A Secretaria de Turismo (Setur) e entidades privadas da cadeia produtiva do setor constroem a várias mãos circuitos turísticos para Juiz de Fora. Há a expectativa de que, em novembro, a Setur lance os caminhos da Gastronomia, das Artes, do Boteco, da Roça e das Cervejas Especiais, bem como os Caminhos Radicais, de esporte e aventura. A roteirização turística é mais um passo do Município em busca de pavimentar as políticas públicas voltadas para o setor, já que uma das metas do Plano Municipal de Turismo é ampliar a oferta no mercado regional e nacional. Embora outros circuitos já tenham sido sugeridos, os envolvidos mantêm cautela em razão do ainda grave quadro epidemiológico. O setor, aliás, foi um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19.
A roteirização é discutida em um grupo de trabalho (GT) homônimo criado pelo “Fórum permanente para a retomada do turismo na Instância de Governança Regional Caminho Novo”, em maio. À Tribuna, o secretário de Turismo, Marcelo do Carmo, explica que a roteirização de circuitos turísticos é um dos pilares do fórum. “Roteirizar é consolidar o produto, ou seja, enfeitar o pavão, dourar a pílula”, aponta. “Temos um monte de produtos espalhados por Juiz de Fora, mas eles não compõem um produto bonito.” A roteirização, acrescenta Marcelo, não é exatamente ligar o ponto A ao B, mas construir um percurso. “O importante é contar a história. É o que será visto pelo caminho. Nesta perspectiva, vamos desenvolvendo, fortalecendo, profissionalizando e incrementando a cadeia produtiva do turismo.”
As discussões foram abertas após a sanção do Plano Municipal de Turismo, em dezembro de 2020. O documento era uma reivindicação histórica da cadeia produtiva do turismo em Juiz de Fora – a pauta estava no Conselho Municipal de Turismo ao menos desde 2011. Os circuitos previstos para novembro, por exemplo, foram os mais pedidos à época da construção do Plano. “A gente não definiu nada. Já estava definido. O Plano Municipal foi lançado ainda na administração do Almas (Antonio Almas, ex-prefeito). Neste documento, estes roteiros foram os mais pedidos”, pontua Marcelo. Agora, os circuitos serão consolidados em subgrupos no âmbito do GT Roteirização. “Cada um dos subgrupos foi criado conforme o roteiro e estamos começando a organizar. O processo começa a partir do inventário turístico – o que há, por exemplo, entre os pontos A e B”, acrescenta.
A consolidação passará diretamente pela participação popular, o que, aponta o secretário de Turismo, é o maior gargalo deste processo. “Todo mundo quer, todo mundo cobra, mas, na hora da construção, todo mundo some transferindo a responsabilidade para o Poder Público. O turismo é fruto de uma construção público-privada”, critica. Marcelo afirma que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) faz apenas o trabalho de base e o lançamento dos roteiros. “Comercializá-los é um trabalho das agências de turismo. Estabelecemos os roteiros sem olhar comercial algum. Recontamos a história. O empreendedor que tiver boa visão de negócio vai incrementar a história que vamos contar.” Ele relembra que, tradicionalmente, Juiz de Fora apenas emite turistas, não os recebe. “Está na hora de inverter essa lógica que perdura há décadas.” Os circuitos devem ainda ganhar uma identidade visual, bem como atravessas processos burocráticos, jurídicos e financeiros até serem lançados.
Grupo de trabalho
Além da Setur, o GT Roteirização reúne, por exemplo, o Conselho Municipal de Turismo, o Departamento de Turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional (Senac) e a Instância de Governança Regional Circuito Turístico Caminho Novo. Além de Juiz de Fora, integram o Caminho Novo os municípios de Matias Barbosa, Santos Dumont, Simão Pereira, Santana do Deserto e Mercês.
Apenas turismo doméstico
Os seis roteiros turísticos passaram pelo crivo de um estudo de viabilidade realizado pela Setur dadas as restrições impostas pela pandemia de Covid-19. Conforme Marcelo, a perspectiva, a princípio, é trabalhar apenas com o turismo doméstico. “A gente só irá trabalhar o público que está em um raio de 100 quilômetros de Juiz de Fora. Não temos a intenção de estabelecer uma política pública querendo trazer gringos, por exemplo. Até porque não temos produtos para oferecer a este turista.” O secretário pontua que o tempo médio de viagem em meio à pandemia é de apenas três horas. “Independentemente do modal. A nível mundial, o que está se percebendo é que as pessoas estão viajando para lugares mais próximos. Então, trabalhamos nessa perspectiva de desenvolver apenas seis roteiros.” Outros roteiros demandariam um trabalho maior, como a Rota Estrada União Indústria.
Questionado, Marcelo admite a preocupação com o quadro epidemiológico. O Estado de Minas Gerais já soma 11 casos da variante Delta da Covid-19, sendo um em Juiz de Fora. “Se a gente cria políticas para lotar Juiz de Fora, pode significar um retrocesso no quadro epidemiológico. É dia após dia. E, sobretudo, é uma decisão da (Secretaria da) Saúde, não do Turismo.” Ainda que algumas cidades já estejam projetando as festas de fim de ano, o secretário pontua que não há como prever. “A gente discute internamente na Prefeitura se haverá Natal, Réveillon e carnaval. Não sabemos. Já há algumas cidades soltando marketing, mas lotado de ‘se’. Não sou autorizado nem teria como fazer previsões.”
A pandemia, inclusive, impacta diretamente em projeções de geração de renda e emprego, bem como visitantes. “Não temos essa conta, não. Essa conta é muito difícil”, diz Marcelo. “Faremos um esforço de comunicação, mas não dá para falar que em dezembro haverá um número X ou Y de pessoas visitando Juiz de Fora. A gente tem um monte de ‘se’.” Conforme o titular do Turismo, o tamanho da campanha de visitação, a imunização de eventuais turistas e a capacidade de operação dos hotéis são algumas das condicionantes. “A virulência da cepa Delta do novo coronavírus pode mudar (o quadro). A ocupação dos hotéis hoje é entre 10% e 20%. Não paga a conta. Mas seria leviano dizer que vamos chegar a 50%, porque há uma série de efeitos externos.”