Setembro Vermelho conscientiza sobre prevenção ao mal súbito
A previsão é de que até o final deste ano haja aproximadamente 396 mil mortes por doenças cardiovasculares, mais do que a metade de óbitos por Covid-19

Órgão do corpo humano responsável pelo maior número de mortes naturais, o coração é representado, devido ao sangue que bombeia, pelo vermelho. Por esse motivo, essa cor foi escolhida para a criação do Setembro Vermelho, iniciativa que busca desenvolver campanhas de prevenção, ao longo deste mês, com o objetivo de alertar a população acerca dos riscos que esse órgão demanda. Nesta quinta-feira (29), o coração é celebrado em todo o mundo e, por essa razão, setembro foi escolhido para marcar as ações de prevenção.
Durante os grandes picos da pandemia, houve uma política legítima do “Fique em Casa” para evitar ainda mais a disseminação do vírus. Porém, muitas pessoas que estavam doentes também ficaram em suas residências sem dar andamento aos seus tratamentos. Segundo o Cardiômetro, uma plataforma da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que contabiliza o número de mortes por doenças cardiovasculares a cada minuto, até o dia 27 de setembro, às 11h14, 297.293 pessoas morreram por doenças cardiovasculares. Isto equivale a uma média mensal de 33 mil mortos. Ou seja, a previsão é de que até o final do ano o país tenha aproximadamente 396 mil mortos por doenças do coração.
Além da falta de tratamento provocada pelo isolamento na pandemia, o médico e chefe, Hélio de Lima Brito Júnior, do ambulatório de doenças cardiovasculares do Hospital Universitário Santa Catarina da UFJF, afirma que a Covid-19 não é uma doença que ataca apenas o nariz, a garganta e o pulmão, mas também atinge o coração. “Várias pessoas que pegaram o vírus tiveram lesões cardíacas, uma miocardite. Em outras palavras, uma inflamação no coração, que pode levar ao crescimento do órgão, sendo este foco de arritmia e infarto. Então, além de acometer o sistema respiratório em alguns pacientes, houve um comprometimento do sistema cardíaco, que contribuiu para o aumento do número de mortes de doenças cardiovasculares, juntamente com o fato de os pacientes não terem ido ao médico nesse período por conta do isolamento”.
Diante desse aumento do número de mortes, o ambulatório de doenças cardiovasculares do Hospital Universitário Santa Catarina, que existe há cerca de 40 anos, desde 2011, foi adaptado para atender de forma mais completa a cidade de Juiz de Fora e região. “Hoje, a gente dispõe, para além do eletrocardiograma, de aparelhos de ecocardiografia comum e transesofágica de esforço e testes de inclinação para pacientes que desmaiam, entre outros exames complementares que estão disponíveis sendo considerados referência”.
No decorrer da semana, o ambulatório se divide em sub ambulatórios a fim de atender diferentes demandas. “A gente tem o ambulatório de arritmias cardíacas, que eu chefio para os pacientes que têm risco de morte súbita e precisam de um marcapasso, tem o ambulatório específico para atender as crianças que é o de cardiologia pediátrica. Aqueles que têm pressão arterial muito alta são encaminhados ao ambulatório de hipertensão arterial resistente, entre outros existentes para atender outras necessidades advindas de doenças cardiovasculares. Ou seja, apesar de existir um serviço geral no ambulatório, este se divide em outros para conseguir dar conta de todas as demandas existentes”.
Importância do marcapasso
A paciente do ambulatório de doenças cardíacas, Margarida de Oliveira, de 81 anos, tinha um bloqueio no coração e por isso precisou instalar um marcapasso convencional, em 2011, devido ao seu coração lento, mas, com o passar dos anos, o órgão cresceu, e ela desenvolveu uma insuficiência cardíaca, até que um dia Margarida teve uma parada cardíaca, também chamada de morte súbita, como explica o médico. “A sorte é que ela foi atendida prontamente pelo Hospital de Pronto Socorro (HPS). Eles fizeram massagens cardíacas que são de praxe nessa situação, assim como choques, e a ressuscitaram da morte súbita. Em seguida, a paciente foi encaminhada para mim de novo, que troquei o marcapasso comum por um cardiodesfibrilador, que é muito mais sofisticado por reconhecer uma parada cardíaca e dar um choque, revertendo, assim, um novo mal súbito sem precisar do socorro do Samu, que pode não chegar a tempo”.
“Foi tudo pelo SUS. Agora está funcionando direitinho. Esse último estava apitando todos os dias às oito da manhã, mas o doutor Hélio normalizou, e agora ele apita muito baixinho. Em julho, fez um ano que operei”, destaca Margarida, ressaltando que, com o tratamento, está conseguindo viver de forma saudável, mesmo ainda fazendo o acompanhamento no ambulatório com frequência, com o apoio da filha Jane Helena de Oliveira, 48.
A paciente Rosana Gonçalves, 65, precisou implantar um marcapasso convencional, há 10 anos, por ter desmaios com frequência, e, na semana do coração, ela foi ao ambulatório realizar uma revisão de rotina. “Então, detectei que a bateria dela está com sinal de desgaste, ou seja, a minha orientação foi trocar o marcapasso”.

Cuidados para prevenir doenças do coração
De acordo com o cardiologista Hélio de Lima Brito Júnior, existem fatores incontroláveis, como predisposição genética, para o surgimento de doenças do coração, ou comorbidades hereditárias, como diabetes e hipertensão. O médico pontua que o gênero também tem seu impacto, pois os homens têm mais predisposição para ter doenças do coração do que as mulheres, que só ficam mais vulneráveis com a menopausa, porque perdem hormônios femininos, que as protegem. Com isso, o organismo feminino começa a ter riscos maiores, semelhantes aos dos homens, o que carece de adoção de medidas de prevenção.
Atividade Física
Em primeiro lugar, o médico chama atenção para o sedentarismo, um dos fatores que mais colabora para o número de mortes do coração. “É necessário pelo menos duas horas e meia por semana de atividade física, que você pode distribuir da melhor forma que achar mais apropriada para encaixar na sua rotina”.
Dieta saudável
Além disso, é necessário combater a obesidade. “Fazer exercício físico ajuda a emagrecer, mas uma dieta saudável, com menos açúcar, sal e massa, é fundamental para reduzir o risco de doenças do coração”, destaca o cardiologista.
Controle de outras doenças
Aqueles que possuem alguma comorbidade como diabete e pressão alta, além de ser recomendado uma dieta saudável e atividade física para controle, é importante tomar os remédios prescritos pelo médico, pois eles evitam complicações que podem culminar em alguma doença do coração.