Contação de histórias: o poder da narrativa para reduzir a dor em crianças hospitalizadas
Estudo científico publicado por pesquisador juiz-forano comprova que a narrativa aumenta as emoções positivas em crianças hospitalizadas
Um artigo científico publicado por um pesquisador juiz-forano radicado em São Paulo há 25 anos, o físico com pós-doutorado em neurociências Guilherme Brockington, comprova o que os contadores de histórias já sabem, na prática: que a narrativa aumenta as emoções positivas, a ocitocina, hormônio que produz sensações de prazer e afeto, e diminui o cortisol, hormônio que regula o humor, a motivação e o medo, e reduz a dor em crianças hospitalizadas. “A gente desconecta o paciente daquele momento difícil que ele está vivendo. Não só ele, mas também o acompanhante e toda a equipe do hospital, todo o ambiente se enche de magia. E a gente vai para um outro lugar, do amor, do coração”, conta Luciana Loures, a palhaça Chuchuca, que exerce a atividade em Juiz de Fora em hospitais, escolas, residências terapêuticas, abrigos, nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI’s).
“A pesquisa investigou o impacto da contação de histórias no bem-estar fisiológico e psicológico de crianças em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Testamos se a contação de histórias poderia influenciar biomarcadores, como oxitocina e cortisol, reduzir a dor e afetar positivamente as expressões emocionais de crianças hospitalizadas. O estudo envolveu 81 crianças, divididas em dois grupos: um grupo de contação de histórias (41 crianças) e um grupo de controle (40 crianças) que brincavam de “O que é, o que é?”, uma atividade projetada para corresponder à interação social da contação de histórias, mas sem o elemento narrativo. Ambas as intervenções duraram 30 minutos. Descobrimos que as crianças no grupo de contação de histórias exibiram um aumento significativo nos níveis de oxitocina após a intervenção, com um aumento maior em comparação com o grupo de controle”, explica o pesquisador.
“A oxitocina é conhecida por seu papel na promoção de vínculos sociais, empatia e redução do estresse. Além disso, ambos os grupos apresentaram uma redução nos níveis de cortisol, mas o grupo de contação de histórias mostrou uma diminuição muito maior. O cortisol é um hormônio relacionado ao estresse, e sua redução está associada à diminuição dos níveis de estresse e ansiedade. Relatos subjetivos das crianças indicaram que aquelas no grupo de contação de histórias experimentaram uma maior redução na percepção da dor em comparação com o grupo de controle. Isso sugere uma ligação entre a contação de histórias e o alívio da dor, provavelmente mediada pela natureza calmante e imersiva do envolvimento narrativo”, explica o estudioso,
Ao final, o grupo de contação de histórias descreveu sua experiência hospitalar com uma linguagem com mais emoções positivas. “Eles tinham mais probabilidade de descrever médicos, enfermeiros e o ambiente hospitalar em termos positivos, refletindo uma mudança em sua perspectiva emocional. O estudo revela que a contação de histórias, por meio de sua capacidade de transportar os ouvintes para um espaço emocional e cognitivo diferente, pode desencadear mudanças fisiológicas benéficas, reduzir a percepção da dor e alterar positivamente as respostas emocionais das crianças ao ambiente estressante do hospital”, conclui.
Tudo isso levou o especialista a concluir que é preciso considerar a contação de histórias como uma intervenção eficaz e barata, centrada no ser humano, e que pode melhorar o bem-estar de crianças hospitalizadas.
Contação de histórias on-line
Varal de histórias – projeto da atriz Juçara Batichoti, com histórias aos sábados e manufatura de bonecos às quartas
Kátia Pecand – educadora que traz dicas para professores, atividades de alfabetização e contação de histórias diversas, com múltiplas brincadeiras e usos criativos de objetos para tornar as atividades ainda mais lúdicas
Ana Flávia Basso – o canal criado pela educadora e psicóloga traz dicas e reflexões para pais e educadores sobre o poder das narrativas e a arte de contar histórias, com vídeos com gestos, para bebês, desenhos e dobraduras