“Polícia Federal – A lei é para todos” tem pré-estreia hoje cercado de polêmica
Filme, protagonizado por Marcelo Serrado (Sérgio Moro) e Ary Fontoura (Lula), toma de assalto centenas de salas de todo o país
(Agência Estado) Luiz Carlos Merten
Antes mesmo de entrar em cartaz – na quinta-feira (7), mas muitas salas já estarão apresentando o filme na quarta -, “Polícia Federal – A lei é para todos” já está provocando polêmica. De cara, o diretor Marcelo Antunez e seu elenco já sabiam que poderiam ser atropelados no embate entre esquerda e direita, coxinhas e petralhas. Gente que ainda nem viu o filme o acusa de parcialidade etc. Faz parte, mas a polêmica de verdade está vindo de outras partes. O Sindicato dos Advogados de São Paulo está querendo levantar na Justiça o sigilo sobre os patrocinadores, sob a alegação de que o filme faz juízos definitivos sobre matérias não julgadas.
Há até a suspeita de que o filme quer influenciar a eleição de 2018, acusação similar à que foi feita a “Lula, o filho do Brasil” em 2010. O longa de Fábio Barreto sobre o ex-presidente tentava influenciar a eleição de Dilma Rousseff. Não apenas – a Federação Nacional dos Policiais Federais acusa o filme de exagerar na propaganda dos procuradores, e a associação desses últimos, a ADPF, já reagiu de forma incisiva. Nas redes sociais, o bate-boca corre solto.
Se tudo isso se refletir em bilheteria, o diretor Marcelo Antunez estará acrescentando novo triunfo à sua curta carreira. Triunfo de público, acrescente-se, porque é pouco provável que “Polícia Federal” venha a se constituir também num sucesso de crítica. O filme é benfeito, há que reconhecer. Tem boas perseguições e chega a criar certo suspense, mas prende-se a receitas narrativas de Hollywood. Clichês, como se costuma dizer.
Na coletiva, se não abriu os patrocinadores, Antunez abriu suas influências, e a maior delas talvez tenha sido “Spotlight – Segredos revelados”, que venceu o Oscar de melhor filme no ano passado. Antunez diz que não fez um filme contra o PT nem contra Lula. Fez um filme sobre a Lava-Jato. Certas escolhas, contudo, apontam para a parcialidade que ele nega. Os policiais federais – os procuradores – são meio “intocáveis”, na vertente de Brian De Palma.
Ary Fontoura como Lula soa caricatural. O juiz Moro, na interpretação de Marcelo Serrado, parece o múmia de Tom Cruise. Mas existem coisas irrefutáveis, e até boas, muito boas, no filme. A tese é que a corrupção no Brasil existe desde que foi inventada a caneta, e até antes. É um mal endêmico, como a saúva. A Lava-Jato, como operação de combate à corrupção, é necessária. O que seus críticos levantam é que pode estar se transformando numa ameaça à democracia. Tem até livro sobre isso.
E a Lava-Jato, por isso mesmo, dividiu a sociedade brasileira. O filme tenta dar conta dessa divisão em sua melhor cena. Júlio é um dos procuradores da força-tarefa. Discute com o pai petista, em pleno almoço. O pai diz que o filho, a força-tarefa, é parcial. O filho brada – “Pai, eu votei neles. Fiz campanha, lembra?” É um momento pungente. Tem a ver com a excelência dos atores, Bruce Gomlevsky e Genézio de Barros. Esses fragmentos humanos são o que o filme tem de mais forte. Com menos clichês e mais veracidade, seria melhor. A palavra agora é com o público.
“Polícia Federal – A lei é para todos”
Nesta quarta-feira (6). UCI 5: 21:20, Cinemais Jardim Norte 4: 14:20, 16:30, 18:40, 21:20. Cinemais Alameda 1: 14:20, 16:50, 19:20, 21:35.