Chuvas causam transtornos e prejuízos em Juiz de Fora
Em alguns bairros, acumulado de precipitações, em 24 horas, foi de quase 30% do previsto para dezembro
As fortes chuvas registradas na última semana deixam em evidência a fragilidade da cobertura asfáltica de Juiz de Fora. Em poucos dias, já são muitos os transtornos e os prejuízos para a população. A Tribuna tem recebido inúmeras reclamações quanto às condições das vias, com o aparecimento ou aumento de buracos, prejudicando o transporte e causando danos aos veículos. Na manhã desta quinta-feira (12), a reportagem percorreu diferentes bairros para verificar as denúncias dos leitores, constatando problemas em diferentes regiões. Também por causa das chuvas, a Defesa Civil registrou 18 ocorrências na quarta e outras 27 nesta quinta, até as 18h30, entretanto, nenhuma foi considerada grave.
Na Zona Norte, a Avenida Presidente Juscelino Kubitschek e o Acesso Norte (Avenida Garcia Rodrigues) apresentaram diversas danificações no asfalto. Na Avenida JK, próximo a UPA Norte, uma cratera se destaca entre as falhas ao longo da via. Já na esquina do Acesso Norte com a Rua Sylvio Ribeiro Aragão, outro buraco requer a atenção dos motoristas. O militar Thales Campos, 26 anos, teve prejuízo de R$ 258 na semana passada, quando seu veículo caiu dentro de um buraco, rasgando o pneu dianteiro. Ele seguia para o trabalho, pelo Acesso Norte, quando, na altura do Bairro Barbosa Lage, ao entrar em uma curva, teve o automóvel preso no obstáculo, empenando a roda. “No mês passado, eu já havia pago R$ 120 só para desempenar as rodas do carro. Em um ano, tive três pneus furados ao cair em buracos. É um absurdo!”
Um trecho da Rua José Lourenço, que liga os bairros Borboleta e São Pedro, na Cidade Alta, foi parcialmente interditado por conta da formação de uma cratera, na altura do número 1.879. O buraco está próximo a uma curva, o que aumenta o risco no local. Pouco mais a frente, na altura do número 1.447, os condutores precisam desviar de outro buraco que se formou na via. Ainda na Cidade Alta, na Rua Herman Toledo, altura do número 301, no São Pedro, há um buraco há cerca de cinco meses. Conforme moradores, a Prefeitura corriqueiramente realiza operação tapa-buraco, mas a abertura sempre retorna.
O cenário não é diferente na Região Sul da cidade. Quem passa pela Rua Manoel Bernardino, esquina com a Monsenhor Gustavo Freire, no Bairro São Mateus, não encontra dificuldades para ver o buraco formado no local. Na mesma região, outro buraco na Rua Luz Interior, no Estrela Sul, obriga veículos a desviarem. Ambos os endereços requerem atenção redobrada dos motoristas. Ao longo de outras vias, aliás, outros obstáculos de menores proporções, mas não menos perigosos, deixam em alerta motoristas que trafegam pelos trechos.
Para quem dirige pela cidade diariamente, as consequências costumam ser mais expressivas. De acordo com o presidente do Sindicato dos Taxistas (Sinditaxi), José Moreira, a “má-conservação das vias públicas da cidade fez aumentar consideravelmente os gastos com manutenção dos táxis”. Bairros, como Borboleta, Bandeirantes, Bonfim, Santa Terezinha, Carlos Chagas, Monte Castelo e Vivendas da Serra, foram citados pelo representante da categoria como os que possuem maior incidência de buracos nas vias. “Toda a cidade está precisando urgentemente de manutenção, e não são só buracos, mas mato alto, bocas de lobo entupidas e lixo acumulado em alguns pontos pela água da chuva.”
Alguns pontos já carecem de reparos há um tempo, como no caso da Rua Domingos Lopes, no Bairro Nossa Senhora das Graças, Zona Nordeste. De acordo com o mecânico Rafael de Souza, uma cratera flagrada pela Tribuna se formou há cerca de dois meses. Moradores preencheram o espaço com papelão, telhas e cone, entre outros itens, na tentativa de sinalizar sobre o dano no asfalto. “A gente sai para testar o carro, bate no buraco e quebra, fura pneu de cliente. É uma situação bem complicada”, conta Rafael, que destaca, ainda, o aumento na procura pela oficina por conta de danos ocasionados por problemas nas vias. “Toda hora chega um carro com pneu furado ou a suspensão quebrada, e a gente está na luta, esperando que tomem providência para ajudar a gente, porque o IPVA está em dia.”
O diretor-presidente da Empresa Municipal de Pavimentação e Urbanização (Empav), Fúlvio Albertoni, esclareceu que a pasta se programa para períodos de chuva, considerados críticos, entretanto, em virtude do grande volume das águas, somente casos de urgência e que geram transtornos à sociedade podem ser resolvidos com maior rapidez. “A chuva é nosso grande dificultador. Com tanta demanda, precisamos definir prioridades baseadas nos riscos, como de acidentes, por exemplo. Neste momento, aumenta muito a demanda e, infelizmente, não podemos resolver todos os casos ao mesmo tempo, por isso, acabamos escolhendo aqueles que causam mais transtornos e reclamações”, informou.
Sem informar números absolutos, Fúlvio afirmou que, no período chuvoso, a demanda da Empav aumenta de forma significativa em relação a dias comuns. “Nossa demanda mais que dobra. Isso gera um problema quase que exponencial, pois dobram-se os buracos, mas nossa capacidade de tapá-los é menor. O grande problema é que, com a chuva, aumentam os buracos e diminui a capacidade de resposta”, explica, afirmando que, para fazer medidas de correção, o asfalto precisa estar seco. Com o tempo úmido, inclusive, torna-se mais difícil a produção da massa asfáltica.
À Tribuna, o diretor-presidente da Empav reconheceu o momento complicado em virtude dos transtornos gerados à sociedade, mas afirmou que, tão logo cesse a chuva, a situação será resolvida. Segundo ele, já nesta sexta-feira (13), será programada uma ação coletiva a fim de redimensionar as equipes, não descartando a possibilidade de aumento da carga horária dos funcionários para que os problemas sejam solucionados e os impactos minimizados. A ação deverá se estender para o início da próxima semana. Registros de reclamações de buracos podem ser feitos pelo aplicativo de celular Colab ou pelo site www.colab.re. Pela plataforma, os moradores poderão inclusive enviar fotos, sendo mais uma forma de avaliação por parte da PJF e posterior resolução. Outra alternativa é fazer o registro nas unidades do Espaço Cidadão JF (Sul, Norte, Oeste e Nordeste), presencialmente.
Defesa Civil registra 45 ocorrências em dois dias
Conforme a Defesa Civil, a maioria das demandas verificadas nos últimos dois dias caracteriza-se por vistorias solicitadas por moradores. Entre os destaques, estão os bairros Grama, onde a lama chegou a atingir os fundos de uma residência; Ponte Preta, também com lama avançando sobre duas moradias; Eldorado, com escorregamento de talude; e Bom Clima, onde um deslizamento obstruiu a entrada de uma residência. No Granjas Bethânia, a Rua Nestor Magesti Neto ficou parcialmente interditada após ceder com a chuva. Na tarde desta quinta, a Secretaria de Obras esteve com uma equipe no local fazendo a proteção da via, como ação paliativa e emergencial.
De acordo com a vendedora Valquíria Corrêa, moradora da via no Granjas Bethânia, a população no entorno percebeu escoamento de água ainda durante a tarde. “Quando foi 22h30, deu um estouro e desceu tudo de uma vez. Não foi a primeira vez que aconteceu isso, já é a quarta vez que essa rua cai”, relata. Segundo Valquíria, os moradores teriam conversado com o proprietário do lote onde ocorreu o afundamento do asfalto, mas nenhuma contenção foi providenciada, o que preocupa a vizinhança. “Olha quantas moradias têm aqui. Podem cair muitas casas e pode acontecer muita coisa. Perdas materiais a gente trabalha e conquista de novo, mas e vida? Quem vai deitar e vai dormir sossegado por uma noite inteira com aquele buraco ali? É difícil. A gente fica nessa aflição”, desabafa.
Durante a tarde, o prefeito Antônio Almas (PSDB) disse à reportagem que as ações da Defesa Civil em Juiz de Fora são prioritárias. Segundo ele, o que tem sido realizado na cidade neste momento já foi debatido anteriormente, visando a melhor resolução. “Lógico que as demandas vão se apresentando, de acordo com as chuvas, e as equipes vão sendo destinadas. Tudo que tem sido feito é da melhor forma possível, tendo como prioridade absoluta socorrer onde o fato se apresenta de maneira emergencial”, pontua, lembrando que as ações reúnem não só a Defesa Civil, mas a Secretaria de Obras e o Demlurb, cada um em sua competência.
Zona Norte também sofre com alagamentos
As intensas chuvas voltaram a causar alagamentos na Zona Norte. Moradores da Rua Guararapes, no Bairro Benfica, sofreram com o alto volume de água que impediu o trânsito na rua durante a tarde e chegou a invadir algumas casas. “Esses últimos dias têm sido infernais. A rua enche de água toda hora. Eles retiraram a tampa do bueiro pra ver se a água escoava mais rápido, porém não adiantou. Eles não fazem limpeza na rua, e os moradores tentam, ao máximo, fazer a limpeza. Mas vem lixo de outras ruas, carregado pelas águas, aí entope o bueiro e fica alagado”, lamenta a moradora Thaynara Lopes, que já perdeu mais de R$ 5 mil em material de trabalho por conta de alagamentos em chuvas anteriores.
No Bairro Industrial, a preocupação é com transbordamentos do córrego que corta a Avenida Lúcio Bittencourt. Com as chuvas frequentes, a água alcança o limite do córrego e transborda a cada nova pancada. “A minha garagem é muito perto da lateral do córrego. Alguém bateu a campainha da minha porta e avisou que a água já estava próxima à minha garagem. Eu tive a possibilidade de correr e tirar meu carro. Não foi um volume grande de água, mas transbordou”, conta Erick Wagner, morador da avenida há mais de 40 anos.
Devido ao histórico de problemas ao redor do córrego, uma sirene havia sido instalada pela Defesa Civil. Erick, no entanto, afirma nunca ter presenciado a utilização da ferramenta para avisar sobre transbordamentos no local. “Na época, ficou definido que, caso ocorresse o extravasamento da água para a rua, teria esse alerta para que as pessoas ficassem atentas. Mas eu nunca vi funcionando”, ressalta. Há doze anos, o morador viu a esposa entrar em trabalho de parto enquanto a avenida estava alagada e teve que atravessar o local de canoa para chegar ao hospital. “Atualmente, o córrego está muito cheio, e a probabilidade é de ter mais água na rua, já que o córrego não vai dar vazão”, projeta. Segundo o morador, na falta da sirene, os próprios moradores se mobilizam e avisam os vizinhos a qualquer sinal de possíveis prejuízos em decorrência das chuvas.
Em nota, a Defesa Civil informou que a sirene não existe mais. “O equipamento foi instalado há cerca de oito anos, mas, posteriormente, depredado. Atualmente, a Defesa Civil conta com outras maneiras de alertar a população, usadas inclusive para os moradores do Bairro Industrial.”
Na tarde desta quinta, a Secretaria de Obras informou que realizou intervenções emergenciais em alguns pontos da cidade, incluindo a área rural. Na Rua João Tardio, no Bairro Bom Clima, e na Estrada do Caracol, em Benfica, estava sendo retirada barreira, assim como houve a remoção de terra na Rua Benedito Sebastião, no Bairro Monte Castelo, e Estrada do Vermelho, em Igrejinha. Ainda conforme a pasta, outras equipes atuaram na manutenção de rede de drenagem, com troca de manilhas, na Rua Barão do Retiro, Marumbi, e assentamento de tampa na Rua José Lourenço Kelmer com Avenida Presidente Costa e Silva, no São Pedro. No Santa Cecília estava sendo realizada reforma de caixa e colocação de tampa na Rua Melo Franco e manutenção em boca de lobo na Travessa Hamilton Alves Monteiro. Já na região rural, servidores iniciaram a colocação de escória em pontos críticos nas estradas principais das comunidades de Toledos e Pirapetinga.
Após furar pneu de mais de 20 carros, buraco na Cidade Alta é tampado
Diversos motoristas que passaram pela Engenheiro Gentil Forn, via de acesso ao Bairro São Pedro, na Cidade Alta, foram surpreendidos por um extenso buraco que se formou no local entre o final da tarde e a noite de quarta-feira (11), incidente que causou fila de carros danificados. Durante a manhã, servidores da Empav realizaram intervenção na cavidade para evitar novos problemas.
Dois funcionários de seguradoras contabilizaram cerca de dez atendimentos, cada um, por volta das 21h no local. O motorista Igor Ciampi foi um dos que perdeu horas com o automóvel parado na rua com o pneu furado. “Eu vim mais cedo e vi uma sinalização com galhos e árvores, uma coisa improvisada. Então fui dirigindo mais pela direita, porque sabia que tinha alguma coisa ali. Mas senti um impacto sinistro, um buraco muito fundo mesmo, senti que o volante estava caindo mais para a esquerda e parei”, afirmou Ciampi, enquanto ainda aguardava atendimento da seguradora por mais de uma hora. “A maioria das pessoas foi embora porque conseguiu trocar o pneu. Nós tivemos que acionar o seguro porque amassou a roda”, explicou a irmã, Elizabeth Ciampi.
O supervisor de fiscalização do período noturno da Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra), Almir Jesus de Ramos Júnior, esteve no local para sinalizá-lo. À Tribuna, Almir relatou que notificações sobre a ocorrência chegaram à pasta a partir das 17h. Diversos veículos tiveram que estacionar ao lado da via por conta de pneus furados. “O meu medo maior é cair da moto. Em caso de acidente, podia até morrer alguém”, explicou Almir, ainda na quarta-feira, enquanto tentava sinalizar os buracos na intenção de alertar outros motoristas que transitavam.
A sinalização, no entanto, era prejudicada por furtos recorrentes dos cones. “Desloquei para cá, coloquei três cones e roubaram os três. Desloquei de novo, coloquei mais três cones e voltaram a furtá-los. O mais incrível agora: parei o carro subindo, botei três cones aqui, fui virar na rotatória para descer e, nesse tempo de virar, de lá para cá, furtaram os três de novo”, contou o supervisor.
Em nota, a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) informou que a ação dos agentes de fiscalização durante a noite de quarta teve o objetivo de auxiliar nos trechos com maior fluxo de tráfego. “O buraco na Gentil Forn foi o único ponto sinalizado, devido às ocorrências de pneus furados no local e pela má visibilidade.” Sobre o episódio de furtos dos cones, a pasta “pede à população que respeite a sinalização”. Conforme a Settra, denúncias podem ser realizadas por meio do telefone 3690-7400.
Pluviômetro registra 70 milímetros de chuva na UFJF
Entre a tarde de quarta-feira e a manhã de quinta, os pluviômetros da Defesa Civil, distribuídos por todas as regiões de Juiz de Fora, registraram volume significativo de precipitações na cidade, principalmente na Zona Norte. O equipamento colocado no Distrito Industrial, por exemplo, contabilizou 93 milímetros de chuvas no período. Em seguida, aparecem os bairros Igrejinha (70 milímetros) e Monte Castelo (49 milímetros).
Conforme o pluviômetro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no campus da UFJF, choveu no local, entre a tarde de terça (10) e a manhã desta quinta, 70 milímetros. Para efeitos de comparação, a média história de precipitações captadas por este equipamento, que leva em consideração o comportamento das chuvas nos últimos 30 anos, é de 319 milímetros para o mês de dezembro.
Previsão do tempo
A instabilidade atmosférica na região é resultado de uma frente fria estacionada sobre o Sudeste brasileiro, associada ao fluxo de umidade de origem amazônica, fenômeno climatológico que recebe o nome de Zona de Convergência do Atlântico Sul. A previsão é que esta condição no tempo permaneça em Juiz de Fora pelo menos até o próximo sábado (14), com chuvas, por vezes fortes, a qualquer momento do dia. A partir de domingo, pode voltar a esquentar na cidade. Entretanto, o meteorologista Ruibran dos Reis, do Climatempo, informou, em entrevista na manhã desta quarta-feira (12) à Rádio CBN Juiz de Fora, que uma nova frente fria volta a atingir a cidade a partir do dia 19.