Perspectiva 2025: cidade vive expectativa de polo audiovisual e busca ‘produção da cultura como bem econômico’
Tribuna escutou poder público e representantes de diversos setores artísticos sobre expectativas para cultura em 2025
O ano de 2025 já começa com desafios e expectativas para o setor da cultura em Juiz de Fora. A cidade está vivendo um momento de mudanças nos editais de fomento à cultura, enquanto também se adequa às necessidades do mercado e precisa fortalecer o setor, que sofreu fortes abalos desde a pandemia. Nesse contexto, a Tribuna entrevistou a prefeita reeleita Margarida Salomão (PT), que falou sobre o panorama para os próximos anos e também buscou levantar a expectativa de alguns representantes de setores da arte sobre o que deve ser prioridade.
A prefeita afirmou que, nos planos de 2025, está dar continuidade ao trabalho de regionalização da produção cultural e de maior inclusão dos produtores culturais que pertenciam aos grupos que historicamente não são reconhecidos. “Acho que temos que promover a produção da cultura como um bem econômico. Não é só fazer as pessoas viverem a arte, é levar as pessoas a viverem de arte. Essa ser uma opção de vida profissional”, afirmou Margarida Salomão. Ela também revelou que a área que deve ganhar mais atenção nesse segundo mandato é o audiovisual. “Queremos viabilizar um grande polo audiovisual em Juiz de Fora”, afirmou.
Iniciativas que visam o turismo na cidade também serão valorizadas, tanto no aspecto de turismo voltado para eventos quanto naquele que gira em torno de temáticas, como o relativo ao Queijo Minas Artesanal. “Acho que o papel do setor público não é fazer, é articular, mobilizar e fomentar”, disse sobre a necessidade de caminhar junto com o setor privado para o aquecimento desses setores. Vale lembrar que a Funalfa também passou por mudanças: nos últimos quatro anos, quem atuou como diretora-geral da fundação foi Giane Elisa Sales de Almeida. Neste segundo mandato, quem assume é Rogério de Freitas.
A prefeita também respondeu à Tribuna sobre as polêmicas envolvendo o carnaval de 2025. “Vamos ter o carnaval na época do carnaval. O carnaval fora de época acaba com o carnaval. Então, teremos blocos, toda essa grande mobilização. O que está em xeque é o desfile das escolas. Como há esse problema da prestação de contas da liga (LIESJUF), que foi denunciada e o MP abriu um processo, essa situação ainda não está pacificada. Se permanecer dessa forma, não há como a prefeitura repassar recursos para a liga. E se não repassa os recursos, não tem desfile”, disse.
Confira a expectativa de trabalhadores da cultura de diversas áreas
Tamires Rampinelli, musicista e professora
“2024 foi um ano de muitos desafios. Ainda com resquícios do fim de uma pandemia, vejo que, pela primeira vez, o setor retornou de fato à sua ‘normalidade’ depois de três anos conturbados. Esse retorno se mostrou positivo pela grande demanda de eventos, mas também causou uma grande sobrecarga nos profissionais que trabalham na área. Um ponto positivo dessa experiência foi herdar leis de incentivo à cultura que injetam recursos em artistas locais, como a Lei Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo.
Para 2025, temos boas expectativas. A começar por um longo pré-carnaval, já que o carnaval será apenas em março, do jeito que brasileiro gosta. Acredito também que surgirá uma diversidade artística cada vez mais forte, graças aos investimentos dos projetos de lei para os artistas locais. São sementes que foram lançadas no solo, e cabe a nós regá-las, olhando para a cena musical da nossa cidade com a mesma admiração com que olhamos para fora. No mais, espero que seja um ano de muita música e alegria.”
Marília Lima, integrante do Luzes da Cidade
“Em 2024, tivemos editais importantes para o audiovisual como a Lei Paulo Gustavo, que foi um importante incentivo para alimentar a nossa área, considerando que, durante a pandemia, o setor sofreu muito com o confinamento. Esperamos que, em 2025, nosso setor ganhe cada vez mais visibilidade e incentivos para continuar fortalecendo a cultura na cidade. Buscamos inclusive ter mais editais específicos para a realização audiovisual e políticas públicas que ajude a incentivar nossa área.”
Felipe Moratori, da Companhia Sala de Giz
“Em relação à cena teatral de Juiz de Fora, a Sala de Giz mobilizou, junto ao SATED-MG, uma comissão com representantes das principais escolas de teatro da cidade para discutir e agenciar estratégias de formação e profissionalização no setor. Ainda considero nosso maior desafio o diálogo saudável entre nós, agentes da classe artística, e a população em geral. Há um distanciamento entre a produção artística e o povo, marcada pelos tensionamentos políticos da última década.
Tenho certeza que a população de Juiz de Fora gosta de manifestações artísticas e deseja o contato com diversas ações culturais, afinal ninguém que esteja mentalmente saudável quer uma cidade triste, sem uma boa história sendo contada no teatro, sem uma roda de samba na praça. Porém, há uma narrativa de determinados setores da sociedade que têm marginalizado os artistas, e é preciso enfrentá-la.
Outro desafio para o próximo ano é a execução da Política Nacional Aldir Blanc. A classe artística observou ineficiência da gestão da Funalfa em realizar a PNAB em 2024 tendo em vista a incômoda atualização dos cronogramas para 2025, que impacta diretamente os planos de trabalho anual de todos os proponentes, que já não conseguirão executar o que previram em seus projetos. Para mim, a prioridade do poder público municipal é gerir com eficiência esses recursos federais destinados à cultura.”
Carol Cânedo, escritora e proprietária da Autoria
“O acesso ao livro no Brasil é ainda tão restrito. Em 2024, pela primeira vez, a proporção de não-leitores foi maior do que a de leitores. Manter aberta uma casa cuja base é a literatura é um imenso desafio. Produzimos e vendemos livros de autores independentes, temos dois clubes de leitura presenciais, oferecemos oficinas e minicursos que proporcionam oportunidades e ferramentas para o desenvolvimento da leitura, da escrita e, consequentemente, do pensamento crítico.
Essas iniciativas têm nos provado o quanto, apesar das estatísticas, há espaço para a literatura. E nós, do lado de cá, nos dedicamos a encontrar, a ocupar e a expandir esses espaços. Enxergamos e ouvimos os nossos clientes na sua individualidade e levamos até eles bons encontros – com a literatura, com o outro e consigo mesmos.
As experiências superficiais das redes sociais nos deixaram carentes de vínculos, de laços afetivos e efetivos. Na Autoria, investimos exatamente nisto: construímos relações a partir dos livros. Resistência, criatividade e sensibilidade têm sido nossos pilares. Para 2025, nosso desejo é ampliar o acesso ao livro.”