Diante da necessidade de lidar com aspectos que, muitas vezes, estão também relacionados com o restante do país, Cássia Ferreira, professora de Climatologia e Análise Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), destaca que é possível resolver muitos problemas com medidas simples. “Mais áreas verdes nas cidades, mais arborização viária e mais praças já fazem a diferença para que a gente melhore a qualidade urbana e a qualidade climática urbana”, diz. Ela destaca que Juiz de Fora ainda está atrás em muitos aspectos do que pode ser feito quanto à despoluição e ao saneamento básico, por exemplo.
Também visando a soluções para os problemas ambientais que a cidade enfrenta, Cezar Barra, engenheiro civil da UFJF, destaca que a educação ambiental “precisa ser uma prioridade” em todos os níveis. Ele também destaca a importância de candidatos à Prefeitura e à vereança falarem sobre os temas, para que realmente seja possível enfrentar as questões a fim de garantir o bem-estar da população.
Reincidência de alagamentos causados por enchentes
Os alagamentos causados pelas enchentes são muito frequentes durante o verão em Juiz de Fora. Conforme os especialistas ressaltam, eles ocorrem principalmente no córrego Santa Luzia e Humaitá, afetando os bairros próximos e causando diversos transtornos e riscos. “Precisamos de uma drenagem urbana mais efetiva. Se não, toda vez que chover vão acontecer os mesmos problemas, como tem acontecido com esses córregos”, conta Cezar. Para ele, é preciso haver uma alteração da lei de uso do solo, além de um maior olhar para o planejamento urbano e a forma com que a cidade está sendo ocupada, até para que bairros que ainda não têm esse problema não passem a ter.
Da mesma forma, Cássia destaca que a criação de mais áreas verdes e uma ocupação responsável da cidade fazem a diferença para evitar novos casos. “Aumentar essas áreas e criar ambientes mais permeáveis evita que a gente tenha água escoando rapidamente para os cursos d’água e, consequentemente, as enchentes urbanas”, revela. E destaca, ainda, que a questão da drenagem e das enchentes precisa ser repensada a partir de novos projetos. “A cidade continua crescendo, não está parada. Isso precisa ser exigido nos próximos loteamentos, sejam condomínios verticais ou loteamentos horizontais. Essas políticas podem ser implementadas a partir do que já existe agora e, assim, ir alterando o que já existe”, conta.
Despoluição do Paraibuna e saneamento básico para todos
A necessidade de despoluição do Rio Paraibuna já é um tópico recorrente em Juiz de Fora, mas que, como os especialistas destacam, está longe de ser resolvido e exige maiores esforços. “É uma necessidade cuidar das nossas águas e esgotos. Se estou construindo um condomínio vertical, deveria ser obrigatório o tratamento da água do esgoto ali. Seria menos um problema para acrescentar posteriormente ao próprio rio. Como a cidade ainda está crescendo, isso poderia minimizar os impactos nesses processos”, destaca Cássia. Para ela, fica notável também que a cidade precisa de novas unidades de tratamento do esgoto, pois as existentes estão longe de dar conta, avalia.
Além disso, Cezar também destaca que não adianta tratar só o esgoto do Rio Paraibuna, mas também os cursos de água que estão poluídos e vão desaguar lá. “Não tem como despoluir o Paraibuna sem despoluir esses córregos primeiro”, destaca. No mesmo sentido, destaca a necessidade de fazer isso para evitar problemas de saúde e danos maiores à fauna próxima e que está no rio. “Com um cuidado maior, a gente podia ter também esporte e lazer ao redor do rio”, conta. Ainda como destaca, de acordo com o resultado do Censo Demográfico de 2022, eram 32 mil moradores de Juiz de Fora sem conexão com a rede de esgoto, e que precisam de medidas urgentes para garantir isso.
Juiz-foranos vivem em áreas de risco geológico
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) revela que a cidade ocupa a terceira posição entre aquelas com maior risco geológico em Minas Gerais, tendo 142 áreas de risco geológico, com possibilidade de deslizamentos de terra, e 27 com risco hidrológico, referente a inundações. A quantidade de juiz-foranos que vivem em áreas de risco ainda está muito relacionada com a forma de ocupação da cidade, conforme Cássia explica.
“Os movimentos de massa estão muito atrelados à ocupação desses morros com alta declividade, principalmente da população que tem um emprego baixo de tecnologia no seu processo construtivo. Consequentemente, ficam mais vulneráveis, principalmente no período das chuvas, a esses movimentos”, ela diz.
Além disso, a remoção de vegetação pode fazer com que o problema fique ainda maior nos locais em que há risco de deslizamento. “Temos que ter um maior controle desses movimentos de ocupação das encostas. Temos que ter um processo de fiscalização que atenda a essa população, para impedir um corte tão horizontal nas encostas”, destaca.
Ilhas de calor e poluição veicular
Durante as ondas de calor que vêm acometendo a cidade, Juiz de Fora chegou a registrar 46,8 graus, em novembro do ano passado, na Avenida Getúlio Vargas. Essa temperatura foi quase 10 graus maior do que a que estava sendo registrada no mesmo dia em um termômetro próximo à UFJF, que concentra uma extensa área verde. “As ondas de calor e os eventos climáticos extremos estão atrelados a causas regionais e até globais. Mas as ondas de calor ficam bem mais intensas em ambientes urbanos, onde a gente aumenta significativamente a temperatura. A cidade pode minimizar esses impactos, mas o que faz é aumentar ainda mais em ambientes intraurbanos”, diz.
Como esclarece Cássia, isso ocorre pelo fenômeno das ilhas de calor, que promove altas temperaturas em regiões urbanas devido à falta de vegetação e de corpos hídricos nessas áreas, além da presença do concreto dos prédios e também do asfalto, da alta densidade populacional e da grande quantidade de poluição causada pelo uso de veículos. Por isso, ela destaca a importância de enfrentar esse problema também repensando a mobilidade urbana na cidade. “Precisamos aumentar as áreas verdes, diversificar os transportes coletivos e criar mais ciclovias de verdade, que também ajudam na saúde da população”, diz.
Incêndios e queimadas
A ação humana está por trás da maioria dos incêndios e queimadas que acometem Juiz de Fora. Apenas em 2024, e entre agosto e 15 de setembro, o Corpo de Bombeiros registrou 267 incêndios em vegetação no município, 60,8 % a mais do que o contabilizado no mesmo período de 2023, quando houve 166 casos. O número total de ocorrências em 2024 chega a 710 e também já supera em quase 60% os 444 registros de todo o ano passado.
Isso mostra que o problema continua crescendo. Cássia destaca que o inverno mais seco e com altas temperaturas potencializa a situação, “mas todos os anos temos muito fogo no período de agosto e setembro. É uma questão de educação ambiental”, diz.
Uso adequado de água e relação com represas
Apesar de a Represa Chapéu D’uvas não estar localizada em Juiz de Fora, ela abastece a cidade e sua efetividade é alterada pelo seu uso. No entanto, o avanço da especulação imobiliária tem apresentado dificuldades para a represa. Não só essa represa abastece a cidade, mas, para Cezar, esse caso é emblemático para entender o que também acontece próximo das represas João Penido e São Pedro. “As represas estão abandonadas, falta fiscalização e as legislações não estão sendo respeitadas”, destaca. Em breve, na sua visão, caso não ocorram medidas mais efetivas para enfrentar essa situação e barrar o avanço da especulação imobiliária, a cidade pode enfrentar graves problemas de abastecimento.