Banda Daki arrasta milhares de foliƵes pela Av. Rio Branco
Atualizada Ć s 18h15
Em um desfile de cerca de trĆŖs horas marcado por um clima de homenagem e tranquilidade, a Banda Daki esbanjou alegria e irreverĆŖncia ao desfilar neste sĆ”bado (14), prestando honras ao eterno Rei Momo, JĆŗlio Guedes, falecido em dezembro do ano passado. Com o tema “Quem foi rei sempre serĆ” majestade”, a banda partiu do Largo do Riachuelo, na Avenida dos Andradas, por volta das 12h40, sob sol forte, e seguiu pela Rio Branco. Conforme estimativa da PolĆcia Militar, cerca de cinco mil foliƵes participaram do cortejo. “Estou aqui pela metade, mas vim porque acho que isso tudo era a vida dele, era a nossa vida. Sempre fomos do carnaval e fizemos tudo em prol dessa festa. A saudade Ć© muito grande, mas vou como uma homenagem e para mostrar realmente que era isso que meu irmĆ£o queria”, afirmou Carlos Guedes, irmĆ£o de JĆŗlio e companheiro inseparĆ”vel.
A saĆda da banda aconteceu logo apĆ³s a tradicional cerimĆ“nia de entrega da chave de Juiz de Fora pelo prefeito Bruno Siqueira ao general da Banda Daki, ZĆ© Kodak. TambĆ©m participaram da solenidade o vice-prefeito SĆ©rgio Rodrigues, o vereador JĆŗlio Gasparette (PMDB) e o deputado estadual Isauro Calais (PMN). Gasparette recebeu o tĆtulo de foliĆ£o benemĆ©rito “Comenda Banda Daki” entregue a pessoas que contribuem para botar a banda na rua todos os anos. Em 2014, quando a comenda foi criada, o deputado Isauro Calais foi contemplado, jĆ” que ele Ć© o autor da lei municipal que, em 2004, elevou a Banda Daki Ć condiĆ§Ć£o de patrimĆ“nio cultural do municĆpio.
“A banda, a partir de agora, passa a alegrar a cidade”, sentenciou Bruno Siqueira, brindando o inĆcio do desfile com espumante. A mĆŗsica “Cidade maravilhosa” e a queima de fogos deram ritmo aos foliƵes, abrindo oficialmente os trabalhos da festa de 2015. TrĆŖs trios elĆ©tricos e um carro com a corte de Momo, formada pelo rei, Ronaldo Golfinho, a rainha, Cristina Rabelo, e a primeira princesa, Isabela Lima, puxaram o cortejo.
ZĆ© Kodak afirmou que, atualmente, a organizaĆ§Ć£o adota uma nova filosofia. “Ć uma festa do povo para o povo, e estamos trabalhando pela qualidade de pĆŗblico e nĆ£o quantidade. NĆ£o precisamos de 50 mil, que venham 30 mil, 20 mil pessoas, o que importa Ć© a alegria”, ressaltou. Ele acrescentou que “aqui o foliĆ£o nĆ£o precisa de dinheiro para participar. Se nĆ£o tem fantasia, qualquer roupa que tiver em casa serve, basta pegar a alegria e trazer debaixo do braƧo”, afirma o general, lembrando que o desfile deste ano tambĆ©m presta reverĆŖncia aos ex-foliƵes da banda Heitor JosĆ© Marques de Barros e InĆ”cio Barjento, jĆ” falecidos, presenƧas constantes no carnaval juiz-forano.
Fantasiado de imperador romano, o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, prestigiou a festa do bloco, que hĆ” 43 anos faz um carnaval popular com a cara de Juiz de Fora. “Ć o segundo ano que a banda fecha o carnaval da cidade, e nossa expectativa, a exemplo do que ocorreu atĆ© agora, Ć© que a festa ocorra com paz e seguranƧa, pois Ć© um desfile organizado com muito carinho pelo seu general”, pontuou Toninho. De acordo com a PM, nĆ£o foram registradas ocorrĆŖncias relacionadas ao desfile da banda, que terminou por volta das 15h30 na Catedral Metropolitana.
SeguranƧa reforƧada
A seguranƧa dos participantes foi garantida por cerca de 260 policiais militares, como informou o comandante da 4ĀŖ Companhia de MissƵes Especiais, o tenente-coronel Edelson Gleik. “Foram cerca de 160 homens da companhia e cem do 2Āŗ BatalhĆ£o da PM. Enquanto os policiais da companhia atuaram no interior do bloco, os militares do BatalhĆ£o ficaram no entorno”, disse. Ele lembra que a seguranƧa ainda contou com gradis, instalados pela Prefeitura em toda a extensĆ£o do desfile, policiais montados a cavalo, efetivo do Gate (Grupo de AƧƵes TĆ”ticas Especiais), uma grua instalada em caminhĆ£o e apoio do helicĆ³ptero da corporaĆ§Ć£o.
Figuras conhecidas e fantasias criativas
Como nĆ£o podia deixar de ser, a Banda da Daki marcou com irreverĆŖncia o sĆ”bado de carnaval. Entre os foliƵes, figuras conhecidas e fantasias criativas se destacavam ao som de marchinhas e outras mĆŗsicas tĆpicas do perĆodo carnavalesco. Quem nunca se deparou com o ilustre Mr. Bean durante o trajeto da banda? “O segredo Ć© incorporar o personagem para se sentir bem e fazer as pessoas ficaram bem. Com essa missĆ£o de parecer com alguĆ©m tĆ£o alegre, sinto que preciso transmitir energia positiva. A alegria renova o espĆrito”, diz o artista plĆ”stico Roberto Mattos, 54.
JĆ” o cozinheiro AndrĆ© Tavares, 38, acompanhado da conhecida Ana da Banda e sua roupa de boneca, preferiu homenagear os velhos carnavais e escolheu se vestir de pierrĆ“. “Quero manter a tradiĆ§Ć£o e o resgate do Ćcone dos carnavais, assim como, no Natal, lembram do Papai Noel”, diz . Na concentraĆ§Ć£o, por volta das 11h30, a chegada dos foliƵes ainda era tĆmida, mas a “Boneca monstro” jĆ” irradiava animaĆ§Ć£o. “Ć sĆ³ alegria, paz e brincadeira. As “meninas” comeƧam a chegar daqui a pouco”, apostava o tĆ©cnico mecĆ¢nico Marcelo Berzoinni, 52.
Mais Ć frente, a costureira Ana Maria de Oliveira, 55, fantasiada de “D’Artagnana”, e a sobrinha enfermeira Cirlei Lopes, 38, voltavam ao lugar frequentado por elas hĆ” mais de duas dĆ©cadas. Cirlei foi para a Rio Branco de “PolĆcia Militar” para dar uma mĆ£ozinha na tranquilidade da festa. “Temos que garantir a seguranƧa, porque estamos precisando muito. Em 2016, voltaremos com a minha filha, Maria AntĆ“nia (hoje grĆ”vida), e minha netinha Maya, que estĆ” na barriga da mĆ£e. Ela estarĆ” com 10 meses”, conta Cirlei, jĆ” pensando na folia no ano que vem. Quando as duas saem de cena, as atenƧƵes se voltam para o famoso Kiko, do seriado mexicano. E a ausĆŖncia do amigo Chaves nĆ£o diminuiu a euforia. “Venho sempre de Kiko, inclusive estive com o Carlos VillagrĆ”n (ator que interpreta o personagem) na sede do Botafogo em 2013”, comenta, divertindo-se ao ser indagado sobre a idade. “UĆ©, tenho 13 anos”, brinca o comerciante Gilberto Mateus, 47.
Casal renova votos na avenida
Trajando vestido vermelho, presente da atriz LetĆcia Spiller, a drag queen Isabelita dos Patins reafirmou seu compromisso com o carnaval comandado pelo general. “Sou muito saudosista, e aqui vocĆŖ vĆŖ o pierrĆ“ e a colombina. A meninada vem toda fantasiada. Dei uma rosa para uma crianƧa que disse: ‘vocĆŖ Ć© linda’. Isso sai do peito de cada um. Estou muito feliz por estar em Juiz de Fora, porque se todo lugar fosse como aqui, seria maravilhoso. Ter um ZĆ© Kodak na vida Ć© carnaval”, disse Isabelita, que nĆ£o se cansa de cantar: “Daqui nĆ£o saio, daqui ninguĆ©m me tira”.
Por falar em nĆ£o sair daqui, o casal “Thor”, Adriene Orsay, 42, corretora de seguros, e Alexandre Menigatti, 44, designer grĆ”fico, escolheram renovar os votos, todos os anos, na festa da banda. Em 2014, eram os “Piratas do Caribe”. “A cada desfile, posso escolher ter um super-herĆ³i para mim. Hoje, escolhi o Deus do TrovĆ£o”, brinca ela, comemorando 12 anos de uniĆ£o. Como jĆ” era de se esperar, a folia de ZĆ© Kodak tambĆ©m serve para mostrar indignaƧƵes com o panorama polĆtico brasileiro.
O Ć³tico JoĆ£o Viana, 60, atraĆa os olhares de curiosos para os dois cartazes com palavras de ordem que ostentava. As placas de papelĆ£o afixadas ao corpo diziam “Lava-jato nĆ£o Ć© banho rĆ”pido. Ć a teta da mamĆ£e Petrobras alimentando partidos corruptos. VocĆŖ votou, e eu que levo fumo”. “Quero chamar a atenĆ§Ć£o dos partidos polĆticos para que fiquem mais sĆ©rios. Ć muita corrupĆ§Ć£o e muita polĆŖmica que estamos vivendo.”
Enquanto alguns, certamente, perdem dias e dias imaginando o que vestir no percurso da Banda Daki, outros optam por ir para a rua da maneira que der. O que importa Ć© diversĆ£o, como Ć© o caso dos irmĆ£os CĆ©lio Fabri, 57, designer grĆ”fico, e JosĆ© Maria Fabri, 55, aposentado. O primeiro nĆ£o sabia nem descrever o que vestia. “A Ćŗltima vez que saĆmos na banda foi em 1997. Este ano, resolvemos reviver como Ć© estar neste carnaval”, comenta CĆ©lio.