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Mais de 150 caminhões parados no trecho da BR-040 em Juiz de Fora

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Acostamento na BR-040,no trecho da BR-267, está ocupado por fila de caminhões de várias partes do Brasil (Foto: Fernando Priamo)
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A paralisação dos caminhoneiros ganha novos apoiadores a cada dia. Só nos quilômetros 776 e 777 da BR-040, em Juiz de Fora, mais de 150 veículos estão parados nos dois sentidos da rodovia. Centenas de motoristas estão de braços cruzados desde segunda-feira. Henri Marsaioli Stein, motorista autônomo há 30 anos, é um dos apoiadores do movimento. Morador de Juiz de Fora, ele tem levado água, alimentação e produtos de higiene pessoal para os colegas que são de fora. “Não tem mais como continuar a trabalhar. Nós chegamos no limite e estamos sofrendo ao longo dos anos. A marginalização, principalmente em relação ao caminhoneiro autônomo, os fretes defasados, combustível altíssimo. Estamos pagando um preço dessa bandalheira que está sendo feita com nosso país. O Brasil é um grande leão adormecido. Isso aqui é uma potência. Nossos amigos estão em uma situação de empobrecimento, sem condição de comprar um pneu, de reformar seu caminhão, em estado lamentável”, comenta.

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Henri critica não só o aumento do diesel, mas o preço dos pedágios e a falta de um valor mínimo para o frete. “É melhor sofrer uma semana do que ficar uma vida sofrendo. Estamos em uma rodovia privatizada, um pedágio altíssimo, falta manutenção da via. Não temos ponto de apoio para descanso. Dormimos na beira de pista ou depois das praças de pedágio, cada um se virando da sua forma. Está faltando atenção para nós que carregamos esse país. O consumidor que ora está revoltado com essa situação deveria estar nos ajudando. Quando aumenta o óleo diesel está aumentando o custo das mercadorias. Todos nós estamos com a mente de só sair daqui na hora que tiver uma conversa que atenda o nosso pedido que seria a questão dos pedágios, um valor mínimo de frete e a redução do diesel.”

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Motorista há 5 anos, Luciano dos Santos, de São Paulo, está parado na 040 desde segunda-feira. Funcionário de uma empresa que faz montagem de painel luminoso de lojas, ele diz esperar que o esforço da paralisação provoque algum efeito junto ao Governo. Pai de um menino de 12 anos, ele diz que está sem ver o filho há quase duas semanas, uma espera sem data para acabar. Já Igor José Mendes de Assis, de Rio Pomba, que também está parado desde segunda-feira, diz que não aderiu voluntariamente à greve, sendo forçado a parar. “Eu estava indo para Cariaçu, Sul de Minas, para carregar combustível. Não parei voluntariamente. Fui parado. Mas agora todo mundo aderiu, o país todo parou, agora está todo mundo pela causa de baixar o combustível”, afirma.

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Sem rodar há três dias, Igor já perdeu três fretes, cada um no valor de R$ 1.500. Ele admite, no entanto, que desse total, fica apenas com R$ 400 por viagem. “Cada frete de R$ 1.500, eu gasto, só de combustível, R$ 700, mais o desgaste do caminhão e o pedágio. Se sobrar uns R$ 400 é muito. Ultimamente, a gente perde muito mais do que ganha. Está difícil de lidar. Estamos praticamente pagando para trabalhar, porque uma viagem dessas, se estourar um pneu, você pagou para trabalhar. Se perder um pneu, perde um frete. Vou a Betim todo dia e gasto, diariamente, R$ 80 com pedágio”, admite.

Movimento grevista segue na BR-040 (Foto: Fernando Priamo)

William da Mata Pimentel trabalha no setor de logística da Açotel. A empresa tem feito revezamento entre motoristas e, apesar de apoiar a causa, critica a obrigatoriedade de os profissionais pararem. “Todos nós da empresa, principalmente os motoristas, respeitam o movimento, porque 80 a 90% do transporte de carga do país é com essa turma. Só que agora a gente está fazendo escala de revezamento, porque não só um caminhão está preso aqui neste trecho da BR-040, como em alguns outros trechos. Agora imagina quem está muito longe de casa ou aquele caminhão pequeno que foi pego de surpresa. Acho que tem que ter um meio termo. A gente entende, é importante, mas é preciso haver bom senso. Ninguém pode ser obrigado a parar.”

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População tem ajudado com comida e cobertor

Apesar dos transtornos causados pelo desabastecimento, boa parte da população tem apoiado a paralisação dos caminhoneiros. Desde segunda-feira, voluntários têm levado cobertores, sopas e mantimentos para os motoristas na BR-040. Até frigoríficos têm doado carnes para o grupo.

A concessionária Treviso liberou banho para os grevistas. Por dia, cerca de 60 pessoas estão fazendo a higiene pessoal no local. O gerente da Treviso, Fabiano Cruzeiro Conrado, diz que o objetivo é ajudar o movimento. “A gente apoia da forma que pode, dando banho e água. Tem que reduzir o combustível, porque 60% do que eles recebem do frete ficam para pagamento do combustível. Com isso, os motoristas não vem fazer manutenção. Não sobra dinheiro para isso”, destaca.

Outros pontos de bloqueios

Ainda na BR-040, há outros outros pontos de bloqueio: no km 628 (Conselheiro Lafaiete), no km 616 (Congonhas) e no km 497 (Esmeraldas). O km 511 (Ribeirão das Neves) chegou a ficar interditado, mas foi liberado no meio da manhã. Também em Minas Gerais, estão interditados parcialmente os km 455 da BR-381 (Belo Horizonte), km 513 da BR-381 (Igarapé), km 368 da BR-262 (Juatuba), km 617 da BR-381 (Oliveira), km 690 da BR-381 (Lavras), km 504 da BR-251 (Francisco Sá), km 361 da BR-381 (João Monlevade) e km 412 da BR-262 (Igaratinga). Somente veículos de carga estão sendo retidos nestes pontos.

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Nas demais rodovias no entorno de Juiz de Fora a situação é tranquila. De acordo com o comandante do 1º Pelotão da PMR, tenente Júlio César de Almeida, “até o momento, nas rodovias estaduais de responsabilidade da 4ª Cia PRV, Juiz de Fora, Ubá e cidades vizinhas, não há nenhuma interdição ou movimento de caminhoneiros.”

Em decisão tomada na tarde desta quinta-feira (23), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recomendou que as polícias Rodoviária Federal e Estadual e do Policiamento Militar Especializado em Meio Ambiente adotem medidas para liberação de veículos com cargas vivas paralisados em protestos de caminhoneiros no estado. Conforme o MPMG, há suspeitas de que veículos paralisados em protestos de caminhoneiros contra o aumento de combustíveis possam conter carga viva.

A instituição orienta que os órgãos adotem medidas criminais cabíveis caso seja constatada a prática de maus-tratos aos animais decorrentes da manutenção deles em veículos paralisados, sem provimento de água e alimento e sujeitos às intempéries. O MPMG solicita que, em 72 horas, sejam prestadas informações sobre as providências adotadas.

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Bloqueio total

Já no Estado do Rio de Janeiro, há alguns trechos de maior impacto com bloqueio total, como na BR-393 (Rio-Bahia), que está interditada em ambos os trechos na altura do km 104, próximo a Sapucaia (RJ). Porém, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informa que os caminhões estão parados nos acostamentos, reduzindo o impacto da manifestação sobre o trânsito nas estradas.

Situação semelhante ocorre na Rodovia Presidente Dutra – principal via de ligação entre os estados do Rio e São Paulo. Há manifestantes nos km 275 a km 278. O protesto, segundo a PRF, causa estrangulamento e congestionamento. Na altura de Seropédica, na Baixada Fluminense, também há protesto, mas os caminhoneiros ocupam o acostamento.

De acordo com a PRF, há registros de protestos ainda em da BR-101 (Rio-Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense) e com retenções no municípios de Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Reivindicações contra aumento do óleo diesel e cobrança de pedágio

Conforme informações da Agência Brasil, os caminhoneiros aprovaram a paralisação, em assembleia, reunindo 120 sindicatos e a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) em protesto ao reajuste no preço do óleo diesel e à cobrança de pedágio, quando eles trafegam vazios e com os eixos dos caminhões suspensos. A CNTA informa que responde por um milhão de caminhoneiros em todo o país. As queixas sobre a cobrança de pedágio se refere principalmente às rodovias estaduais no Paraná, em São Paulo e no Mato Grosso.

Os caminhoneiros pedem ainda a criação de um subsídio ou a redução da carga tributária, Programa de Integração Social e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social que custam 13% sobre o valor do diesel e ICMS, mais 16%, e somados representam mais de 50% do custo do frete praticado.

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