A grande farsa da indústria alimentícia

Muitas vezes nos deparamos com alguns produtos alimentícios que tentam a todo instante nos enganar

Por Fábio Lessa

“O pior cego é aquele que não quer ver”. Esse ditado se encaixa perfeitamente no que trago nesta semana. Esses dizeres soam como uma verdade quase absoluta, quando nos deparamos com alguns produtos alimentícios que tentam a todo instante nos enganar. E aposto que, depois de ler este artigo, nunca mais olhará para a sua dispensa com os mesmos olhos. Então vamos lá.

Vou começar por algo que habita a mesa de alguns restaurantes e causa frisson nos pratos como um ingrediente très chic, o polêmico azeite trufado. E, para explicar, vou começar do começo: a trufa. Trufa nada mais é do que um fungo. Os fungos mais caros do mundo, por sinal, são um alimento selvagem e se tornam caros devido ao seu complexo processo produtivo, principalmente, na fase logística, pois como são ricas em água, se houver um atraso no transporte, ela começa a desidratar e perder todas as suas propriedades organolépticas.

Por se tratar de algo com uma propriedade volátil gigantesca, a maneira como deve ser armazenada deve ser sempre levada em conta. Em contrapartida, a maioria dos azeites trufados é feita de forma artificial. Uma infusão química de um gás derivado do petróleo que lembra alguma das milhares moléculas aromáticas da trufa, desenvolvido para popularizar um ingrediente extremamente caro, de maneira artificial e superfaturada. O grande chef Anthony Bourdain, dizia: “Se eu tenho uma missão na vida, é que as pessoas saibam que azeite de trufa é uma porcaria”.

Outro produto ultraprocessado que me causa arrepios, mas adoça o café da manhã de muita gente se chama Nutella. Se houvesse um ranking de comidas enganação, ela estaria empatada com o azeite trufado. Devido à escassez de recursos no final da segunda guerra mundial, os países envolvidos precisavam reestabelecer suas produções, e foi aí que um confeiteiro italiano teve a brilhante ideia de misturar avelãs com chocolate, para que rendesse mais, e deu o nome a essa delícia de Gianduja.

Após seu falecimento, seu filho Michele Ferrero assumiu o controle das empresas, alterou a receita e começou a comercializar a invenção de seu pai com o nome que conhecemos até hoje. E o problema todo é essa mudança na receita. Originalmente composta por 70% de chocolate e 30% de pasta de avelãs, sua composição deu lugar a 73% de uma mistura de gordura de palma e açúcar, e o restante, 27%, de avelãs, chocolate, aromatizantes e leite em pó. Por ser rica em gorduras saturadas, a gordura de palma, favorece o aparecimento de doenças cardiovasculares, alguns carcinomas, diabetes e outras doenças crônicas.

Mas o mal não para aí. Para suprir a demanda por óleo de palma, florestas tropicais na Indonésia e Malásia estão sendo devastadas para dar lugar ao cultivo da planta. O resultado, segundo a revista científica Current Biology, mais de 100 mil orangotangos foram mortos só em Bornéu nos últimos 16 anos. O assunto é tão polêmico que, em 2021, o candidato à presidência da França, Jean-Luc Mélenchon, tinha como pauta a proibição do creme no país.

Brett Jordan
Florestas tropicais na Indonésia e Malásia estão sendo devastadas para dar lugar ao cultivo do óleo de palma, que tem sido utilizado para a produção de produtos ultraprocessados (Foto: Brett Jordan)

Além desses, outros produtos com cobertura ou chocolate fracionado, que nunca sequer passaram perto de um cacau, também ricos em gordura de palma, aromatizantes e açúcar, estão correndo soltos por docerias em todo país.

Outro ponto que quero ressaltar é sobre o consumo de salmão. Um peixe teoricamente saudável, mas que aqui no Brasil pode estar sendo um risco à saúde de muita gente. A maioria das casas comercializa um falso salmão, ou truta salmonada, um alimento cheio de mercúrio, antibióticos, estimulantes e outros produtos derivados de petróleo, já que são criados em cativeiros e estão longe das verdadeiras substâncias que tornam sua carne saudável.

Minha ideia aqui não é ser taxativo quanto ao que devemos ou não consumir, quem sou eu para isso! Mas sim alertar a todos que estamos sendo enganados e levando, muitas vezes, gato por lebre. A internet está aí ao alcance de todos, na palma de nossa mão, é só deixarmos a curiosidade nos levar e conhecermos um pouco mais sobre nossos alimentos.

Fábio Lessa

Fábio Lessa

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