Riscos de incĂȘndio aumentam entre julho e outubro
Queimada prĂłxima ao Jardim BotĂąnico foi a primeira da temporada de seca na cidade e acende alerta para perĂodo de estiagem
O mĂȘs de julho foi aberto com um incĂȘndio que atingiu uma ĂĄrea equivalente a quase nove campos de futebol em Juiz de Fora. Ao todo, foram 87.091 metros quadrados de mata queimada, na Rua Adelaide Maria da Conceição, no Bairro Alto Eldorado, no Ășltimo domingo (2). A ocorrĂȘncia nĂŁo Ă© mera coincidĂȘncia e adentra o campo das estatĂsticas. Com o inĂcio do segundo semestre, o paĂs entra na Ă©poca mais propĂcia a incĂȘndios, que perdura atĂ© o mĂȘs de outubro. Se no primeiro semestre do ano foram registradas 83 chamadas na ĂĄrea de cobertura do Corpo de Bombeiros de Juiz de Fora, segundo os militares, a expectativa Ă© que o nĂșmero aumente pelos prĂłximos meses.
Baixa previsĂŁo de chuva, clima seco e umidade baixa do ar sĂŁo caracterĂsticas comuns desse perĂodo do ano. Mas segundo o meteorologista do Instituto Mineiro de GestĂŁo das Ăguas (Igam), Heriberto Amaro, tais aspectos devem ficar mais intensificados em 2023, em decorrĂȘncia do El Niño.
Esses fatores, no entanto, se somam a outros, como a prĂłpria topografia da cidade, que influencia nas queimadas. O incĂȘndio do Ășltimo domingo, que chegou prĂłximo Ă vegetação da unidade de conservação Jardim BotĂąnico e Parque Estadual Mata do Krambeck, Ă© um desses casos.
Mato seco
A linha de incĂȘndio identificada pelos militares do Corpo de Bombeiros no Alto Eldorado ocupava aproximadamente 200 metros. Uma quantidade bem inferior Ă que viria a alcançar a seguir. Em decorrĂȘncia das altas declividades, velocidade do vento, baixa umidade da vegetação e o ar quente elevado, o fogo se alastrou rapidamente, chegando a mais de 80 mil metros quadrados. Com o uso de 1.500 litros de ĂĄgua pressurizada, trĂȘs viaturas e dez militares, o fogo foi contido pelos Bombeiros sem o registro de vĂtimas.
O incĂȘndio abriu precedentes para a temporada de alto risco de queimadas deste ano. “Menos chuva e menor umidade do ar na atmosfera geram uma maior desidratação dos vegetais, que nĂŁo possuem tanta ĂĄgua no solo e sofrem com perda de ĂĄgua por transpiração para o ar. O vegetal, mais seco, fica mais vulnerĂĄvel ao fogo, que pega mais rĂĄpido e avança mais tambĂ©m”, explica a climatologista Cassia Ferreira.
Ela tambĂ©m aponta que a regiĂŁo possui uma sazonalidade das chuvas: enquanto a maior parte ocorre entre outubro e abril, apenas 20% acontece de maio a setembro, o que explica a umidade baixa do ar e o tempo seco. Para o tenente Fonseca, no Corpo de Bombeiros, Juiz de Fora possui uma particularidade que faz com que a proporção dos incĂȘndios sejam ainda maiores. “Grande parte das reservas florestais da cidade estĂŁo rodeadas de bairros e comunidades, o que dificulta o trabalho preventivo”, argumenta ele.
Iniciativas de prevenção a incĂȘndios
Uma iniciativa de prevenção a incĂȘndios estĂĄ sendo executada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio do programa Força-Tarefa PrevincĂȘndio. Diversos ĂłrgĂŁos trabalham em parceria para colocar em execução o plano de 2023, que Ă© espelhado no balanço positivo do Ășltimo ano: de acordo com levantamento do IEF, em 2022, as ĂĄreas queimadas nas unidades de conservação ou em seu entorno foram 34% menores do que a mĂ©dia registrada entre 2013 e 2021.
Participam a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), PolĂcia Militar de Minas Gerais (PMMG), PolĂcia Civil de Minas Gerais (PCMG), Secretaria de Estado de Agricultura, PecuĂĄria e Abastecimento (Seapa), Ibama e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Em ĂĄreas urbanas de Juiz de Fora
A prevenção em esfera municipal vem ocorrendo por meio da Operação Alerta Verde, do Corpo de Bombeiros e da campanha Queimada Mata, da Prefeitura de Juiz de Fora. AlĂ©m de promoverem ação conjunta em locais de preservação, a fim de conscientizar sobre prevenção de queimadas, a parceria tambĂ©m pretende evitar a prĂĄtica de colocar fogo em lotes vagos. Para se ter ideia, das 83 chamadas de incĂȘndio atendidas pelos Bombeiros atĂ© junho em Juiz de Fora, mais da metade delas – 45 – foram relacionadas a lotes vagos. JĂĄ pastagens representam 21 das ocorrĂȘncias.
Ciente dos riscos, por meio da identificação de lotes vagos, a equipe do Corpo de Bombeiros envia informaçÔes Ă Defesa Civil. A integração entre os ĂłrgĂŁos continua quando os tĂ©cnicos desenvolvem um relatĂłrio e enviam aos fiscais de postura da PJF. A partir daĂ, os proprietĂĄrios sĂŁo notificados e orientados a realizar a manutenção dos lotes.
Para evitar a incidĂȘncia de queimadas, o tenente Fonseca, do 4° BBM, sinalizou situaçÔes de riscos e que devem ser evitadas, como nĂŁo soltar balĂ”es, nĂŁo jogar bituca de cigarro no chĂŁo, evitar acumular lixo em lotes vagos e, no caso de fazer fogueiras, cercĂĄ-las com pedras.