Quando Danyela Silvério tinha 13 anos, seus pais se separaram e, na escola, recomendaram que ela participasse de uma das atividades eletivas para enfrentar o momento. Na época, sua mãe, que já tinha visto a filha passar poucos meses em aulas de ginástica olímpica, nação e teclado, logo avisou o professor que Danyela poderia participar, mas que não era para ele “contar muito” com a participação dela. A menina ficou, então, durante um ano inteiro apenas ajudando na realização dos espetáculos, até que ao mostrar seu comprometimento conseguiu o primeiro papel de sua vida: o de uma árvore. Foram 13 anos de participação nesse mesmo grupo da escola, em que depois ela passou a ministrar oficinas. Desde então, também já são muitos anos se dedicando aos aprendizados das artes cênicas, participando de festivais, dando oficinas para crianças e se especializando. Fundou até a sua própria companhia, a Cia Formô!, junto com amigos, e se tornou presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Juiz de Fora (APAC). Para ela, o teatro foi um verdadeiro encanto, do qual não pôde e nem nunca quis escapar.
Hoje se lembra bem do que a fascinou naquela atividade. “Adorei o clima, estar no palco, conhecer os personagens. Existe quem você é mesmo, de verdade, mas o teatro te permite experimentar coisas que não são você, e isso é muito bacana. Estudar aquele personagem, ver o que está acontecendo, entender a história e experimentar nuances que não viveria na sua vida cotidiana é muito intenso”, reflete. Foi por isso que continuou querendo estar na área, e passou a fazer cursos para além do grupo para aprender mais. No momento do vestibular, no entanto, não pôde prestar para artes cênicas porque não era oferecido em Juiz de Fora, e decidiu fazer pedagogia, outra área que tinha muito apreço. “Estar no chão da escola é algo que eu amo, e que dá várias possibilidades. Gostava desde pequena também dessas brincadeiras de escolinha, sabe? Quando descobri que podia aliar as duas coisas, foi ótimo.”, conta.
Trabalhar com crianças faz com que sua rotina sempre seja repleta de novidades, ainda mais dando aula do quarto ao nono ano do Ensino Fundamental. Como explica, são públicos bem distintos, e espaços de criação que também variam. “É muito divertido, principalmente a parte de entender a construção que eles fazem a partir do que você propõe, as discussões que acontecem lá dentro e a forma que eles enxergam as coisas. A gente vai vendo como eles vão colocando o teatro dentro de si”, diz. Gosta principalmente de ver como, a partir de uma ideia aparentemente simples, por exemplo a cena em uma loja, surgem “meteoros, larvas saindo do chão e outras ideias mirabolantes”. Paralelo ao trabalho como professora, sempre trabalhou como atriz, e foram vários papéis que a marcaram desde então, principalmente aqueles que a provocaram de alguma forma, como no caso da árvore, e também quando dirigiu uma peça pela primeira vez ou quando foi trabalhar em outra cidade como atriz.
O teatro lhe trouxe diversas experiências, e entre elas, também veio o aprendizado do tambor, através de um convite feito por Lucas Soares, do Ingoma, que estava cuidando da parte sonora de um espetáculo que ela atuava. Também nesse caso, o que parecia ser mais uma atividade também se tornou algo duradouro, tendo participado de 2009 até 2017 e retornado recentemente para o grupo. A vontade de compartilhar o que gosta surgiu novamente. “A escola perguntou se eu podia trazer a vivência do tambor para a instituição, e eu disse que podia tentar. Para mim, ensinar vai passando muito por esse viés de ter um conhecimento e perceber que, se fez tão bem para mim, pode fazer também por outras pessoas.”
Além do fim da mesa
Após ocupar diferentes posições dentro do teatro, como atriz, produtora e diretora, ela enxerga que há uma espécie de energia que envolve os espetáculos que faz com que ela se atraia pelo processo. “É complexo pensar em todos os detalhes, dar conta da divulgação do espetáculo, planejar o figurino, imaginar formas de ornar a paleta e como colocar o personagem em cena. Mas tudo me encanta. Se as pessoas soubessem como é bonito isso, acho que elas veriam a gente de forma diferente. Se entendessem como funciona tudo em volta, daria um salto de percepção”, diz. Para ela, se trata de um processo em que todas as peças estão conectadas. “Eu sou aquela pessoa que, se não está no espetáculo, e vai ficar na portaria recebendo as pessoas, eu gosto. E gosto mesmo, muito. Fico vendo as pessoas chegarem, gosto de ver a movimentação, fico observando como meus amigos estão se apresentando”, reflete.
Gosta tanto de entender esse processo que, um dia, planeja também fazer uma peça que conte os bastidores de um espetáculo, abordando o “antes da apresentação, as coxias mais loucas e cheias de correria e o cenário todo marcado”. Para além do trabalho, no entanto, acredita na possibilidade do teatro em ver distante. “Eu sempre falo que o artista não olha para o que está no final da mesa, vê muito além do que está ali. Essa ampliação da visão sempre me atraiu”, conta.
Enfrentando os desafios
O que Danyela gosta mesmo é de estar no palco, ver o olhar das pessoas para o que ela faz e conseguir transportar toda a plateia para lugares distantes através do que está fazendo. Mas, para conseguir isso, é preciso de diversos elementos: valorização da profissão, uma estrutura adequada, espaços em que os trabalhadores consigam se apresentar e um público que consiga ver os espetáculos. É por isso que, além de exercer tantas funções dentro do teatro, também escolheu assumir a presidência da APAC, tomando para si a responsabilidade de tentar melhorar essas condições e de pensar em um teatro popular em Juiz de Fora.
Para ela, produzir na cidade ainda é uma função repleta de desafios, inclusive custos altos, mas é preciso fazer o possível para mudar isso. É algo que, como admite, causa bastante cansaço – mas entende que não está fazendo só para ela. Percebe inclusive que é uma possibilidade de união entre os trabalhadores dessa área, para superarem os desafios em comum que existem. Isso é o que a move. “Acho que é a possibilidade de ser mais. É enxergar que a gente pode mais, que é uma cidade muito grande para a gente não fazer nada. Então acho que a gente precisa fazer. É sobre esse olhar do artista enxergar para além da mesa, que me faz querer continuar e acreditar que as coisas vão para frente.”