UFJF abre 17 processos administrativos para apurar denĂșncias de fraudes em cotas
Segundo instituição, 92 denĂșncias sobre possĂveis fraudes chegaram Ă instituição no inĂcio deste ano
A UFJF recebeu, no inĂcio desse ano, 92 denĂșncias sobre possĂveis fraudes no ingresso de alunos em vagas de cotas raciais. Em coletiva realizada nessa segunda-feira (16), o reitor Marcus David explicou que, do total de denĂșncias acolhidas pela Ouvidoria Geral da instituição, 17 foram consideradas procedentes e se tornaram Processos Administrativos Disciplinares (PAD), 12 sĂŁo casos em que os estudantes ainda estĂŁo na fila de espera para as vagas do segundo semestre, oito nĂŁo chegaram a se matricular e trĂȘs cancelaram suas matrĂculas assim que notificados.
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Os PADs ainda estĂŁo em andamento e, ao final da apuração, se a denĂșncia for considerada procedente, a gestĂŁo poderĂĄ punir esses estudantes, que podem ser, inclusive, desligados da universidade.
As investigaçÔes da comissĂŁo de sindicĂąncia visam a resguardar os direitos da população negra e de baixa renda, contemplada pela Lei 12.711/2012, a Lei de Cotas, alterada pela Lei 13.409/2016. O trabalho durou, ao todo, quatro meses. Uma comissĂŁo foi criada e reuniu cinco servidores, trĂȘs professores e dois tĂ©cnicos, que, em um primeiro momento, se debruçaram sobre um estudo teĂłrico a respeito de todas as açÔes afirmativas e sobre as questĂ”es raciais e sociais de formação do Brasil. Os critĂ©rios avaliados pelo grupo, conforme o reitor Marcus David, incluĂram a avaliação do fenĂłtipo, ou as caracterĂsticas fĂsicas do estudante; a ascendĂȘncia direta, que diz se os estudantes sĂŁo filhos de pai ou mĂŁe negros; e um terceiro fator, que seria a escuta das narrativas sobre vivĂȘncias de discriminaçÔes e preconceitos sofridos pelos estudantes.
“Ă um trabalho que nos dĂĄ muita segurança, porque se baseia em princĂpios teĂłricos sĂłlidos, estabelece critĂ©rios metodologicamente justificados e uma comissĂŁo que demonstra uma sensibilidade muito grande para avaliar esses problemas. A SindicĂąncia tambĂ©m na conclusĂŁo dos seus estudos propĂ”e polĂticas para que a Universidade possa evitar fraudes em prĂłximos processos seletivos”, adiantou o reitor. A base legal para a constituição das comissĂ”es para o uso do sistema de heteroidentificação veio com a portaria 307 publicada em março deste ano. “AtĂ© a publicação dessa norma, o sistema se baseava exclusivamente na autodeclaração, e nĂłs precisarĂamos desse aporte legal para usarmos a heteroidentificação.” Dessa forma, em 2019, a universidade jĂĄ contarĂĄ com a avaliação da comissĂŁo no ato da matrĂcula.
“Esse tema tem mobilizado as instituiçÔes no Brasil todo. Ao mesmo tempo em que valorizamos a polĂtica de cotas, temos que evitar qualquer fraude e o prejuĂzo a pessoas que efetivamente tĂȘm o direito de ingressar por esse sistema. AlĂ©m disso, precisamos tomar muito cuidado na abordagem das pessoas denunciadas, para que nenhuma delas seja agredida ou ferida em seus direitos. Temos a plena convicção de que as cotas sĂŁo uma forma de minorar, reduzir e compensar desigualdades sociais histĂłricas que o nosso paĂs enfrenta. Trabalhamos para superar essas dificuldades”, reforçou Marcus David.
Tipos de denĂșncia
As denĂșncias, conforme a ouvidora geral, Valesca Nunes Reis, foram recebidas por diversos tipos de manifestantes. “Tivemos denĂșncias que partiram da comunidade interna, ou seja, jĂĄ sĂŁo acadĂȘmicos e que identificaram colegas suspeitos de fraudes e membros da comunidade externa, que sĂŁo candidatos e tambĂ©m gostariam de entrar”. Entre as queixas, se destacaram as fraudes raciais, raciais e sociais e as sociais. Em algumas delas o questionamento seria sobre a incompatibilidade da renda apresentada Ă UFJF com os valores reais, alĂ©m do fator Ă©tnico-racial. O reitor Marcus David destacou os esforços da Diretoria de AçÔes Afirmativas (Diaaf) nesse trabalho. “Esse Ă© o setor responsĂĄvel pela aplicação das polĂticas. A Diaaf Ă© responsĂĄvel por criar condiçÔes para a permanĂȘncia desses alunos na universidade. A Diretoria mantĂ©m relaçÔes com os diversos coletivos que defendem essas questĂ”es e trabalha com algo que Ă© muito delicado e precisa de muita sensibilidade. Porque ao mesmo tempo que eles desejam a apuração, precisam preservar os denunciados para que nenhum beneficiĂĄrio seja vĂtima de perseguição. Por isso, o diĂĄlogo precisa ser constante.”
Caminho dos processos
As 92 denĂșncias foram acolhidas nos campi Juiz de Fora e Governador Valadares, sendo 83 na sede e nove no campus avançado. Entre os cursos que tiveram mais denĂșncias, Medicina lidera, com 36 casos, seguido de Direito, com dez, Jornalismo, com seis, e Engenharia Civil, com quatro. Uma segunda comissĂŁo serĂĄ composta e partirĂĄ do trabalho da primeira. Ela ouvirĂĄ novamente os interessados e, em um primeiro momento, faz uma avaliação preliminar. O estudante serĂĄ notificado do resultado da primeira fase e terĂĄ acesso a ampla defesa. Ele apresenta essa defesa final e depois Ă© emitido um ultimo relatĂłrio, com o encaminhamento de punição, que seria o seu desligamento. “Quem toma essa decisĂŁo Ă© a gestĂŁo, recebemos esse trabalho, mas antes das decisĂ”es de punição, a Procuradoria da UFJF se manifesta sobre todo o processo. Ela vai nos instruir sobre os demais procedimentos. Se ficar identificado outro tipo de crime, Ă© enviado para o sistema judicial para apuração”, esclarece o reitor Marcus David. Uma decisĂŁo judicial pode atĂ© mesmo inviabilizar que o candidato volte a participar de outras seleçÔes da universidade. “Provavelmente, os cursos com maior demanda sĂŁo os que, lamentavelmente, motivam as pessoas a tentarem eventualmente fraudar um processo como esse. Assim como as denĂșncias arquivadas se concentram nesses cursos, porque algumas dessas denĂșncias tinham a intenção de gerar essas vagas e nĂŁo tinha procedĂȘncia.”