Projeto promove festival cultural e ceia comunitária no Natal em Santa Luzia
FestivAlto Falante reúne doações e busca empoderar crianças e adolescentes do bairro; na data, também serão recolhidas contribuições para vítimas de enchente

“O Natal, para mim, significa o meu bairro.” É assim que PretoVivo começa a contar sobre a ação que irá levar um festival cultural e uma ceia comunitária para o Santa Luzia, onde vive, na quarta-feira (24), das 13h às 20h. A ideia surgiu a partir do projeto Alto Falante, que oferece oficinas para 30 crianças e adolescentes do bairro, a partir dos temas escolhidos por eles. Para garantir que todos tenham um dia feliz, a iniciativa tem como objetivo reunir cerca de 150 pessoas na Rua Cônego José Maria de Assunção para festejarem o Natal cercados de afeto e de “famílias formadas pelo hip hop”. São convidados tanto os participantes do projeto quanto seus familiares, amigos e moradores das ruas próximas — o evento irá acontecer na rua, para todos que chegarem perto. O dia contará com sarau, batalha de rima, poesia e a presença de diversos artistas da cidade, e precisa da doação da população (por meio do pix [email protected] ou de alimentos crus) para ser realizado.
A ideia do FestivAlto Falante, feito especialmente para o Natal, veio da experiência que o organizador já tem com os participantes do projeto. Ao longo dos mais de quatro anos de convivência, ele viu a evolução dos participantes e também pôde aprender com eles. Nesses momentos, conta que as celebrações se tornaram bem importantes para o grupo — no Dia Mundial da África, fizeram um museuzinho e montaram para a cidade poder visitar, quase sempre na rua e de forma aberta para o público. “Acho muito importante trazer a cultura para dentro da ceia, porque é um dos grandes patrimônios que a gente tem, principalmente para quem resiste na periferia”, explica PretoVivo. Mas ele também destaca que esse momento é uma forma de incentivar as doações e construir a ceia. O projeto, inclusive, também vai reunir doações para os afetados pelas enchentes em Juiz de Fora.
Toda a concepção da iniciativa começou quando, em 2021, ele percebeu que as crianças do seu bairro tinham “perdido a vontade de brincar”. Ainda em contexto de pandemia, ele notou que a rua estava isolada do mundo, mas que a convivência entre as crianças continuava a acontecer por necessidades. Para evitar que ficassem à deriva e sofressem os riscos de estar na rua ou expostos nas telas, ele entendeu que um projeto que incentivasse a cultura poderia ser a melhor alternativa. “Nós sempre trabalhamos para eles terem um intercâmbio cultural. No festival, eles vão ter contato com vários tipos de arte e devolver mostrando a deles”, explica.
Também é assim no dia a dia do projeto, que acontece uma vez por semana, quando o organizador convida um especialista no assunto escolhido pelos alunos. A ideia é que ele não seja a única referência dos meninos. E o aprendizado é constante: “Eles tomaram uma consciência rápida da construção étnico-racial do Brasil, a história do nosso país e como ele foi formado. Eles entendem o motivo de muitas problemáticas de hoje e onde o nosso bairro está localizado, porque ele é tratado de certa forma…Porque as pessoas têm vários aspectos da vida parecidos, por exemplo”.
Conceito amplo de família

Foi a partir desse encontro com as crianças e os adolescentes que ele também percebeu que, para eles, a família é muito mais que uma imagem formada por pai, mãe e filho. É a reunião de pessoas que se importam e querem estar juntas para celebrar. “Família inclui vizinhos e amigos, inclui quem se importa. E pensamos em uma programação que vai até as 20h, para as pessoas depois poderem ir para casa e comemorarem o Natal do jeito tradicional, como fazem sempre”, conta ele, que destaca que não aceitam doações de comidas já preparadas, para se prevenir de ameaças de envenenamentos, como as que já viram nos noticiários. Todo o preparo e a organização são feitos com a ajuda de voluntários e interessados em agregar ao projeto.
Desde o momento de celebrarem em conjunto até a apresentação, ele entende que essa é uma forma de “empoderamento e autoestima” que marca a vida dos participantes, criando novas memórias e chegando onde a iniciativa pública não chega. O evento vai ter a presença de nomes como Guilherme MC, Da SL e MC Dengo (que são artistas do projeto); e, já entre as atividades, estão Batalha do Proceder, Slam Do Proceder e Sarauto-Falante. Além do PretoVivo, também estarão presentes Frisko, Vêne, Marina Menezes, LRZ, Pri Moreira, Vitu Marcs, Coletivo Vozes da Rua, Verazz, Biel, Dablliu, Nalu Gonzaga, Éricão, Jazzmoon, Pinheirin, Licurci, Marcelo Marte e Ogdasul, para compor a família construída em conjunto no Santa Luzia.









