, além de estudante de canto. No início de 2025, Rômulo retornou para Juiz de Fora para protagonizar a videodança “Agora é tempo de adormecer as máquinas”. Produção local dirigida por Pedro Carcereri, que contou com financiamento da Lei Paulo Gustavo.
Mas antes de retornar para “sua cidade”, como fala, Vlad dançou um bocado. Assinou coreografias para grandes plataformas, como Disney Plus e Telecine, colaborou com artistas renomados, como IZA, Marina Sena, Pabllo Vittar, Pedro Sampaio, Selena Gomez, e atuou no espetáculo “Frenético dancin’ days”, com direção de Deborah Colker e texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade.
“Voltar para Juiz de Fora é uma honra. Tenho contato com grandes produções por todo o país, mas fazer isso voltando para minha cidade é entender que ela também é uma grande provedora de arte. Voltar para um projeto tão importante é um presente. A equipe é extremamente talentosa”, afirma Vlad.
O retorno para a gravação se deu a convite de Pedro. Esta é a segunda produção em que ambos trabalham juntos. A primeira oportunidade foi em 2020, com a também videodança “A que passo você está de perder o controle?”. À época, o diretor conhecia Rômulo apenas pelas redes sociais, mas decidiu entrar em contato mesmo assim. “‘Não te conheço, mas quero trabalhar com você’. Nos demos bem e viramos amigos. Tenho um respeito muito grande por ele, assim como ele tem por mim”, relembra o diretor.
Foi a partir deste primeiro contato que a ideia para esta atual produção começou a ser gestada. “Agora é tempo de adormecer as máquinas”, é, segundo o diretor da obra “uma pesquisa cênica de como é morrer”. E acrescenta: “Venho trabalhando a questão do movimento e do corpo. O movimento do corpo e o movimento da câmera. Como interagem e como criam um senso estético diferente de uma coisa que é cinema e de outra que é dança. É nesse entremeio em que estamos trabalhando. Há ficcionalidade nisso, pois contamos uma narrativa, mas há também uma questão muito experimental”.
Assinando a direção coreográfica do filme, Rômulo entende que “a coreografia é intensa”. Segue: “Ela se passa dentro da cabeça do protagonista, onde ocorre uma briga entre mundos: o espiritual e o dos medos. O protagonista precisa provar o quanto deseja voltar ao mundo, então ele pede uma nova chance para a ‘barqueira da morte’. Acontece uma briga em forma de arte depois disso”.
Além do Pedro e Rômulo, fazem parte do elenco Caroline Gerhein, Pedrin Fonseca, Alira, Luana Maria e Taua Klonowski. As gravações foram realizadas em cinco dias, sendo três dias de ensaio e dois de captação. O filme tem previsão de estreia no segundo semestre de 2025.
Pensar a morte
A finitude é o que une Pedro e Rômulo neste trabalho. Neste sentido, a Tribuna perguntou a ambos como este tema influencia na videodança “Agora é tempo de adormecer as máquinas”. Para o dançarino, falar sobre o assunto é algo delicado, mas “entender a estrutura cênica da morte, entendo isso de uma forma singela/bela está sendo um desafio muito lindo na minha carreira”.
Já Pedro traz uma outra ideia: “A morte permeia a arte desde seus primórdios. Estamos sempre questionando ‘o que é morrer?’ ‘O que vai acontecer depois?’ Acho que na arte podemos questionar isso e colocar na ordem do dia. Vamos falar sobre o que é morrer, como deve ser ‘lá’. Usando Joseph Boils, a arte é a ciência da liberdade. Arte é criar formas de pensar diferente”.
Importância Lei Paulo Gustavo
A Lei Paulo Gustavo (LPG) foi criada em 2022 para apoiar o setor cultural brasileiro após os efeitos da pandemia de Covid-19. Ela disponibilizou R$ 3,8 bilhões. Deste montante, R$ 2 bilhões estão sendo repassados aos estados e R$ 1,8 bilhão estão sendo transferidos para o fomento cultural de todos os 5.570 municípios brasileiros. De acordo com o diretor e fundador da produtora audiovisual Old Man, Pedro Carcereri, será possível pensar em uma cultura no Brasil antes e depois da LPG e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), que também tem como objetivo apoiar a cultura em todo o Brasil.
“A LPG veio em um momento crucial. É muito importante termos esses incentivos contínuos e é fundamental que os governos estaduais, municipais e o federal se empenhem para fazer o dinheiro chegar o mais rápido possível ‘na ponta’, pois assim mais rápido ele volta (sobre a pesquisa que cada R$ 1 investido em arte e cultura gera R$ 13 em retorno econômico)”, afirma.
Além disso, o diretor ainda destaca: “Uma cidade como Juiz de Fora, que tem mais ou menos entre 3,5 e 4 milhões por ano, entre a LPG e a Aldir Blanc, isso no mercado da cidade gera uma transformação ainda não mensurável. Isto tem que ser encarado como política. Todo ano temos que ter uma política de incentivo. O governo tem que subsidiar isso. O único lugar no mundo em que o cinema se auto-sustenta é em Hollywood. No restante do globo há subsídios. A Coréia do Sul é um bom exemplo. Nos últimos 20 anos eles escolheram investir em cultura. Eles invadiram o mundo com a cultura deles. É importante desenvolver essa área que além de ser extremamente importante culturalmente e socialmente, também é extremamente importante economicamente”.
* Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy