A escrita na ponta dos dedos
O autor Otávio Campos deu o pontapé inicial da coleção “Cadernos de ausências” com “Amanhã tomo um vôo a Budapeste” (12 páginas), vendido a R$ 4 e tiragem inicial de 50 exemplares. Em seguida, veio Frederico Spada Silva e sua “Coleção de ruínas” (16 páginas), comercializada pelo mesmo valor. Neste sábado, outro poeta, Danilo Lovisi, vem dar sua contribuição ao projeto, criado pelo coletivo editorial Edições Macondo sem qualquer pretensões comerciais, com “Tenho dificuldade em perceber que existo”. Publicar “boa” poesia contemporânea é a meta da Macondo. “O selo tem essa questão da busca da identidade através da linguagem, de utilizar essa linguagem como um lugar”, explica Danilo. O lançamento do terceiro volume ocorre neste sábado, às 15h30, na Quarup Livraria Antiquária, com leituras de textos das três plaquetes (livros curtos). “Queremos publicar autores que estão produzindo em Juiz de Fora e investir em edições mais baratas”, comenta Otávio, mentor da Macondo, ao lado de outros dois integrantes do Eco-Performances Poéticas: Anelise Freitas e André Capilé.
“Desde que me mudei para Paris, minha escrita mudou bastante, ficou mais imagética. As frases ganharam mais fôlego, e meus versos são muito mais longos. Antes eu tinha uma escrita mais fragmentada. Cada verso é como se fosse uma imagem meio independente, mas que, no conjunto, vira outra coisa”, conta Danilo. “É como se eu falasse de coisas que posso tocar com as pontas do dedos, o que para mim é bem sutil. É como se tudo fosse fuligem”, completa ele, que deixou a cidade natal, onde cursava letras, para fazer intercâmbio na França. Com a mudança, o livro autoral não publicado que lhe rendeu o segundo lugar no ano de 2013 no concurso “Edith só para poetas” continua entre os planos futuros.
Segundo o agora estudante de letras e de artes da Université Paris Diderot – Paris 7, a transformação ocorrida em seu estilo trouxe novidades também para outras áreas. “Tento traduzir no papel a imagem que me vem em mente. Por isso comecei a produzir videopoemas”. Assinado por ele e Matheus Engenheiro, “E quando escuto chamarem meu nome” é um dos concorrentes da Mostra Competitiva Regional do evento, programado para começar na próxima segunda-feira.
Foi de uma simples conversa que nasceu a ideia do Macondo. “Não é uma novidade. A cidade tem outras editoras”, diz Otávio, para logo justificar o motivo da empreitada poética. “Mas pensamos num outro formato que não caberia numa editora maior. Algo que atendesse a nossa demanda, e as escolhas dos autores têm sido feitas de forma bem afetiva”, compartilha o poeta, também coeditor do blog literário “Um conto”. O que as três obras possuem em comum, além do preço (superpopular), o número de páginas e o gênero literário? “Todos os cadernos encontram bem esse sentido de ausência mesmo”, sentencia ele.
A ideia de coletivo passa, principalmente, pelo processo de edição das obras. Depois que os textos são impressos em uma gráfica, o trio faz o acabamento a mão. Com o dinheiro arrecadado no volume número um, publicaram o o segundo e assim sucessivamente. “O objetivo é fazer rodar”, sentencia Otávio, que tem motivos para comemorar. “Amanhã tomo um vôo a Budapeste”, composto por quatro poemas, sendo três inéditos e um já publicado em uma revista portuguesa, está na terceira edição. Danilo e Otávio afirmam que as obras são uma espécie de pré-livro. Os interessados em adquirir qualquer um dos três títulos devem entrar na página do grupo no Facebook – ediçõesmacondo. Para 2015, eles planejam apresentar mais cinco trabalhos, além de duas novas coleções.
CADERNOS DE AUSÊNCIAS
Lançamento neste sábado, às 15h30
Quarup – Livraria Antiquária
(Rua Padre Café 484 – São Mateus