O vinho e a força na Europa!

Na coluna desta sexta, Marcelo Sepúlveda conta um pouco da história do vinho

Por Marcelo Sepulveda

Os primeiros registros de uma vitivinicultura eficaz e de qualidade foi no Egito. Pinturas em argila frescas (pictogramas) mostram todas as etapas de um processo de produção, do plantio ao armazenamento em recipientes de barro denominados ânforas. Com tal qualidade, os vinhos egípcios passam a ser consumidos nas altas camadas sociais, tornando-se um produto da elite. Além disso, ganha status comercial e começa a ser desejado em outros rincões.

Nesse contexto, os fenícios, exímios navegadores e comerciantes, exercem através do mar mediterrâneo, um papel fundamental. Na Grécia, a viticultura e a enologia se aprimoram. Registros antigos relatam que os gregos já cultivavam vários tipos de uvas e produziam diversos vinhos. Com notório saber descreviam aromas e sabores, faziam analogias com frutas e flores e eram tão minuciosos que poderiam escrever hoje para qualquer revista especializada sobre o tema!

Os simpósios promovidos pelos pensadores gregos tinham no vinho um ingrediente indispensável nas discussões filosóficas. E não poderia ser diferente, uma vez que a leve embriaguez levava à lucidez, segundo a crença grega. Sócrates dizia: “Rápido! Traga-me uma taça de vinho para que eu diga algo inteligente”. Dessa forma, Egito e Grécia se tornam o berço da vinicultura e enologia antigas e suas práticas são utilizadas até a atualidade em vários cantos do planeta.

A força do Império Romano faz a vitivinicultura ampliar seus territórios. Hoje praticamente toda área conquistada pelos romanos se tornou países grandes produtores e com altíssima qualidade. Foram eles que, ao reconhecer melhores regiões de plantio e observando o solo e o clima, passaram a dar forma aos primeiros conceitos de terroir. Este mesmo povo também substituiu as ânforas por recipientes de madeira, desenvolveu as primitivas garrafas e as primeiras ideias de “envelhecimento” ou “guarda” para vinhos muito especiais.

O vinho Falerno foi um dos mais cobiçados a partir do segundo século depois de Cristo. De fato, o Império Romano promove uma vitivinicultura poderosa e abundante e grandes vinhos começam a surgir. No entanto, foi com a decisão do Imperador Teodósio (380 d.C) em reconhecer o cristianismo como religião oficial do Império que o último elo se fecha, e a cultura do vinho recebe impulso nunca antes visto, para alguns séculos depois, se projetar ao redor do planeta.

Com o declínio do Império Romano e agora sob o domínio do Império Sacro Romano, a Igreja Católica assume uma missão mais do que espiritual. Neste período, o vinho reina e quase todas as igrejas têm seu próprio vinhedo, sendo seus monges excepcionais vinhateiros. As ordens monásticas faziam intercâmbio de monges por várias regiões da Europa e assim, durante séculos, com o constante aperfeiçoamento da viticultura aliada às melhorias nas práticas enológicas, o vinho definitivamente assume sua posição de protagonismo.

Da Europa feudal surgiram vinícolas que até hoje oferecem grandes e famosos vinhos. Só pra citar alguns: o lindo Château Goulaine (Vale do Loire- França), que produz vinhos brancos; o castelo Barone Ricasoli (Toscana-Itália), que produz o maravilhoso Chianti; e o Schloss Johannisberg (aldeia de Johannisberg-Alemanha) com produção de vinhos brancos da uva Riesling.

Na idade moderna, portugueses, espanhóis e ingleses expandem suas fronteiras com naus carregadas de mudas para serem plantadas em terras conquistadas. Então, quando observamos a expressão Novo Mundo, nada mais é do que uma referência às regiões produtoras de vinho fora do berço europeu, também conhecido como Velho Mundo.

Hoje passeamos um pouco pela história da solidificação da cultura enológica da antiguidade até a idade moderna. No nosso próximo encontro, abordaremos a chegada do vinho ao Brasil, as primeiras regiões por aqui cultivadas, as dificuldades iniciais e personagens que transformam o processo viticultor no Brasil.

 

 

Marcelo Sepulveda

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