Jovens compartilham expectativas e experiências do intercâmbio
Sessenta alunos da UFJF embarcam para seus destinos no final deste mês. Instituição tem parceria com 81 universidades ao redor do mundo
Morar em outro país durante um período pode ser uma experiência agregadora: convive-se com novas culturas, aprende-se novas línguas e novas formas de pensar. Além disso, o autoconhecimento se desenvolve no período que se passa longe de casa. É com esta intenção, e também em busca de conhecimentos acadêmicos, que cerca de 60 estudantes da UFJF partem rumo a diferentes países, espalhados pelos cinco continentes, no final deste mês.
Os acadêmicos foram contemplados pelo Programa de Intercâmbio Internacional de Graduação (PII-GRAD) da instituição. Para o edital de 2018, a iniciativa firmou parceria com 38 instituições em 17 países. Neste ano, 300 estudantes se inscreveram e 75 foram selecionados. Porém, apenas os 60 prosseguiram com os trâmites. Deste total, 20 foram contemplados com bolsas de auxílio financeiro, que, segundo o edital, podem variar de US$ 3.400 a 6.500, dependendo do destino do estudante, e que devem ser utilizados para auxiliar na compra de passagens, moradia, alimentação, entre outros custos. A verba que subsidia o programa, cerca de R$ 450 mil, parte da matriz orçamentária da UFJF.
Segundo a diretora de Relações Internacionais da UFJF, Bárbara Daibert, as bolsas são destinadas, preferencialmente, aos estudantes que já são bolsistas dos programas de apoio estudantil da instituição, ou seja, acadêmicos em condição sócio-econômica vulnerável. Os critérios específicos para esta escolha encontram-se definidos na Resolução n° 15/2014 do Conselho Superior da UFJF. Mas ela explica que as outras 40 vagas também são resultado de auxílio para os estudantes, já que eles estudarão gratuitamente. “A maioria das universidades fora do Brasil tem mensalidades muito altas, mas, através dos acordos, ninguém paga mensalidade, por isso chamamos todos de bolsistas.”
Apesar de oferecer intercâmbio para destinos variados, segundo Bárbara, Portugal é o país mais requisitado pelos estudantes, já que a língua portuguesa também é o idioma falado no país. No entanto, a UFJF está tentando mudar este quadro. “Mudamos um pouco os critérios para Portugal. Pedimos muito menos vagas para lá e ampliamos o número de destinos para outros países. Existe uma questão de comodidade do aluno brasileiro de não querer aprender uma língua estrangeira. Quando ele sair daqui para fazer a candidatura em outras universidades, a maioria vai exigir a proficiência, então precisa ter a língua e tem que ter feito a proficiência antes de se candidatar.”
Dicas
Uma ferramenta para incentivar os alunos a buscarem outros destinos é a oferta de ensino de outras línguas pela própria universidade. Conforme a diretora Bárbara Daibert, o aluno que deseja fazer intercâmbio em um país onde a língua nativa não é o português pode se preparar dentro da instituição. “Hoje a UFJF já tem um processo democrático de ensino de língua. O aluno, já no primeiro período, pode se inscrever no Programa de Universalização e no Idioma sem Fronteiras, de graça, então não tem essa desculpa.”
Outra dica para quem deseja vivenciar a experiência é se preparar antes mesmo da publicação do edital por meio do qual o estudante pretende tentar a vaga do intercâmbio. Os estudantes que se preparam têm vantagens sobre os outros. “O aluno que está interessado em participar do programa precisa olhar o nosso site e o edital do ano anterior, que muda muito pouco de ano para ano, verificar o que é preciso para fazer o intercâmbio, se a universidade exige proficiência… Todas as regras estão lá. Quando sai o edital em outubro, aquele aluno que já olhou, se preparou e já levantou documentação, está com vantagem se comparado ao aluno que só começa a ver essas coisas depois que sai o edital.”
Desenvolvimento pessoal é ponto positivo
O estudante do 10º período de Engenharia Elétrica, Álvaro Salles Santiago, 23 anos, foi um dos contemplados pelas 20 bolsas de auxílio financeiro. Ele vai para a Índia no final deste mês, para estudar, durante seis meses, na Hindustan Institute of Technology and Science, localizada na cidade de Chennai, a mais de dois mil quilômetros de Nova Deli, capital do país. Ele conta que, sem a bolsa, seria difícil aproveitar a oportunidade. “A bolsa é a razão principal de eu estar indo para o intercâmbio. É algo importantíssimo que a universidade faz, poder oferecer esse auxílio aos seus estudantes.”
Álvaro explica que a escolha pelo instituto se deve a uma série de fatores, e que o intercâmbio era uma vontade antiga. “A Ásia é conhecida por ter esta referência em tecnologia, e a Índia não fica distante dos países que mais revelam nomes de peso na pesquisa e CEOs de grandes empresas no mundo. Fora o inglês, que eu preciso melhorar para o mercado de trabalho. É uma coisa que eu sempre tive vontade de fazer, conhecer outras culturas e melhorar meu aspecto profissional. Sempre fiquei atento a essas possibilidades, quais eram os requisitos mínimos e, dessa vez, fui feliz na escolha.”
Em sua primeira viagem internacional, Álvaro diz que o desenvolvimento acadêmico será acompanhado por outros interesses. “No primeiro momento, quero entender a cultura, presenciar a questão das diferenças sociais, entender como funciona a religião, a sociedade em si, a relação das pessoas com os costumes e crenças… isso vai me ajudar a crescer como ser humano, desenvolver a parte social e lidar com coisas totalmente diferentes”, prevê.
Alunos capacitados
Para a UFJF, a possibilidade de ter um aluno qualificado é outro ponto positivo, já que ele pode ingressar em uma pós-graduação e/ou mestrado, investindo em pesquisa. “Existe um ganho cultural imenso, que a gente não consegue mensurar. É um ganho de visão de mundo que só uma experiência fora pode conferir, para lidar com questões do outro, que hoje são tão importantes na sociedade que estamos vivendo. O ganho acadêmico também é muito bom, porque a gente privilegia um aluno que já tem um contato com uma linha de pesquisa lá fora. A gente precisa universalizar a pós-graduação na universidade também. E se há questionamento dizendo que o aluno vai para o mercado e não para a pós, sabemos que estamos mandando um aluno para o mercado de trabalho que já tem a experiência da mobilidade fora do país.”
Vivência no exterior pode estimular autoconhecimento
A estudante do último ano de Engenharia de Produção, Laura Matos, 23, embarcou para a Polônia no ano passado, e retorna para o Brasil em julho, após um ano de intercâmbio. Ela estudou na Politechnika Wroclawska (Wroclaw University of Science and Technology), localizada em Wroclaw (Breslávia), e conta que a maior dificuldade foi a adaptação. “É tudo muito diferente no Leste Europeu. O clima, as comidas, os costumes, a vida social. Demorei muito para me acostumar com o clima, para entender como lidar, para escolher as melhores roupas…”. O destino, segundo ela, foi escolhido por reunir boa avaliação da instituição, turismo e contato com pessoas de diferentes nacionalidades. “Além disso, a Polônia era um dos poucos locais que só tinha concorrência entre a Engenharia, então isso facilitaria para eu conseguir a bolsa”.
Laura diz que o que mais a impressionou em sua vivência no país foi a diferente forma de tratamento que os alunos recebem na universidade. “De fato, o conhecimento institucional me espantou muito, porque eles lidam com a graduação e com o ensino de uma forma completamente diferente. Até o entendimento do espaço da universidade é encarado de forma mais convidativa. A pressão é bem menor e a relação professor-aluno é diferente em muitas formas”.
A estudante destaca ainda o ganho no autoconhecimento durante o intercâmbio. “Com certeza o autoconhecimento que ganhei foi uma coisa que acho que não conseguiria de nenhuma outra forma. Ter contato com tantas culturas diferentes, com tantos jeitos de encarar a faculdade, as matérias, os estudos, a vida social… Acho que isso foi o principal. Também desenvolvi muito meu Inglês e aprendi um pouco do Polonês também”, conta.
Oportunidades e visão de mundo ampliadas
O estudante do 8º período de Comunicação Social, Matheus de Andrade, está em Portugal, cursando algumas disciplinas de Relações Internacionais na Universidade de Lisboa. Durante o período de um ano, ele vem se mantendo com ajuda dos pais, com economias que juntou no Brasil e tem feito trabalhos como freelancer. Ele explica que resolveu cursar matérias de um curso diferente do que faz no Brasil.
“No campo teórico, relações internacionais é um tema que sempre me chamou mais a atenção, e ir para o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que tem um papel fundamental na história recente da geopolítica portuguesa, me fez ver Relações Internacionais como uma escolha óbvia. No período, tive a oportunidade de ouvir alguns dos principais nomes do mundo em áreas como terrorismo e a independência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, temas pouquíssimos conhecidos no Brasil, e que, quando mencionados, são marcados pela falta de amadurecimento da concepção brasileira dos fatores externos”.
Em Lisboa, ele teve a oportunidade de escrever para grandes veículos brasileiros, como a revista Piauí e o jornal “Folha de S.Paulo”. “Logo nas primeiras semanas houve a eleição para as autarquias, sobre a qual tive oportunidade de escrever para a Piauí. Logo ali, defini que tinha feito uma boa escolha. Acho que as oportunidades que tive para além do instituto foram as mais decisivas. Ter escrito para o maior jornal do Brasil e para minha revista preferida foram duas oportunidades que dificilmente eu teria caso estivesse em Juiz de Fora. Mas, de maneira geral, o cosmopolitismo lisboeta, junto à maturidade do povo português, são dois aspectos que me influenciaram muito. Espero, de alguma forma, contribuir com o Brasil depois de ter vivenciado isso”, conta.