Eles não trouxeram malas


Por VICENTE DE PAULO CLEMENTE Advogado/contabilista, bisneto do imigrante alemão Philip Clemens

15/05/2012 às 07h00

Dentro das novidades da Festa das Etnias deste ano, promovida pela Funalfa, Prefeitura e representantes das raças que contribuíram para o desenvolvimento de nossa cidade, além do sempre deslumbrante festival gastronômico que descendentes de africanos, alemães, árabes, italianos, portugueses nos presenteiam, o título da festa é Por que viemos?.

Visitei a exposição no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Num espaço, à esquerda, fotografias de casamentos e momentos de felicidades entre casais e famílias, além de utensílios diversos e roupas cerimoniais, desfilaram ante meus olhos atentos.

Já ia saindo, quando, à direita, minha atenção foi chamada para outro espaço mais escuro, onde a exposição continuava, após uma série de coisas que pareciam não fazer parte da mesma, segui em frente e me deparei com banners ricamente desenhados com fotografias e histórias dos imigrantes que contavam a razão por que vieram para Juiz de Fora.

Embevecido passei por nomes e sobrenomes ilustres, portugueses, árabes (sírios e libaneses) italianos e os meus alemães e exemplares de malas, maletas e caixotes que trouxeram consigo, tanta gente que deixou sua terra natal, pelas mais diversas razões.

Ao final, bem lá no canto, após as razões dos africanos, trazidos escravos para nosso Brasil, banners com fotografias não tão trabalhadas como as dos demais, sem qualquer sobrenome (já identificaram um sobrenome de negro escravo original?), estavam algumas caixas servindo de pódio, onde não se via nenhuma mala, maleta ou caixote de viagem, somente uma grande frase escrita, que sobressaía na escuridão do espaço: Nós não trouxemos malas. Senti um impacto. Fiquei parado ali, por uns segundos, pensando. Somente então, engolindo em seco, me dirigi à saída cabisbaixo. Parabéns aos expositores e obrigado pelo impacto.

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