Campanha recolhe lenços de cabelo e toalhas para pacientes com câncer

Os cabelos não são apenas fios presos à cabeça. Eles podem representar um estilo, retratar uma personalidade, ser um acessório ou objeto capaz de elevar a autoestima. Para mulheres que desenvolvem câncer de mama, a falta deles pode ser uma condição passageira, parte de um processo de recuperação, de resistência. Apesar de sentir falta dos cabelos enquanto se tratava, a professora Denise Barros descobriu nos lenços uma nova forma de se sentir bem e bonita, com um toque de criatividade e muitas cores. Foi pensando nisso que ela lançou o projeto Mama Amiga, que recolhe lenços e toalhinhas de mão, para serem doados às guerreiras de Juiz de Fora.

Denise tem 55 anos, é casada, tem dois filhos já adultos e enfrentou a enfermidade por cerca de um ano. Seu tratamento terminou em novembro de 2018 e, durante essa trajetória, foram muitos desafios enfrentados: a transpiração por causa dos medicamentos, que a levou a ver as toalhinhas de mão como um conforto, a queda de cabelo e uso dos acessórios para suprir a falta dos fios.

“Sem cabelo eu me sentia nua, mas quando coloquei a peruca não me senti eu. Aquela peruca me pesou, não fazia parte de mim. Já o lenço é mais leve, flexível. Com ele, a minha autoestima levantou, comecei a fazer combinações, a aprender a criar amarrações diferentes e a sair mais. E as pessoas que me viam sempre elogiavam muito”

A percepção da importância dos acessórios para o bem-estar das pacientes foi o que a motivou a criar o projeto, que já possui parceria com cinco pontos de coleta (ver lista abaixo). “Quando terminei meu tratamento, pensei em ajudar as pessoas que passam por essa enfermidade e criei a campanha, porque as pacientes já têm muito gasto com o tratamento e nunca vi distribuírem toalhinhas em campanhas de câncer.”

A intenção de Denise é arrecadar as doações até o fim de maio, quando começará a customizar nas toalhas, e os lenços passarão por um processo de higienização e esterilização, antes de serem doados. As entregas devem acontecer durante o Outubro Rosa para pacientes da Clínica Solus Oncologia, Ascomcer e outras que precisarem.

Experiência que se torna ensinamento

Essa não é a primeira ação que Denise faz pensando nas pessoas que passam pela mesma situação que ela enfrentou. Um ano depois de se aposentar, a professora descobriu o nódulo na mama durante o autoexame e, com a confirmação do câncer, Denise passou por cirurgia, colocando próteses. Todo o processo não durou mais de um mês e seguiu com as sessões de quimioterapia e radioterapia. Com essas experiências, seus depoimentos se tornaram parte de um livro.

“Como descobri o câncer em dezembro, pensei que não poderia contar para a família durante o Natal ou Ano Novo. Então guardei comigo, porque não queria trazer uma tristeza nessa época do ano, já que não tínhamos casos de câncer de mama na família. E uma forma que descobri de canalizar foi escrever tudo que eu estava passando, o processo de cirurgia, dos médicos, da quimioterapia, do amor que eu tive de Deus, a fé e a força. O livro foi um momento de desabafo e pensei: “por que não levar isso para outras pessoas?”, conta a professora, que publicou o livro Fases da Vida com o apoio de um conhecido.

Sua ideia era desmistificar a doença, para que, em vez de se assustarem, as pessoas pudessem procurar ajuda e ter consciência de que são fortes o bastante para vencer essa fase. Para ela, o câncer é isso: uma fase da vida, que pode até mesmo mudar sua visão de mundo. “É muito emocionante passar por tudo que passei, porque de repente seu mundo dá uma volta. Você passa a admirar mais as pessoas que passam por você na rua, começa a sentir a energia delas e passa a conviver mais com a natureza, prestar mais atenção na beleza de uma flor, no canto de passarinho. Hoje eu me dou esse tempo e percebo o quanto somos felizes em estarmos aqui e quantas vezes, na correria do dia a dia, não percebemos. Agora conseguimos viver, por incrível que pareça, de uma maneira mais tranquila e sensata. E a autoestima melhora porque você consegue se entender melhor. Eu me encontrei com meu eu, e hoje consigo levar uma palavra de paz, superação e amizade a outras pessoas”, destaca ela, que também faz trabalhos voluntários auxiliando outros pacientes.

Confira os pontos de coleta dos lenços e das toalhinhas: 

Câmara Municipal – Rua Halfeld, 955, Centro
Clínica Solus Oncologia – Rua São Sebastião, 867, Centro
Colégio dos Santos Anjos – Avenida Garibaldi Campinhos, 170, Vitorino Braga
Faculdade de Engenharia da UFJF – Campus Universitário, Martelos
Loja Ousadia – Mister Shopping, 139, Centro