Morto em troca de tiros com a PM
Um jovem de 21 anos foi morto durante troca de tiros com policiais militares, no final da noite de domingo, na saída de um baile funk na Rua Farmacêutico Vespasiano Vieira, próximo à Avenida Brasil, na região central. Com sete perfurações pelo corpo, principalmente no tórax, Thiago Correa e Silva não resistiu e faleceu dentro do Chevrolet Vectra branco no qual ele estaria tentando fugir do flagrante de disparos no local, conforme a PM. Além de expor uma situação cada vez mais frequente de enfrentamento entre suspeitos e policiais, inclusive com tiros e feridos, o óbito de Thiago elevou para 99 as mortes violentas este ano em JF, conforme levantamento da Tribuna que leva em conta todos os registros que resultaram em morte após o fechamento do Registro de Eventos de Defesa Social (Reds).
O número foi registrado bem próximo ao mesmo período do ano passado, quando o 99º homicídio aconteceu no dia 12 de setembro. Embora, até o momento, a ocorrência de assassinatos esteja na mesma média de 2013, a explosão da violência continua preocupando, já que as medidas tomadas pelas autoridades não diminuíram os homicídios, que saltaram de 52, nos anos de 2010 e 2011, para 99 em 2012 e 139 em 2013, conforme o banco de dados da Tribuna (ver quadro).
Os números da Polícia Militar apontam que, de 1º de janeiro a 7 de setembro de 2014, foram 79 registros de homicídio com 82 vítimas. Esses dados não levam em conta os feridos que tiveram a morte confirmada após a conclusão do Reds.
A Zona Norte continua sendo a região mais violenta do município, com 34 registros, mas, neste ano, a Leste ficou na segunda posição (25), ultrapassando a Sudeste (18). As armas de fogo também prevaleceram como meio mais usado para os assassinatos, estando presente em 78 dos 99 casos. Os jovens, com idade até 25 anos, representam mais de 50% das vítimas. Em contrapartida, apenas duas mulheres perderam a vida de forma violenta. Já os meses mais sangrentos, até agora, foram fevereiro, com 20 homicídios, abril (15) e janeiro (14).
Medidas
Na tentativa de combater o avanço dos crimes de homicídio, a PM, por meio de sua assessoria, afirma que vem desenvolvendo ações que objetivam reduzir a prática desses delitos e encoraja a sociedade a colaborar com a segurança, utilizando os telefones 190 e 181 para denúncias. Já a Polícia Civil informa que intensificou as investigações, aumentando consideravelmente os índices de elucidação dos casos. “Tem-se verificado que do mês de maio até hoje houve uma sensível redução de crimes dessa natureza, afinal, nesse período, já foram realizadas 33 operações em JF (entre ações em conjunto com a PM) com o objetivo de coibir o tráfico de drogas, que entendemos ser a maior motivação para esses crimes”, destacou o chefe do 4º Departamento de Polícia Civil de JF, José Walter da Mota Matos.
No âmbito da Administração municipal, diversas ações também estão sendo implementadas. De acordo com o secretário de Governo da PJF, José Sóter de Figueirôa, os homicídios têm sido preocupação constante e vêm gerando muita reflexão por parte das autoridades da cidade, embora a segurança pública seja de responsabilidade do Estado. Entre os projetos que estão em andamento, Figueirôa destaca “Crack é possível vencer” e “Olho vivo”, ambos em fase de implantação.
No que diz respeito ao último, 19 câmeras de monitoramento já foram instaladas em pontos estratégicos no Centro. “Nossa expectativa é de que até o fim do ano, todas as 54 câmeras previstas no projeto já estejam em funcionamento”, estima o secretário, que também ressalta a criação do Conselho Municipal de Políticas Integradas sobre Drogas (Compid) e do Plano Municipal Integrado sobre Crack, Álcool e Outras Drogas ( JF+ vida). “Os bairros Jardim Natal (Zona Norte) e Vila Olavo Costa (Zona Sudeste) vão receber 20 câmeras de monitoramento, cada um, dentro do programa ‘Crack é possível vencer’, o que irá permitir a inibição de atos de violência”, prevê.
Ainda está previsto a realização, no próximo dia 19, do 1º Fórum de Segurança de Juiz de Fora. “O evento vai identificar o que é preciso fazer para combater a criminalidade. O fórum irá redundar em uma carta de Juiz de Fora para ser entregue às autoridades estaduais e federais, a fim de que voltem sua atenção para o município.”
Nada mudou
Para o diretor do Centro de Pesquisas Sociais da UFJF, Paulo Fraga, apesar de todos os esforços em conter as mortes violentas, ainda faltam medidas imediatas para frear os novos casos. “O perfil das vítimas não mudou. Os jovens continuam a maioria, e as causas são as mesmas. No caso das mulheres, os motivos continuam sendo os crimes passionais. Quando se fala nos homens, as razões para os assassinatos permanecem sendo os conflitos devido ao tráfico de drogas e os acertos de contas, que resultam em execuções. Então, nada mudou. Isso denota que também não houve mudanças na aplicação de políticas públicas para coibir esses crimes.”
O especialista ainda destaca que “uma coisa é estabilizar os crimes em níveis baixos. Entretanto, o que temos hoje são crimes estabilizados ainda em um patamar alto, carecendo de ações efetivas”.
Vítima havia sido expulsa de baile funk
No assassinato de domingo, segundo a PM, Thiago Correa e Silva já havia sido colocado para fora do baile funk por seguranças após um desentendimento com a namorada. No entanto, ele teria ido buscar um revólver calibre 38 no carro e retornado ao evento, onde teria realizado disparos, mas ninguém ficou ferido. A PM foi acionada e flagrou o momento em que o suspeito retornava com a arma em punho para embarcar em seu Vectra branco. Os militares deram ordens para o jovem parar e colocar as mãos no chão. No entanto, ele teria desobedecido a determinação e entrado no carro. Os PMs ainda teriam tentado fazer o homem desembarcar do veículo, mas ele teria aberto fogo contra os militares e tentado fugir no carro, que acabou chocando-se contra um Corsa e um Peugeot. Um dos tiros atingiu o vidro de um Polo. Em seguida, três militares revidaram os disparos na direção do suspeito, que acabou morto no local.
O Samu foi acionado e constatou sete perfurações no corpo de Thiago. Peritos da Polícia Civil recolheram no interior do Vectra, ao lado do morto, o revólver 38. O corpo foi encaminhado para o IML. Conforme a PM, três militares – um sargento e dois cabos – envolvidos nos disparos não ficaram feridos e foram recolhidos ao 2º Batalhão da PM, em Santa Terezinha. Eles também tiveram suas pistolas ponto 40 apreendidas.
Família questiona
Na manhã de ontem, enquanto aguardavam a liberação do corpo de Thiago no IML, familiares questionaram a ação da PM, devido à quantidade de disparos feitos em direção ao Vectra, alvejado, segundo eles, por 17 balas, além dos próprios tiros sofridos por Thiago. “Foi uma execução. Poderiam ter atirado no pneu, para fazer ele parar, mas não, foram todos em direção a ele”, disse a sobrinha da vítima Laryssa Alves da Silva, 24. Segundo ela, Thiago sofreu perfurações principalmente no tórax. “A polícia contou que ele brigou no baile, foi colocado para fora, buscou a arma e deu tiro para o alto. Mas não teve troca de tiro, ele não atirou contra os PMs. Só mandaram ele parar e, como não parou, eles atiraram”, disse a parente do jovem. “Estamos questionando a forma de abordagem. Sabemos que ele (Thiago) tem histórico, que atirou, mas a PM é preparada. Podiam ter tentado prendê-lo, mas já chegaram atirando.” Conforme a família, o rapaz morava no Bairro de Lourdes, Zona Sudeste, e deixou um filho.
Segundo o comandante da 30ª Companhia responsável pelo policiamento no Centro, capitão Herivelton Soares, os militares atiraram para defender suas próprias vidas. “Uma guarnição da PM mandou que ele (Thiago) parasse. Ele não parou e tentou manobrar na rua estreita para fugir, mas não conseguiu. Então, abriu a porta do carro e disparou na direção dos militares. Como o veículo tinha os vidros escuros, e os policias não sabiam se havia outras pessoas em seu interior, atiraram para proteger a vida deles.” O capitão acrescentou que o alto número de tiros disparados, cerca de 20, ocorreu pelo fato de se tratar de três PMs e, não, apenas um. “Nossa ação cessou quando ele parou de manobrar”, garantiu.
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Homem é atingido com 9 tiros no Santa Cândida
Ainda no fim de semana, dois crimes violentos foram registrados pela PM na Zona Leste. Na manhã de ontem, um homem, 27 anos, foi alvo de tentativa de homicídio e acabou sendo atingido por nove tiros no Santa Cândida. A violência em plena luz do dia assustou moradores, e a PM teve dificuldade para obter informações sobre o crime, possivelmente devido ao medo da população de sofrer retaliações.
Segundo o comandante 70ª Companhia da PM, capitão Marcelo Alves, por volta das 9h30, a vítima estava na carona de uma motocicleta, na Rua Dante Bellei, quando foi surpreendida por disparos de arma de fogo. O condutor da moto deixou o local sem prestar socorro à vítima, e não foi localizado.
O homem ferido foi socorrido pelo Samu e encaminhado ao Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, onde, até o fechamento desta edição, permanecia em estado grave. Conforme a PM, ele foi atingido por cinco tiros no tórax, um em cada braço e um em cada perna. Várias viaturas da polícia foram mobilizadas e realizaram rastreamento na região, mas ninguém foi preso.
Adolescente assassinado
O outro crime foi registrado na noite sábado, quando um adolescente, 16, foi encontrado morto com duas perfurações à bala no crânio e na face em um pasto de difícil acesso na divisa do bairros São Sebastião e Jardim do Sol, na Zona Leste. De acordo com a PM, por volta das 20h, chegou ao serviço de inteligência da 4ª Companhia de Missões Especiais (CME) a informação de que haveria uma pessoa morta em um pasto acima da Rua Goiás. Ainda conforme a denúncia, o crime teria acontecido na manhã do mesmo dia, entre 10h e 11h. Policiais seguiram para o local, incluindo equipes da Rotam, e localizaram o jovem Fábio Domingos Mendonça sem vida, com marcas de tiros.
Peritos da Polícia Civil estiveram no local. Com auxílio do Corpo e Bombeiros, o corpo foi removido e encaminhado para necropsia no IML. A PM não obteve informações sobre suspeitos envolvidos no assassinato do rapaz, morador do São Sebastião, e ninguém foi preso. O caso será investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios e Antidrogas.