Casal morador de Juiz de Fora completa 70 anos de uniĆ£o matrimonial
Sem festa por conta da pandemia, famĆlia celebra a longevidade da uniĆ£o que alcanƧa bodas de vinho
Distante dos boleros que danƧava em um clube de Juiz de Fora quando mais jovens, o casal Francisco Netto de Miranda e Rosa Esteves de Miranda mostra que dividir o compasso por sete dĆ©cadas Ć© uma conquista possĆvel. No dia 28 de dezembro de 2020, a parceria nos passos de danƧa e na caminhada de vida completa sete dĆ©cadas. O tĆtulo ‘bodas de vinho’ sugere a festa que ambos gostariam de promover para celebrar a longevidade da uniĆ£o. Ainda que a pandemia tenha interrompido os planos, que envolviam reunir a famĆlia formada por quatro filhos, oito netos e sete bisnetos, a alegria de celebrar esse encontro permanece intensa, como as letras das canƧƵes que ditavam o ritmo da danƧa dos dois.
Francisco Ć© filho de uma famĆlia de 14 irmĆ£os. Nascido em Tabuleiro do Pomba (MG), mudou-se para Juiz de Fora aos 12 anos. O objetivo era estudar e trabalhar. O primeiro emprego que teve foi de office boy, na Casa Combate. Depois, ele comeƧou a trabalhar na Padaria Modelo. Ao mesmo tempo, cursava Contabilidade, no ColĆ©gio Machado Sobrinho.
Enquanto trabalhava na padaria, viu Rosa pela primeira vez. Ela Ć© a caƧula de uma famĆlia tambĆ©m numerosa, com 13 irmĆ£os. Natural de Chiador (MG) e filha de fazendeiros, recebeu a tradicional criaĆ§Ć£o de famĆlia mineira com ares de interior. Mudou-se para Juiz de Fora para estudar como interna do ColĆ©gio Stella Matutina.
Quando conheceu Francisco, com cerca de 15 anos, ficou encantada. “Ele era um charme, um galĆ£, me chamava a atenĆ§Ć£o. A gente se encontrava ali na (Rua) Sampaio e comeƧamos o namoro. Acabou que eu tive que ir embora e, dentro de um ano e meio, resolvemos nos casar. Eu tinha 18 anos e ele 25, anos”, conta Rosa.
Segundo a filha mais velha do casal, Teresinha Miranda, o pai conseguiu constituir uma sociedade no comĆ©rcio, na Rua Marechal Deodoro. O estabelecimento era nomeado como “Bar e Quitanda SĆ£o Francisco”. ContemporĆ¢neo de nomes como Odone Turolla, Francisco conseguiu se estabelecer como empresĆ”rio. AtĆ© 2019, ele trabalhou na Lanchonete Ponto 13, na PraƧa da EstaĆ§Ć£o, de frente para o Grande Hotel RenascenƧa. Por conta da idade de Francisco, a famĆlia passou o ponto e, hoje, ele estĆ” se resguardando em casa.
Impedido pela pandemia de manter o hĆ”bito de descer o CalƧadĆ£o da Halfeld cumprimentando a todos os amigos de longa data, Francisco sentiu o impacto dos tempos de isolamento social. Permanece, no entanto, lĆŗcido, leitor voraz de tudo o que para em suas mĆ£os. Por questƵes hereditĆ”rias, perdeu a audiĆ§Ć£o, mas, segundo Teresinha, nĆ£o deixou de ser sociĆ”vel. MantĆ©m a disciplina cultivada durante todo o tempo de vida. “Tem hora para dormir, acordar, comer. Ć organizado com tudo, tem tudo anotado,” relata a filha.
Gostaria de ter ainda companhia para a pescaria, mas se diverte em dizer que todos da turma de pescadores jĆ” foram embora e ele ficou ‘para fechar a conta’. FĆ£ de carteado, Francisco tambĆ©m usa os jogos com cartas e nĆŗmeros para manter a cabeƧa sempre ativa.
Rosa, por sua vez, continua se dedicando aos trabalhos manuais e artesanais que sempre fez com todo o zelo. Ainda que tenha o crochĆŖ e a pintura como habilidades aperfeiƧoadas e presentes ao longo da vida, nĆ£o deixa de estar sempre atualizada com as tecnologias. “Ela sabe fazer tudo no WhatsApp. VĆŖ vĆdeos no YouTube, aprende tudo rĆ”pido dentro desse universo.”
O segredo da longevidade
Com simplicidade, Rosa conta que Ć© preciso ser paciente. “Quando um estiver mais nervoso, o outro fica quietinho. Juntos a gente supera as situaƧƵes difĆceis. Outra coisa, sempre tive muita fĆ©, isso nos ajudou e ajuda atĆ© hoje.” AlĆ©m da atenĆ§Ć£o e carinho entre eles, o que ela ressalta como ponto fundamental para ter uma uniĆ£o tĆ£o prĆ³spera Ć© contar com a famĆlia. “A famĆlia dĆ” muito apoio, muito carinho. Todos estĆ£o sempre presentes. Isso faz com que a vida se prolongue. Sem eles, nada seria possĆvel.”
Embora esteja afastada de outras atividades das quais gosta muito, como cantar e ajudar na igreja que frequenta, Rosa se sente realizada. “Sempre gostei de participar, de mĆŗsica, teclado, violĆ£o. Hoje me sinto realizada perante meus filhos, netos e bisnetos. Sinto que uma missĆ£o estĆ” cumprida e agradeƧo a Deus por isso. NĆ£o havia tantas possibilidades, como existem hoje, mas foi muito bom!” Hoje, alĆ©m de Juiz de Fora, parte da famĆlia reside em Belo Horizonte, a outra em cidades, como SĆ£o Paulo, JundiaĆ e Campinas, e uma neta estĆ” em Nova Jersey, nos Estados Unidos.
Agora a famĆlia aguarda que as condiƧƵes sejam favorĆ”veis para que possam se reunir e celebrar a uniĆ£o. Para que Francisco e Rosa possam danƧar os boleros, como na Ć©poca em que frequentavam o clube.