Projeto incentiva restauração ambiental e produção de alimentos em territórios indígenas de Minas

Iniciativa Hãmhi – Terra Viva já implementou viveiros em escolas indígenas e reflorestou 150 hectares de Mata Atlântica em mais de um ano de atuação no Vale do Mucuri 


Por Nayara Zanetti

11/10/2025 às 06h00

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(Foto: Hãmhi – Terra Viva/ Divulgação)

A região do Vale do Mucuri, localizada no Nordeste de Minas Gerais, abriga quatro territórios do povo Tikmũ’ũn, com 2.585 pessoas falantes da língua Maxakali: a Terra Indígena Maxakali, a Aldeia Verde, a Cachoeirinha e a Aldeia-Escola-Floresta, distribuídas entre os municípios de Bertópolis, Santa Helena de Minas, Teófilo Otoni e Ladainha. De acordo com dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), esta região é uma das que mais aqueceu nos últimos anos por ser berço de várias bacias hidrográficas. No entanto, os impactos do desmatamento e da degradação ambiental no vale geram problemas ligados à insegurança alimentar e injustiça ambiental. Com o objetivo de transformar essa realidade, o projeto Hãmhi – Terra Viva, coordenado pelo Instituto Opaoká, realiza ações de restauração ambiental e produção de alimentos com o povo Tikmũ’ũn, unindo saberes tradicionais aos princípios da agroecologia. 

As atividades tiveram início em junho de 2023 e já foram implementados três viveiros-escola, que funcionam como espaços educativos e de produção de mudas nativas da Mata Atlântica; 150 hectares de áreas reflorestadas; 98 quintais agroflorestais, totalizando 60 hectares; e 100 mil mudas plantadas. Além disso, o projeto também formou 30 agentes agroflorestais e 16 viveiristas, capacitados para atuar no plantio, manejo e produção de mudas, assim como na coleta e beneficiamento de sementes. A proposta é de que todas essas ações resultem na produção de alimentos e na proteção de florestas, fortalecendo práticas comunitárias de educação ambiental e etnodesenvolvimento. 

Além da soberania alimentar e da preservação ambiental, o projeto Hãmhi pretende produzir planos de gestão ambiental que possam servir como modelo para outras regiões, criar uma brigada indígena para prevenção de incêndios florestais nos territórios indígenas, recuperar nascentes e criar uma Escola Hãmhi de formação profissional em agrofloresta. Ao final serão implementados 60 hectares (ha) de Sistemas Agroflorestais e 300 ha de áreas de reflorestamento. 

“Hämhi semeia alternativas para a juventude Tikmữ’ūn e a juventude do campo com geração de renda nos territórios e produção de alimentos saudáveis. Ao mesmo tempo, engaja a juventude na principal tarefa do século: o enfrentamento à crise climática”, afirma a cartilha do projeto. 

Agentes agroflorestais Tikmũ’ũn 

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(Foto: Hãmhi – Terra Viva/ Divulgação)

Os Tikmũ’ũn pensaram coletivamente, em oficinas de etnomapeamento, seus territórios e produziram e aplicaram os conteúdos da gestão territorial e ambiental relacionando seus próprios conhecimentos com os saberes das demais culturas. Os cursos para formar agentes agroflorestais são práticos, aliando conhecimentos ancestrais e dialogando com conceitos e técnicas do saber acadêmico sobre o manejo do meio ambiente. 

Os cursos, oficinas e assessorias acontecem nas aldeias. A formação conta com a participação de assessores técnico-educativos permanentes e pontuais, selecionados segundo a especificidade da atividade. Os diários de pesquisa e relatórios dos Agentes Agroflorestais Tikmũ’ũn são acompanhados pela equipe. Em parceria com a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Instituto Federal de Minas Gerais (IFNMG) esta ação pretende contribuir com a regulamentação de uma Formação Profissionalizante de Ensino Médio para os Agentes Agroflorestais Tikmũ’ũn. 

Os viveiros-escola 

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(Foto: Hãmhi – Terra Viva/ Divulgação)

Os viveiros-escola são descritos pelas mulheres Tikmũ’ũn como o “útero da floresta”, e as mudas como crianças que necessitam cuidado. Os viveiros acolhem mudas dos parceiros da iniciativa, como Instituto Estadual de Florestas, Instituto Cabruca, Programa Arboretum,  e garantem, com a produção de novas mudas, a sustentabilidade do projeto. A participação das mulheres Tikmũ’ũn como viveiristas, que chegam acompanhadas de suas crianças para as atividades de cuidado com as mudas, fortalece o potencial educativo destes espaços. Os viveiros-escola foram implementados com a parceria do CNPq, das Escolas Maxakali e das prefeituras das localidades onde se encontram. 

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