UFJF inaugura Fazenda Experimental em Chapéu D’Uvas

Inicialmente, 10% da área de 2 milhões de m² serão restaurados com o plantio de 50 espécies


Por Leticya Bernadete

11/12/2019 às 15h11- Atualizada 11/12/2019 às 19h00

fazenda experimental by Leandro Mockdece interna
Local abriga a sede do Núcleo de Integração Acadêmica para Sustentabilidade Socioambiental (Niassa) e o Viveiro de Mudas (Foto: Leandro Mockdece)

Com o objetivo de desenvolver técnicas para recuperação da Mata Atlântica e estudos de qualidade da água na Represa de Chapéu D’uvas, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) inaugurou, na manhã desta quarta-feira (11), a sede do Núcleo de Integração Acadêmica para Sustentabilidade Socioambiental (Niassa) e o Viveiro de Mudas da Fazenda Experimental da instituição. A propriedade, com tamanho superior a dois milhões de metros quadrados, está localizada às margens da barragem, no município de Ewbank da Câmara, distante cerca de 40 quilômetros de Juiz de Fora.

A Fazenda Experimental será um espaço de desenvolvimento de pesquisas e projetos nos âmbitos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e das faculdades de Engenharia e de Arquitetura. O Viveiro de Mudas trata-se de uma iniciativa de reflorestamento da propriedade. Além do terreno, cerca de cinco quilômetros de curso d’água serão explorados pelo Niassa. O trabalho visa influenciar, positivamente, a questão hídrica de Juiz de Fora e região, uma vez que irá impactar a área verde no entorno da Represa de Chapéu D’uvas.

Segundo a vice-reitora da UFJF, Girlene Alves da Silva, a inauguração do espaço reforça o compromisso da instituição com questões ambientais. “Isso traz para o nosso conjunto um envolvimento das diversas áreas em que a universidade se coloca, no campo do ensino, da pesquisa e da extensão.

Esperamos que o Niassa desenvolva boas pesquisas, que nossos alunos possam ter algumas experiências no ensino da graduação e que a extensão se fortaleça no entorno (da fazenda), e que possamos contribuir de uma forma muito respeitosa, comprometida e ativa com a vida das pessoas”, destaca.
A propriedade abriga a Fazenda Experimental da UFJF foi adquirida pela instituição em maio de 2013, ao custo de R$ 3,8 milhões, conforme reportagem publicada pela Tribuna em setembro daquele ano. A área às margens da Represa de Chapéu D’Uvas trata-se da antiga Fazenda do Engenho, na Zona Rural de Ewbank da Câmara.

Cerca de 37 mil mudas serão plantadas

Em um primeiro momento, 10% da área da fazenda serão restaurados com o plantio de cerca de 50 espécies de mudas, de maneira a auxiliar a retomada natural da vegetação local. Parte das sementes e mudas a serem utilizadas no projeto foi produzida na própria fazenda, por meio de coleta em árvores presentes na área. De acordo com o coordenador do projeto Viveiro de Mudas da Fazenda Experimental, André Megali, cerca de 37 mil mudas devem ser plantadas nos próximos dois anos, em uma área de cerca de 23 hectares. A ideia é que as novas árvores fiquem às margens do reservatório de Chapéu D’Uvas, de forma a restaurar a mata ciliar. “Dentro da propriedade, identificamos quatro minas de água, uma delas ainda tem um pouco de água escorrendo, mas as outras estão completamente secas. A nossa expectativa é que, restabelecendo o ciclo hidrológico nessa região, três fontes vão voltar a alimentar o reservatório e, assim como essas, provavelmente dezenas de outras que estão pelo caminho.”

O trabalho de reflorestamento integra o projeto Raízes para o Futuro, da Via 040, concessionária responsável pela BR-040, no trecho entre Juiz de Fora e Brasília (DF). De acordo com a coordenadora de meio ambiente da Via 040, Rejane Ferreira, além de Chapéu D’Uvas, a proposta da concessionária abrange o Parque Estadual Paracatu, no Noroeste de Minas, e o Parque Estadual do João Leite, em Goiás. O projeto foi elaborado há dois anos e escolheu pontos estratégicos com mananciais. “A concessionária se preocupa com as questões ambientais, de sustentabilidade e sociais. Escolhemos locais que poderiam beneficiar as comunidades do entorno”, explica Rejane. “Este projeto tem como enfoque plantar árvores para que se produza água.”

Equilíbrio hidrológico

Na prática, o reflorestamento irá contribuir para estabelecer um equilíbrio hidrológico na represa por conta da água retida nas árvores, além de contribuir para o escoamento da chuva, segundo o coordenador do Viveiro de Mudas, André Megali. “Quando você não tem a vegetação original, a chuva bate na superfície do solo, escoa e vai embora, então ela corre por cima da terra. Quando ela faz isso, vai degradando o solo porque carrega os nutrientes, além de sedimentos, no caso, para o reservatório, alterando a dinâmica de funcionamento e podendo causar, inclusive, problemas de tratamento de água. Quando você tem a vegetação, ela diminui essa velocidade do escoamento superficial e a água tem a possibilidade de infiltrar na terra.”

Desta forma, a vegetação pode auxiliar na recarga das águas subterrâneas. “Temos que pensar que o elemento mais rico na massa de qualquer organismo vivo é água. O nosso corpo é composto por mais de 70% de água, e isso vale para todos os organismos”, explica Megali. “Essa água permanece mais tempo no solo e, assim, pode ser utilizada pela própria vegetação e pelos animais. É como se a vegetação enchesse o solo por dentro e essa água em excesso passasse a fluir em pequenos riachos. Ela vai sendo lentamente liberada e vai alimentando os mananciais sem esse carregamento dos nutrientes e dos sedimentos do solo, então o equilíbrio hidrológico é restabelecido dessa maneira.”

Projeto visa diagnóstico ambiental na região da represa

Um projeto elaborado pelo Comitê dos Afluentes Mineiros dos Rios Preto e Paraibuna pretende realizar um diagnóstico socioambiental da região da represa de Chapéu D’Uvas, conforme adiantou o presidente do grupo, Wilson Acácio, durante a cerimônia de inauguração da Fazenda Experimental da UFJF. À Tribuna, Acácio explicou que a proposta deve ser aprovada pelo comitê nesta quinta-feira (12), com um investimento de cerca de R$ 157 mil. “As informações que temos da área estão defasadas. Nós vamos contratar seis estagiários e dois professores coordenadores, que vão fazer todo o levantamento das condições ambientais, condições sociais e condições econômicas”, explica. “Nós não temos essas informações e, a partir delas, vamos fazer com que haja a elaboração de projetos dentro da linha da sustentabilidade. Essa proposta é para fazer um levantamento técnico científico e ver o que vamos fazer a partir disso.”

Para o presidente do comitê, o projeto de reflorestamento da Fazenda Experimental trará impactos positivos não só para o entorno do reservatório. “Em Minas Gerais, nós estamos com 140 municípios com escassez hídrica, então essa iniciativa é importante porque não só vai beneficiar Juiz de Fora, que é a cidade mais favorecida diretamente com essa represa, mas também vai beneficiar a bacia do Paraíba do Sul”, afirma. “A partir do momento que junta a universidade em parceria com empresas e outras instituições, é possível ter esperança de fazermos um movimento dentro da linha de sustentabilidade, vendo os lados econômico, social e ambiental.”

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