A chegada ao Brasil

Por Marcelo Sepulveda

Com as grandes navegações, os portugueses rumam para o sul em suas caravelas, e o vinho tem seu lugar de destaque. Estima-se que 65 mil litros de vinho teriam sido embarcados com Cabral rumo à Ilha de Vera Cruz. Todo esse vinho serviria para cozinhar, higienizar alimentos, celebrações eucarísticas a bordo e não menos importante proporcionar, digamos, “hidratação da tripulação”.

Por aqui, em Coroa Vermelha- Porto Seguro, o Frei Henrique Soares de Coimbra celebra a primeira missa – marco inicial da conquista do Brasil – e todos juntos, os colonizadores com fermentado de uva, o vinho; enquanto os colonizados com Cauim, bebida alcoólica feita do fermentado da mandioca, “celebram brindando”.

Em 1532, as primeiras mudas das uvas europeias desembarcam no Brasil, trazidas por Martin Afonso de Souza, que estabelece uma série de práticas agrícolas na, então, capitania de São Vicente. No entanto, foi o fidalgo Brás Cubas, fundador da cidade de Santos quem se destaca na vinicultura por aqui, sendo, até hoje, reconhecido como o primeiro viticultor brasileiro. Mas os vinhos da baixada santista não empolgavam muito e, então, Brás Cubas, em busca de novas possibilidades de plantio, sobe a serra do mar e concentra suas plantações próximo a um riacho chamado Tatu-apé, não tão distante do rio grande que hoje é chamado de rio Tietê.

Favorecidas pela altitude e amplitude térmicas, as castas (uvas) Vitis viníferas começam a se desenvolver, e os vinhos paulistanos ganham força. Documentos apontam que, nesta mesma época, videiras teriam sido introduzidas na costa do Nordeste pela ocupação portuguesa, mas é incontestável que o berço da vinicultura brasileira tenha sido em São Paulo.

No começo do século XVII, as primeiras mudas de uvas europeias (Vitis viníferas) são plantadas em São Nicolau- Rio Grande do Sul – levadas pelos jesuítas, mas, com dificuldade de adaptação, levaram mais de cem anos para que a vitivinicultura começasse a “engatinhar”, isso graças a chegada de dezenas de famílias vindas de Açores e Ilha da Madeira que aprimoram as técnicas de plantio e manejo.

Com a chegada da família Real, em 1808, o consumo de vinho no Brasil ganha a “Corte”, e a importação de vinho da Europa ganha “corpo”. Acelera-se a migração europeia e um novo nome surge no cenário da viticultura do Rio Grande do Sul, o inglês Thomas Messiter, que, por volta de 1840, introduz a uva americana Isabel, da espécie Vitis Labrusca que, por ser mais resistente a pragas, teve sua difusão vitoriosa através do Rio Grande do Sul e, mais tarde, essa espécie iria cumprir um papel quase messiânico na história da vinicultura mundial; mas isso falaremos no próximo encontro!

Grandes nomes contribuíram para a história e o desenvolvimento da cultura vinícola no Brasil, mas um nome que ao meu ver tem um lugar de destaque é Celeste Alexandre Gobbato, um italiano do Veneto, agrônomo, enólogo, professor e escritor. Foram tantas suas contribuições que fizeram o Rio Grande do Sul se despontar no cenário enológico brasileiro. Suas técnicas aplicadas com acompanhamento in loco deram tanto resultados que fizeram da região sul do país o modelo a ser seguido. Não por acaso, hoje o sul produz 90% de todo vinho fino nacional. Celeste Alexandre Gobbato torna-se, definitivamente, o pioneiro na vitivinicultura moderna no Brasil.

No próximo encontro, nosso olhar será sobre a “pandemia” que quase extingue toda a evolução vinícola construída ao longo de mais de 8 mil anos.

Abraços e até breve!!

Marcelo Sepulveda

Marcelo Sepulveda

A Tribuna de Minas não se responsabiliza por este conteúdo e pelas informações sobre os produtos/serviços promovidos nesta publicação.

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade pelo seu conteúdo é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir postagens que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.



Leia também