PolĂcia apura denĂșncia de tortura contra adolescentes acautelados no Centro Socioeducativo
A PolĂcia Civil abriu dez inquĂ©ritos para apurar casos de tortura fĂsica e psicolĂłgica e abuso de autoridade no Centro Socioeducativo Santa LĂșcia e supostamente praticados por 12 agentes socioeducativos entre concursados e contratados. As vĂtimas sĂŁo oito adolescentes acautelados, com idades entre 14 e 17 anos. A Tribuna teve acesso a um dos relatos da sindicĂąncia interna realizada na unidade, na qual um dos adolescentes, apĂłs ser agredido na cabeça, entrou em processo de perda de visĂŁo.
De acordo com o delegado Rodolfo Rolli, responsĂĄvel pela investigação, os episĂłdios de violĂȘncia, que jĂĄ vĂȘm sendo apurados pela direção do Centro Socioeducativo, ocorreram desde julho do ano passado. O pedido para abertura do procedimento investigatĂłrio, que chegou esta semana Ă delegacia, foi feito pela 22ÂȘ Promotoria, que cuida da defesa dos direitos humanos.
“A diretoria da unidade abriu investigação preliminar interna e oficiou a Vara da InfĂąncia e da Juventude para informar sobre os fatos. A Vara entrou em contato com o MinistĂ©rio PĂșblico, que nos requisitou a instauração de inquĂ©ritos. Estamos agora registrando as ocorrĂȘncias e dando inĂcio Ă s apuraçÔes. As sindicĂąncias devem nos ajudar a comprovar a materialidade dos fatos caso fiquem comprovados”, disse o delegado.
Ainda conforme Rolli, dos agentes apontados na sindicĂąncia, alguns jĂĄ foram afastados do serviço, enquanto outros continuam em funçÔes administrativas. O policial destacou que os agentes trabalham com permissĂŁo para o uso de tonfa, spray de pimenta e algemas. “O crime de tortura tem pena prevista de dois a oito anos prisĂŁo em regime fechado e sem progressĂŁo de regime. Caso sejam condenados, os agentes ainda terĂŁo a perda imediata do cargo e ficam impedidos de fazer qualquer outro concurso pĂșblico”, enfatizou Rolli.
De acordo com ele, os acautelados serĂŁo ouvidos nos prĂłximos dias. AlĂ©m deles, irĂŁo prestar depoimento a diretoria do Centro Socioeducativo e os agentes que estĂŁo sob suspeita. “Faremos exames de corpo de delito para esclarecer se ainda hĂĄ alguma lesĂŁo nesses adolescentes”, comentou. Rolli ainda destacou que esta nĂŁo Ă© a primeira vez que ele investiga casos de tortura na unidade. No ano passado, foram dois episĂłdios nos quais agentes foram indiciados. A juĂza da Vara da InfĂąncia e Juventude, Maria CecĂlia Gollner, informou nesta sexta-feira (29), por meio do Comissariado da InfĂąncia, que recebeu a denĂșncia de um dos adolescentes acautelados entre os meses março e abril e que, naquela Ă©poca, a Vara adotou todas as providĂȘncias cabĂveis.
Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) esclareceu que “toda suspeita de agressĂŁo fĂsica que chega ao seu conhecimento motiva automaticamente a instauração de Procedimento Interno de Apuração. Com base nas conclusĂ”es, toma providĂȘncias administrativas cabĂveis. Paralelamente, comunica ao Poder JudiciĂĄrio e ao MinistĂ©rio PĂșblico para que analisem a tomada de medidas judiciais cabĂveis”.