Obras não acompanham explosão da frota de carros
No trecho entre as avenidas Rio Branco e Getúlio Vargas, a Itamar Franco apresenta retenções frequentes, principalmente nos horários de pico
Trânsito intenso na Avenida dos Andradas dificulta travessia dos pedestres
Os principais corredores de tráfego da área central de Juiz de Fora não suportam mais o elevado fluxo de veículos. Longe de ser novidade, tal situação está, no entanto, cada vez mais caótica, ao ponto de um verdadeiro nó se formar em algumas vias nos horários de pico. Na Avenida Getúlio Vargas, por exemplo, a velocidade média do transporte coletivo é de 10 quilômetros por hora, o que faz dela a mais lenta entre 13 corredores de tráfego monitorados, diariamente, pela Settra (ver quadro). Explicações para as retenções são várias, sendo a principal o fato de a frota local ter crescido 95% nos últimos dez anos sem que obras estruturais tenham acompanhado esta nova realidade. De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o município tem 245 mil veículos registrados, sendo que, em 2006, eram 125 mil. Apenas nos últimos 12 meses, o salto foi de 5%, o que corresponde a 11.800 novos automóveis.
Três grandes avenidas são exemplos desta estagnação: a própria Getúlio Vargas, a Andradas e a Francisco Bernardino. Elas estão inseridas em um projeto de reestruturação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo federal, desde 2012 que, no entanto, nunca saiu do papel. A previsão mais recente da União é que as obras, orçadas em R$ 31,5 milhões (sendo R$ 30 milhões financiados pela Caixa Econômica Federal), sejam iniciadas apenas no fim do ano, com conclusão em dezembro de 2018.
Na Getúlio Vargas, velocidade média do transporte coletivo é de 10 km/h
Sinais de esgotamento
Mas não são apenas estas as vias que sofrem com estagnação. Outros corredores de tráfego apresentam sinais claros de gargalos. Na sexta-feira do dia 4 de maio, a Tribuna esteve na Avenida Presidente Itamar Franco, em frente ao Colégio Stella Matutina, por volta das 17h. Na pista que dá acesso à Avenida Rio Branco, o trânsito estava parado até a Avenida Getúlio Vargas. Nos 30 minutos em que a reportagem permaneceu no local, quatro ambulâncias, com sirenes ligadas, tentaram vencer o engarrafamento, praticamente em vão. Buzinaços e tentativas de avançar o semáforo na interseção com a Rio Branco eram flagrantes, colocando em risco os pedestres e a própria segurança no cruzamento.
Tráfego lento também é realidade em outras grandes avenidas, como a Brasil, entre os bairros Santa Terezinha e Manoel Honório; Presidente Costa e Silva, no São Pedro; e a própria Rio Branco, principalmente na pista de acesso à Zona Sul.
Transporte coletivo
Para o engenheiro Luiz Antônio Moreira, especialista em planejamento em transporte urbano e engenharia de tráfego, mais que executar obras, se faz necessário pensar na prioridade ao transporte público de qualidade. “É preciso tirar o foco do automóvel, pois as intervenções físicas ficam cada vez mais caras e menos efetivas. Ao mesmo tempo, devem-se priorizar os ônibus e o transporte não motorizado. Isso por meio de faixas exclusivas e mais segurança para a circulação das bicicletas. Mas falta vontade política para tratar do assunto como deve. A mudança é cultural, pois carro hoje é visto como status. Para fazer uma pessoa deixar seu veículo em casa, é preciso oferecer a alternativa à altura, com ônibus confortáveis, faixas exclusivas e preços acessíveis.”
Priorizar o transporte público é uma das perspectivas presentes no novo Plano Diretor do município, que está em fase de revisão. De acordo com o secretário de Transporte e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, a licitação do serviço de ônibus, já concluída e em fase de implantação, tem por objetivo melhorar a qualidade do sistema. Por isso, todas as intervenções pensadas têm por objetivo aumentar a fluidez destes veículos. “A Getúlio Vargas mesmo, que hoje tem esta média de 10 quilômetros por hora, já esteve em quatro. Conseguimos aumentar com a reprogramação dos semáforos, embora ainda possa ser melhor. Também temos estudos internos para resolver outros gargalos, como a Avenida Itamar Franco com a Espírito Santo, e a interseção da mesma avenida com a Rua Monsenhor Gustavo Freire.”
Projeto de R$ 30 mi não sai do papel
O projeto apresentado à União em 2012, para a obtenção de financiamento na ordem de R$ 30 milhões, foi contemplado na segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, nenhuma intervenção foi feita até o momento porque, segundo o Ministério das Cidades, existem pendências de engenharia para o início do processo licitatório. A previsão é que estas questões sejam resolvidas até o dia 30 de novembro, para que as obras sejam iniciadas em 1º de dezembro e terminem em 31 de março de 2018. O conjunto de obras prevê a remodelação das avenidas Getúlio Vargas, Francisco Bernardino e Andradas; a requalificação dos passeios da área central do município; e a construção dos calçadões das ruas Batista de Oliveira e Marechal Deodoro. Outra meta, inicialmente prevista, foi retirada em razão de custo. Trata-se da construção de um binário na Rua São Mateus, em bairro homônimo.
Este pacote mostra que, mais que resolver o problema do trânsito de veículos, tais projetos têm por objetivo, também, garantir melhor mobilidade aos pedestres, e este é um problema na região central. A Avenida Getúlio Vargas é emblemática neste sentido, já que, com a grande concentração de pontos de ônibus que seguem para a Zona Norte, onde vive a maior parcela da população, o número de pedestres é igualmente elevado, ao ponto de impossibilitar caminhar em algumas áreas.
A Tribuna fez esta experiência há duas semanas, em uma sexta-feira. No segmento entre as ruas Mister Moore e Halfeld, o deslocamento é praticamente impossível na calçada do lado direito, onde estão os pontos. O empurra-empurra também é constante, prejudicando a entrada e a saída dos ônibus de forma mais rápida. “Andar na Getúlio Vargas é desumano em qualquer hora do dia, mas no fim da tarde é ainda pior, por causa da superlotação dos pontos de ônibus”, disse o cozinheiro Reinaldo Fonseca, 44 anos.
Burocracia
De acordo com o secretário de Transporte e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, o projeto, de fato, está em fase de análise no Ministério das Cidades, com esta perspectiva de ser autorizado até o fim do ano. “Faz parte do trâmite burocrático. Em novembro de 2011 foi entregue ao ministério a concepção do projeto, que teve aprovação preliminar em março de 2013. A partir de então, enviamos toda a documentação necessária e os projetos mais elaborados, que estão sendo analisados.”
Ele explica que o objetivo é, além de construir os calçadões, reestruturar toda a Avenida dos Andradas, modificando o tamanho das calçadas e implantando duas faixas de circulação por sentido. A ideia é que uma, de cada lado, seja priorizada ao transporte público. “O objetivo é, também, reestruturar os pontos de ônibus e melhorar a segurança na via, inclusive requalificando alguns cruzamentos.” Na Getúlio Vargas, conforme Tortoriello, o trabalho é semelhante, com realocação dos pontos de ônibus, modificação das vagas para estacionamento, remoção de postes e ampliação das calçadas.
Faltam recursos para binários
Na última quarta-feira (18), quem seguia por volta das 14h da Cidade Alta em direção à Zona Sul, pelo anel viário da UFJF, ficou preso no trânsito por causa de obras emergenciais da Cesama na saída do campus. Com uma faixa de rolamento fechada, o trânsito ficou lento ao ponto de um verdadeiro nó se formar dentro da universidade, entre um portão e outro. Esta situação mostra como os condutores, em Juiz de Fora, são dependentes deste acesso para circular entre as duas regiões. Há dois anos, a Settra chegou a divulgar a concepção do projeto de um contorno viário, que tiraria todo o tráfego de dentro da UFJF, deslocando para a região do Aeroporto até a Avenida Presidente Costa e Silva. No entanto, a ideia ainda não foi executada. De acordo com o titular da Settra, Rodrigo Tortoriello, esta obra ainda é um desejo desta Administração, embora não tenha sido feita por dificuldades em conseguir recursos externos.
O tráfego na região do São Pedro é, em si, problemático. Além da explosão da frota, o bairro sofre forte adensamento nos últimos anos, com a inauguração de condomínios de prédios cada vez maiores. Percorrer a Avenida Presidente Costa e Silva é tarefa que exige paciência, sobretudo nos horários que coincidem com a entrada e a saída das aulas da Universidade. “Se a BR-440 estivesse pronta, poderíamos fazer um binário entre a Costa e Silva e a Rua José Lourenço Kelmer, inclusive temos um estudo para esta implantação que mostra que funcionaria muito bem. No entanto, não podemos fazer nada enquanto o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) não concluir as obras.” Como a Tribuna mostrou na edição da última quarta-feira, a Prefeitura pretende entrar com medida judicial contra o departamento, exigindo a retomada das obras e a implantação de sinalização vertical e horizontal no trecho.
Binário do São Mateus
Outro binário, que inclusive estava previsto no pacote de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é da Rua São Mateus. A concepção, apresentada ainda pela gestão municipal anterior, pretendia abrir ruas e desapropriar imóveis para transformar a Rua São Mateus em mão única de circulação. “Por enquanto, nada será feito. Tiramos esta previsão do PAC porque, entre outras razões, não teria recursos suficientes. O problema é que os R$ 31 milhões previstos para este conjunto foram calculados em 2011. Hoje o custo seria muito maior, e o Governo federal não faz a atualização monetária deste valor.”