Cultura da customização chega às bicicletas; veja algumas
Um passeio local pelo exotismo das bicicletas incomuns, sejam customizadas, restauradas ou modificadas
“Eu tenho a bicicleta/que é mesmo envenenada/quando passo pela rua, um monte de garotas ficam logo assanhadas/ Não gasto gasolina/na minha condução/quando passo na esquina tem uma fila de meninas pra ganhar meu coração.” Em 1983, a lenda do brega Ismael Carlos já sacava qual é a das bikes customizadas: ter uma dessas não é uma questão de locomoção, mas de estilo. Ganhar o coração de uma fila de meninas (e meninos) é consequência.
Pedro Lino, 19 anos, é aprendiz. Paulo Henrique, 37, é veterano. Em comum, além dos óbvios laços profissionais, forjados a maçarico e aço na garagem de uma oficina de customização, eles têm a paixão pela criação, restauração e modificação de bicicletas. Em uma cidade pintada de ciclorrotas e cheia de ciclistas multicoloridos em seus capacetes lustrosos e roupas coladas, não há muitas bikes diferentonas rodando. Logo, chamam a atenção quando passam, guidãos extraordinários, quadros rebaixados, bancos exóticos. Na Praça CEU, em Benfica, às vezes é possível vê-los em grupo.
“Eu só observava, nem sonhava que eu mesmo aprenderia a fazer”, conta Pedro sobre a atração que as magrelas exóticas lhe causavam. Foi começar a trabalhar com Paulo Henrique na Hot Silveira Customs e ele viu que seria possível. O veterano lembra bem de quando fizeram a primeira, rapidinho. “Falei com o Pedro, ‘vamos fazer uma bicicleta agora’. E pegamos pedaço de mesa, resto de escapamento, tubo… lixão mesmo.” E no fim do dia estava pronta, uma bitela com 2,20m de comprimento. O acabamento, confessam, foi feito depois.
Restaurar, modificar…
Paulo lembra que há diferença entre as possibilidades de atuação do customizador em um projeto. “Uma coisa é pegar e fazer do zero, como fizemos nessa do Pedro e em alguns outros trabalhos. A outra é a restauração, que é pegar uma bicicleta antiga, como essa Raleigh do fim da década de 1940 na qual estou trabalhando. E uma terceira via é a da modificação, que é pegar uma bicicleta já existente e alterá-la, alongando o quadro, rebaixando… enfim, moldando a magrela ao seu estilo.” Segundo ele, as Monark Barra Forte e Caloi Ceci são as prediletas para esse último tipo de customização, pela facilidade que proporcionam ao customizador.
Para passear e trabalhar
Embora o foco principal seja no estilo, as bicicletas customizadas também vão muito bem no dia a dia, obrigado. Quem garante é Pedro, que possui duas: aquela feita a partir do “lixão” da oficina e uma Caloi 100 modificada e dotada de motor dois tempos de 80 cilindradas. “Uso todo dia para trabalhar, para lazer também.” Paulo adverte que o conforto não é o mesmo. Com as modificações, surgem certas limitações. “Não é uma bike para andar em estrada de chão, por exemplo, nem ficar pulando do meio-fio.”
Acostumado a customizar motocicletas e carros em sua oficina, embora tenha começado justamente com as bicicletas, Paulo Henrique admite que a procura pelas bikes é a menor. Nem tanto pelos custos. “O cara pode gastar R$ 5 mil em uma customização, até R$ 10 mil, dependendo do que quer fazer. Mas também pode gastar R$ 500, isso varia de projeto para projeto, se é restauração, modificação, criação, que tipo de acabamento, de pintura… as variáveis são muitas.”
Hobby
É muito comum que jovens ciclistas, se têm um pouco de criatividade e intimidade com a funilaria, façam eles mesmos a transformação de suas magrelas, mesmo que não sejam especialistas na matéria. É o caso de Yuri Debortoli, 22 anos. Acostumado desde cedo a fuçar as próprias bicicletas junto com o irmão mais velho, Thiago, Yuri se inspirou em bikes que via na internet. “Juntou a fome com a vontade de comer. Já gostava de bicicletas mesmo, montava e desmontava com meu irmão. Para customizar foi um pulo”, conta.
Pelas suas contas, Yuri já montou umas quatro ou cinco bicicletas. Monta, curte um tempo, passa para frente, depois monta outra… por puro prazer. A última bike que Yuri modificou, uma Caloi Ceci, quebrou o quadro na semana passada. “Está lá em casa parada, mais pra frente eu vou refazê-la”, conta o ciclista que agora também é motociclista. E vai largar a bicicleta pela moto em definitivo? “Ah, isso aí não tem jeito não. A gente gosta demais pra largar.”
Agora um pouquinho de Ismael Carlos para vocês 😉