Maior estudo genético já feito no Brasil revela novas variantes e mistura única de ancestrais

Pesquisa liderada pela USP mapeou o DNA de 2.723 brasileiros e identificou mais de 8 milhões de variantes inéditas, além de traços únicos da miscigenação no país


Por Agência Estado

16/05/2025 às 09h34

Liderado pela Universidade de São Paulo (USP), o mais completo estudo genético brasileiro foi publicado esta semana na revista Science. A pesquisa analisou os genomas completos de 2.723 pessoas como parte do projeto DNA do Brasil, e inclui indivíduos de comunidades urbanas, rurais e ribeirinhas das cinco regiões geográficas do País. Como resultado, os cientistas conseguiram reunir a maior base genética da população brasileira já organizada até hoje. Veja cinco novidades que o estudo traz sobre o genoma brasileiro:

Um dos países mais miscigenados do mundo

A pesquisa revela mais de oito milhões de variantes genéticas desconhecidas até hoje. A maior parte da amostra estudada apresenta cerca de 60% de ancestralidade europeia, 27% africana e 13% nativa. As maiores porcentagens de ancestralidade africana estão no Norte e no Nordeste, enquanto as europeias se concentram no Sul e no Sudeste.

Combinações de genomas africanos no Brasil que não existem nem na África

Segundo a geneticista Lygia da Veiga Pereira, uma das líderes do estudo, foram encontradas combinações de genomas africanos que não são encontradas nem mesmo na África. “Os povos geograficamente distantes retirados à força da África se encontraram aqui e se misturaram”, disse a pesquisadora.

Acasalamentos eram mais assimétricos e passaram a ser mais seletivos

A pesquisa revela também a ocorrência de acasalamentos assimétricos sistemáticos nos primeiros séculos do Brasil (séculos 16 a 18), sobretudo entre homens colonos europeus com mulheres indígenas africanas. A partir disso, os casamentos passaram a acontecer dentro dos próprios grupos étnicos, isto é, passaram a ser mais seletivos, segundo os pesquisadores.

Variantes genéticas potencialmente patogênicas

A equipe identificou também variantes genéticas potencialmente patogênicas em 450 genes ligados a doenças cardíacas e obesidade além de 815 genes relacionados a doenças infecciosas, como malária, hepatite, gripe, tuberculose e leishmaniose. Mais estudos serão necessários para determinar o papel e a influência de cada um desses genes.

Estudo genético identifica variantes da fertilidade

O estudo identifica também variantes genéticas que favorecem a fertilidade, além de genes ligados à resposta imunológica do organismo e ao sistema metabólico, que teriam sido favorecidos pela seleção natural ao longo de 500 anos de miscigenação.

“Os processos de seleção natural do genoma costumam ocorrer ao longo de milhares de anos, mas na população brasileira observamos um processo mais recente e muito mais curto”, descreve o pesquisador David Comas, do Instituto de Biologia Evolutiva (IBE) de Barcelona, que colaborou com a pesquisa da USP.

estudo genético
Foto: Adobe Stock

Tópicos: Science / USP

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.