O processo para implantação de um parque estadual na Mata do Krambeck está praticamente concluído. A informação é da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e ganha destaque nesta quarta-feira (5), dia em que se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente. Um dos maiores remanescentes do bioma da Mata Atlântica em todo o país, a Mata do Krambeck ganhou os holofotes e despertou o interesse de ambientalistas e da própria população após o aparecimento de uma onça-pintada em sua área nos últimos meses.
Mas a importância e a necessidade de conservação do local, que está prestes a ganhar novo marco em seu processo de preservação, foram evidenciadas com a inauguração do Jardim Botânico da UFJF, que será reaberto nesta quarta.
Há cerca de um ano, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) iniciou uma consulta pública para efetivar a mudança e transformar o espaço em um parque público. Conforme a Semad, a consulta pública e a elaboração de nota técnica, sob responsabilidade direta do IEF, foram finalizadas. No momento, o órgão aguarda manifestação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Ensino Superior (Sedects) para seguir com o processo, que ainda precisa ser encaminhado à Casa Civil antes de o decreto ser assinado pelo governador Romeu Zema (Novo).
Área de preservação
A Mata do Krambeck é uma Área de Proteção Ambiental (APA), instituída por meio da lei estadual 10.943 de 1992. Nessa categoria, o acesso público é impedido por se tratar de um espaço privado. De acordo com o analista ambiental do IEF e autor da nota técnica que sugere a implantação do parque, Arthur Sérgio Mouço Valente, a proposta de criação do Parque Estadual da Mata do Krambeck é uma indicação da própria lei da APA. “Nós temos a dificuldade de fazer a gestão justamente por não ser uma área pública, então fizemos a indicação para criação do parque estadual. E o momento é oportuno para isso, pois ressaltou a importância da preservação após o aparecimento da onça-pintada no Jardim Botânico.”
Segundo o ambientalista, o aparecimento do felino reforça os projetos de conservação e pesquisa na área. “Não há nenhuma indicação que existam outras onças na Mata do Krambeck, apenas um viajante que se deslocou de alguma área comum desta população. Mas a fauna silvestre da Mata do Krambeck é riquíssima, principalmente avifauna, que as pessoas, até pelo Jardim Botânico, podem sentir essa presença marcante. Nós temos a dificuldade de fazer a gestão dentro da APA, vizinha ao Jardim Botânico, para fazer pesquisa científica, então é muito importante retomarmos essa pauta do parque da Mata do Krambeck”, reforça.
Área equivalente a 269 campos de futebol
A Mata do Krambeck é uma das maiores áreas remanescentes de Mata Atlântica em perímetro urbano. A floresta da região foi regenerada em cerca de 90 anos. Segundo Arthur Valente, com o manejo adequado de trilhas na área, seria possível ampliar o uso do parque para a população, que teria a oportunidade de conhecer o espaço com atividades semelhantes às do Jardim Botânico. “Com suas atividades de uso público, de cultura e de educação ambiental, esse parque também vai poder proporcionar caminhada na natureza ou mesmo ciclismo. São atividades que vão ser planejadas. Na verdade, há várias possibilidades de uso público e desenvolvimento para o turismo sustentável.”
Formada por duas fazendas, Retiro Velho e Retiro Novo, a APA Mata do Krambeck totaliza 291 hectares, o que representa cerca de 269 campos de futebol. Entretanto, a mata em si ainda inclui o Sítio Malícia, de 82 hectares, onde hoje funciona o Jardim Botânico da UFJF, e a Mata da Remonta, pertencente ao Exército Brasileiro. No total, são mais de 512 hectares, ou 474 campos de futebol, remanescentes da Mata Atlântica.
A fazenda Retiro Velho constitui cerca de 75% do espaço e pertence à família Surerus. Por entender que a legislação resultou em uma desapropriação indireta da fazenda, a família entrou na Justiça solicitando indenização. No ano passado, a Tribuna havia entrado em contato com a defesa da proprietária do espaço, que informou que o processo, em tramitação desde 1995, estava concluído, sendo aguardado o pagamento. Procurada novamente, a gestora do patrimônio e advogada do processo, Vera Carmem Avila, informou que a família ainda não recebeu o que é devido. A Tribuna tentou contato, também, com a família Krambeck, proprietária da área do Retiro Novo, mas não obteve êxito.
Mata Atlântica em processo de extinção
Minas Gerais foi o estado brasileiro que mais desmatou a Mata Atlântica entre os anos de 2017 e 2018, de acordo com estudo divulgado pelo Atlas da Mata Atlântica da Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). No país, restam hoje apenas 8,5% de remanescentes florestais do bioma com áreas de 100 hectares cada, em comparação com a cobertura original. Para a superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Dalce Ricas, a situação é considerada uma “tragédia silenciosa”, pela falta de divulgação do problema do desmatamento. “A tragédia representada pela extinção da Mata Atlântica é imensurável. Hoje, nós temos poucos remanescentes como a Mata do Krambeck, no entanto, não vemos a preocupação tomar uma dimensão maior.”
A Mata Atlântica ainda abriga mais de duas mil espécies de animais vertebrados, além de insetos e outros invertebrados, segundo a SOS Mata Atlântica. Além disso, das 633 espécies de animais ameaçadas de extinção no Brasil, 383 ocorrem no bioma, como no caso da onça-pintada, avistada no Jardim Botânico da UFJF no final de abril deste ano. O estado de conservação da espécie é considerado “criticamente em perigo” pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sendo que o número total de animais adultos na Mata Atlântica é menor que 250.
Jardim Botânico reabre nesta quarta
A reabertura do Jardim Botânico da UFJF, nesta quarta traz o simbolismo de ocorrer na mesma data do Dia Dia Mundial do Meio Ambiente. Desde o dia 26 de abril, o espaço ficou fechado por conta do aparecimento de uma onça-pintada, vista pela primeira vez por um vigia do local na noite do dia 25 de abril. Em seguida, o animal foi avistado em outros pontos da cidade, até ser capturado no próprio Jardim Botânico, na noite do dia 12 de maio. O felino foi levado a uma área florestal em Minas Gerais, mais ampla, segura e com fêmeas.
Desde então, a UFJF realizou a limpeza do espaço, bem como a retirada de galhos quebrados, transporte de armadilhas usadas na busca do animal e ajustes de infraestrutura. A partir de agora, as visitações poderão ocorrer de terça a sexta-feira e aos domingos, das 8h às 17h, com entrada de visitantes até 16h.
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A aparição da onça-pintada será abordada, ainda, nas ações de educação ambiental realizadas pelos monitores que guiam os passeios. O espaço oferta trilhas, roteiros de visitação, dois lagos com decks, galerias de arte e o Laboratório Casa Sustentável. Conforme a UFJF, o Bromeliário e Orquidário e o Centro de Pesquisa ainda estão em fase de implantação.
A visitação é gratuita, limitada a cem visitantes por vez. Para garantir a segurança de cada pessoa, a direção recomenda atenção durante a visitação, assim como uso de repelente e de calçados adequados para caminhada. É permitido permanecer pelo tempo desejado, realizar piqueniques, caminhadas e corridas.
Não há estacionamento e, por esse motivo, a sugestão é chegar ao local por meio de transporte público. Os ônibus com parada próxima à entrada do Jardim Botânico são das linhas Mundo Novo/Santa Terezinha (111 e 112).