Polícia interrompe bloco de carnaval com spray de pimenta em Juiz de Fora
De acordo com relatos, foram utilizados gás de pimenta e bombas para dispersar o público
O Bloco da Benemérita, realizado no sábado (1º) na Praça Antônio Carlos, foi dispersado pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), que prendeu dois dos organizadores, MC Xuxu e Gustavo Santos. Relatos de foliões e vídeos compartilhados nas redes sociais mostram a ação da PM, que utilizou spray de pimenta para dispersar o público. A confusão teve início cerca de dez minutos antes do horário previsto para o encerramento do evento. Os organizadores detidos já foram liberados.
De acordo com o relato de Paula Duarte, fotógrafa do Bloco da Benemérita, o palco estava cheio de crianças durante a ação dos policiais. “A gente estava no Bloco da Benemérita, que é um grande bloco, principalmente de pessoas negras e LGBTs, e a polícia dispersou o bloco com spray de pimenta, bomba no palco. Tinha muita criança no palco, foi todo mundo afetado pelo spray de pimenta. Eu estava com a câmera, eles me chutaram. É sempre por baixo, no pé, tudo onde a câmera não pega. A MC Xuxu e o Gustavo foram levados presos, são os organizadores do bloco, duas pessoas trans, algemados, Gustavo machucado, eles deram uma coronhada nas costas do Gustavo. O incômodo da PM começou quando a gente gritou contra o Bolsonaro. (…) os policiais tiraram identificação durante a operação, quando eu questionei ele tampou e ele só colocou a credencial novamente, o nome dele, quando eles foram retirar a Xuxu algemada.”
De acordo com nota oficial divulgada pelo Bloco da Benemérita, a ação dos militares surpreendeu a todos, já que não havia confusão acontecendo no momento.
“O palco foi um dos primeiros alvos do ataque, atingindo crianças e mulheres que ali estavam. A praça que outrora estava tomada por alegria parecia um cenário de guerra. Pessoas convulsionando e famílias pedindo socorro. MC Xuxu prontamente pediu que todes se retirassem com cuidado, diante da violência policial. Em seguida, agentes de segurança subiram no palco, atingiram seu companheiro, Gustavo, com um golpe na cabeça e o levaram algemado. MC Xuxu foi mantida trancada no camarim, cercada por vários policiais homens e, mesmo sem apresentar resistência, foi conduzida algemada”, explica a organização.
PJF lamenta o ocorrido
Em nota oficial, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) repudiou os acontecimentos ocorridos na PAC. “Foliões e suas famílias (inclusive crianças) foram vítimas do uso de gás de pimenta e de violência desproporcional, o que levou inclusive muitas pessoas a procurarem os serviços de saúde. Contamos com as forças de segurança pública para promover a paz social e garantir que todos os eventos programados de forma conjunta com a Polícia Militar, a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros possam ter continuidade, com tranquilidade e alegria, como é direito da população de Juiz de Fora”, afirma a Administração.
A assessoria de imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais informou à Tribuna que no evento “três pessoas foram presas em flagrante e conduzidas à Polícia Judiciária para as providências cabíveis. Entre os crimes praticados estão incitação à violência, desobediência, desacato, ameaça, resistência, arrebatamento de preso e agressão”. O órgão afirmou que está acompanhando o fato.
Ministério Público de Minas Gerais se pronuncia
O promotor de justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Hélvio Simões Vidal, em nota encaminhada à Tribuna, na tarde de segunda-feira (03), informou que: ” a 5° Promotoria de Justiça do Controle Externo da Atividade Policial de Juiz de Fora irá instaurar Procedimento Investigatório criminal para apurar as responsabilidades decorrentes do uso da força contra pessoas manifestamente não envolvidas no tumulto, ocasionado por aparente inadequação do uso da força policial”. O texto afirma que “a algemação de organizadores, em contrariedade à Súmula Vinculante n° 11 do Supremo Tribunal Federal, não se apresenta justificada dentro do que permite a Suprema Corte” e acrescenta que “acaso comprovado que não houve incitação contra a PM, mas exercício de crítica, qualquer prisão é injustificável e oportuniza o oferecimento de denúncia perante a justiça criminal”.
*Sob supervisão da editora Mariana Floriano
Tópicos: bloco / carnaval / Polícia Militar
